LULA EM CAMPANHA EM SÃO BERNARDO DO CAMPO, NO ÚLTIMO 06 DE OUTUBRO.
Brasileiro adora contradição. O jeito "o médico e o monstro" de ser não se trata necessariamente de alternância entre um indivíduo pacato e agressivo, mas de posturas bastante diferentes, como se a contradição fosse uma suposta demonstração de versatilidade carregada de equilíbrio. Uma falácia de que "ninguém deve ser sempre o mesmo", e, por isso, aceita-se numa boa que alguém seja uma pessoa em dado momento e outra em outro.
Isso se observa em muitas coisas. Ultimamente, o que se vê é um Lula se "contorcendo" na campanha para tentar juntar o "Lulinha Paz e Amor" que fala com o empresariado e o setor financeiro e um arremedo do antigo "Lulão dos sindicatos" que não existe mais, sendo apenas um "holograma" do antigo líder sindical que Lula foi há cinco décadas.
Lula mudou de lado, sim, o arremedo de sindicalista é apenas uma pálida lembrança daquilo que foi e não existe mais, que todavia insiste em continuar sendo sem ser de fato. Com a pior campanha de todos os presidenciáveis deste ano, Lula não abre o jogo, atua de maneira desonesta e sem a sinceridade cantada pelo hino de sua campanha, e se apoia mais no seu carisma e nas relativas realizações de seus bons governos, só que exagerando nas virtudes daquilo que ele fez nos dois governos anteriores.
Dois erros gravíssimos Lula cometeu. Menosprezou a concorrência, se impondo como "candidato único" contra Bolsonaro. Isso lhe fez até mesmo boicotar o debate do SBT / CNN e investir num comício de rua, "estrategicamente" marcado para "chocar" com o horário do debate televisivo.
Além disso, Lula não divulga claramente suas ideias, preferindo fazer promessas genéricas e fantásticas, sem considerar se há ou não condição para realizá-las nem dizer em que maneira elas assim se farão cumprir. Na campanha do primeiro turno, Lula cometeu o erro grosseiro de cancelar o texto final de seu programa de governo.
Agora Lula se alimenta do seu carisma e dos feitos do passado. Foi como ele disse para uma repórter da revista estadunidense Time, pedindo aos eleitores para, em vez de perguntarem o que ele vai fazer, prestem atenção no que ele fez. Desculpa para elaborar um novo programa, necessário para um contexto diferente do Brasil de 2003-2006 e 2007-2010.
E aí vemos duas coisas se somando ao festival de equívocos de Lula, tão grande mas tão imperceptível pela maioria de seus fanáticos seguidores. Uma é que a mídia de esquerda agora acusa de "autoritárias" as cobranças da grande mídia para que Lula apresente propostas claras sobre Economia e indique um possível ministro para sinalizar de que lado conduzirá as medidas econômicas.
Enquanto isso, Lula tenta encenar no seu retorno à campanha de rua, com a caminhada e comício em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, no último dia 06. Lula tenta dar a impressão de que continua esquerdista, mesmo com um "banho" de alianças com o tucanato, com a Faria Lima, com os grandes banqueiros.
Já em Belo Horizonte, no último domingo, Lula continuou fazendo clima de festa, erro primário de sua campanha, quando deveríamos ter cautela com a situação do nosso Brasil. Não dá para fazer Carnaval num momento de distopia. O bolsonarismo não morreu, e o golpe político de 2016 não foi extinto. Para piorar, boa parte dos golpistas de 2016 está com Lula, e não é por arrependimento, porque eles até agora não demonstraram um.
Fala-se vagamente que os golpistas de 2016 apenas se "decepcionaram" com Bolsonaro e viam que o país "não gerou empregos nem renda". Mas nenhuma autocrítica, nenhum pedido de desculpas, foi feito. Tudo parece rápido, repentino e fácil demais. De repente os apóstolos do Estado Mínimo e a patota da Privataria Tucana (PT?) estão com Lula, fingindo estarem encantados com suas promessas de fortalecer o Estado e revogar o teto de gastos públicos.
O mais contraditório é que as elites estão apoiando Lula, mas os seguidores fingem que isso não ocorre. Afinal, "elites" agora são apenas a escória associada diretamente ao bolsonarismo ou alguns políticos ressentidos das gerações jovens do PSDB e do Novo.
Lula esconde o jogo de seu programa de governo. Se alia aos mais ricos. Usa e abusa do termo "democracia", uma palavra tão abstrata que hoje é usada para justificar um pretenso esquerdismo "qualquer nota". E Lula demonstra ser neoliberal, um tucano por procuração, mas esconde do seu eleitorado que mudou de lado, que não é mais o esquerdista de outrora, cujos últimos vestígios foram extintos em 2021.
Por isso, cria-se uma narrativa de que Lula, ao mesmo tempo que arruma apoio do empresariado e do setor financeiro que são a nata do neoliberalismo, está "assustando as elites" por (supostamente) continuar sendo o "grande líder sindical que sempre (sic) foi". E assim segue a contraditória campanha de Lula, num Brasil que confunde contradição com equilíbrio.
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