Se o debate exclusivo com Jair Bolsonaro é o debate dos sonhos de Lula, que menosprezou, no primeiro turno da campanha presidencial, competir com a Terceira Via, então o petista tornou-se vergonhoso com seus erros insistentes.
É verdade que Jair Bolsonaro, com sua truculência, acaba sempre se saindo pior, mas como o presidente que busca se reeleger não está aí em ser querido por todos, ele tem a estratégia de desprezar a própria popularidade, embora tenha a habilidade de trabalhar a visibilidade com mais astúcia do que Lula, que neste caso é o que erra mais.
Aí vemos o Debate da Band, ocorrido ontem, o primeiro só com os dois, com a "polarização dos sonhos" de um Lula que sempre se impôs como "candidato único", mesmo antes de se oficializar a campanha eleitoral. Mesmo quando pré-candidato, Lula entrava em clima de "já ganhou" e subiu no "salto alto", mas fingia que tais defeitos eram apenas de seus seguidores, não dele, que foi e é o que mais comete.
O Debate da Band foi o primeiro ocorrido no segundo turno na campanha presidencial, nesse pequeno período de quatro semanas para a votação final para os cargos de governador e presidente da República que não conseguiram a diferença necessária para a vitória em primeiro turno, que é a metade dos votos válidos do primeiro para o segundo colocado somada a um.
Lula e Bolsonaro se preocuparam mais em trocar acusações um contra o outro e desmentir a respectiva acusação alheia. Assuntos sobre Economia e Educação não foram devidamente abordados, e ambos os candidatos pecam pela falta de propostas claras e consistentes para melhorar o Brasil.
Os dois candidatos podem ter suas diferenças específicas, que, realmente, não são poucas. Mas ambos se assemelham pela vocação do entretenimento, buscando conquistar o eleitorado pelo apelo emocional, enquanto racionalidade é o que não há na campanha eleitoral deste ano. Quem tentou algo no sentido racional, dificilmente foi eleito. Valéria Monteiro e Alexandre Frota buscaram conquistar o eleitorado com ideias, e não foram eleitos.
Nem precisamos falar de Jair Bolsonaro como um perfil político, que é chover no molhado. Sabe-se do seu padrão extremo-direitista, com as confusas bandeiras do moralismo sem moral. A única quase novidade no Debate da Band é que, como espectador, o senador eleito Sérgio Moro, o ex-juiz da Operação Lava Jato, virou o dublê de "padre Kelmon" no sentido de respaldar Bolsonaro, o qual voltou a apoiar depois de um período de relações rompidas.
Lula, que deveria dar seu exemplo, é o que merece comentários, pelo fato dele não oferecer aquilo que prometeu. Ele cometeu erros diversos, como colocar um opositor de sua causa para ser vice da chapa presidencial - o que trará uma diferença bastante negativa quando o titular viajar, pois Geraldo Alckmin não se identifica naturalmente com o projeto político de Lula e, quando muito, só cumprirá as decisões deixadas previamente pelo petista - e não finalizar o texto do programa de governo.
Lula quis forçar muito a barra como pretenso "candidato único", que promete "recuperar a democracia" mas atropelando a mesma, sempre ancorando sua campanha impondo uma vitória através da supervalorização dos duvidosos institutos de pesquisa, e os apelos neuróticos da mídia progressista pela "eleição urgente" do petista, inclusive com termos fortes como "eleição plebiscitária", "disputa entre civilização e barbárie", "escolha entre democracia e ditadura".
Não que Bolsonaro não fosse uma ameaça, mas foi constrangedor e vergonhoso ver Lula nesse papel patético de impor a sua vitória eleitoral, em vez de ter habilidade para conquistá-la. Com uma campanha cheia de erros, Lula fez tantas concessões à direita que seu antigo esquerdismo desapareceu por completo, eliminando o que restava desse horizonte ideológico que havia até 2020.
Lula preferiu ser um fenômeno de mídia, mais pelo apelo sentimental de seu mito, com atribuições pretensamente divinas e paternalistas, o que pode ter dado certo num dado sentido, quando o petista se torna favorito mais como um misto de celebridade, mito e usando os dois mandatos anteriores como "carteirada".
Se vendendo como a antítese de Bolsonaro, Lula não se tornou um candidato consistente e mesmo as esperanças dos esquerdistas de raiz, a de que o "Lulão dos sindicatos" reviva na figura do presidente da República, são praticamente impossíveis devido aos compromissos que o petista assumiu com a direita moderada.
Diante dessa realidade, Lula decepcionou e muito, apesar de oferecer vantagens em relação ao truculento e desastroso Bolsonaro. E os dois, no Debate da Band da corrida presidencial, apenas provaram que suas campanhas fizeram a política se submeter à "sociedade do espetáculo", como nas constrangedoras polarizações da campanha presidencial dos EUA. Menos propostas, menos ideias, menos racionalidade e mais emoção e sensacionalismo. Lamentável.
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