Vendo um vídeo do crítico musical Régis Tadeu sobre o breganejo Gusttavo Lima, logo percebi que esse papo de que o comercialismo da música popularesca é "não-comercial" não passa de cascata. A pretensa inversão dos conceitos de "comercial" e "não-comercial" por um público idiotizado mas autoritário nas redes sociais não passa de conversa para boi dormir, uma grande ilusão na qual os interesses comerciais se tornam ainda mais evidentes.
Sabe-se que, nessa inversão, o que é realmente comercial é creditado como "não-comercial". Como, por exemplo, o pop juvenil coreano (k-pop), a pisadinha e o "funk". A desculpa usada é que seus sucessos musicais, por tocarem nas rádios durante o cotidiano de seus fãs, supostamente falam de "coisas da vida comum" desse público. Exemplo disso é canção de pisadinha falando de namoro encerrado através de mensagens de WhatsApp.
Em contrapartida, esse público arrogante acusa o que realmente não é comercial de "comercialismo". Tipo, por exemplo, a briga de ex-membros de uma banda de rock clássico dos anos 1970 pelo uso do nome para excursões ou relançamento de discos. Ou, no Brasil, o caso da briga dos dois remanescentes da Legião Urbana, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, com o filho de Renato Russo, Giuliano Manfredini, pelo uso do espólio da antiga banda.
Pois esse papo furado que só serve para estimular a arrogância desses jovens que comandam o Tribunal da Internet - órgão do Supremo Tribunal do Umbigo - , se achando os "donos da verdade", achando que a realidade tem que submeter a seus caprichos e impressões. E convicções, mesmo as mais absurdas.
Pois mesmo quando há o suposto "não-comercialismo" dos ídolos comerciais, há estratégias comerciais por trás. Régis Tadeu mencionou uma estratégia que Gusttavo Lima utiliza, que é de evitar redes sociais, fazer sumiços estratégicos e não aparecer na TV, que é algo supostamente anti-comercial, mas que tem como finalidade evitar a superexposição.
Daí que a gente percebe o quanto o chamado show business é complicado, num cenário em que o jabaculê musical saiu do rádio FM (onde o grosso da corrupção financeira envolve, ultimamente, o futebol) para invadir os meios acadêmicos ou estabelecer ações estratégicas e até inusitadas.
Aí percebemos o quanto é papo furado o cantor do Art Popular, Leandro Lehart, se autoproclamar "alternativo" ou influenciadores digitais tratarem o compositor Michael Sullivan como "vanguarda". Tudo cascata. Tudo é fruto de um processo de gourmetização da música popularesca para torná-la mais perene e permanente, tudo lançando mão de mentiras para fazer o público acreditar que os sucessos popularescos são "relíquias culturais".
Isso é estratégico na hora de criar uma onda saudosista, na qual até mesmo o grotesco É O Tchan é vendido como se fosse "vanguarda". No passado, ídolos popularescos sumiam da mídia e do mercado com o fim de seus respectivos modismos, e voltavam forjando coitadismo, fazendo pose de vítimas, dentro daquela coisa do "combate ao preconceito". Tudo jogo de cena.
Essas são apenas manobras do show business brasileiro e sua elite de empresários de diversos setores, da mídia ao agenciamento de ídolos. Todos dotados de um cinismo e uma falta de caráter capazes de fazer propaganda enganosa, alimentando um "brega vintage" que soa mais como um ferro-velho pintado de ocre para parecer ouro falsificado. E tudo isso pela ganância do dinheiro, dos interesses comerciais que se alimentam até da mentira do "não-comercialismo" para impressionar os incautos.
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