São dois pesos e duas medidas. As esquerdas médias andam decepcionando dia a dia, de maneira vexaminosa e preocupante, a ponto de garantir que personalidades consideradas politicamente mortas como Damares Alves, Sérgio Moro e Ricardo Salles fossem eleitas para cargos legislativos.
Pois essa desigualdade de medidas atinge personalidades como Geraldo Alckmin e Alexandre Frota, em papéis trocados na avaliação dos esquerdistas médios, mais voltados aos festejos identitários e que, por acidente, acabam atuando sem querer como verdadeiras linhas auxiliares de Jair Bolsonaro. Vide o grande fiasco do Movimento Fora Bolsonaro, mais uma micareta do que um protesto popular.
Geraldo Alckmin nunca fez uma autocrítica quando tornou-se vice de Lula. Ele nunca reviu seus valores, nunca prestou contas com a sociedade, nunca deu um pedido de desculpas à população pela repressão aos protestos de estudantes, professores e proletários, e nenhum pedido de desculpas quanto ao massacre de Pinheirinho, em São José dos Campos, ocorrido há dez anos sob ordens do então governador de São Paulo, acatando pedido de reintegração de posse do corrupto empresário e especulador financeiro Naji Nahas.
Já Alexandre Frota foi acusado de ser ator canastrão, de ter feito baixarias como ator pornô, de ter virado subcelebridade, de ser oportunista. Sim, Frota teve uma fase em que errou feio. Foi machista, apoiando o "funk" e a sexualização das mulheres-objetos.
A jornalista Bia Abramo, filha de Perseu Abramo e ex-repórter da revista Bizz, passou o pano na "Enfermeira do Funk", criticada pelas profissionais de Enfermagem, acusadas pela jornalista de expressarem um "horror moralista" diante do sucesso do "funk". O caso é descrito no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes.... Frota era empresário da tal "Enfermeira".
Frota foi apoiador de Jair Bolsonaro e havia sido um reacionário histérico. Foi um dos nomes que se arriscaram pela "política da não-política", como aventureiros parlamentares. Atacava figuras de esquerda de maneira irresponsável. Mas com o tempo o ex-ator mudou completamente.
Alexandre Frota fez autocrítica, admitindo e assumindo seus erros, teve boa vontade de pagar processos judiciais contra ele movidos pelas vítimas dos comentários grosseiros do ex-ator. Passou a se opor a Jair Bolsonaro e, mesmo com imperfeições, tornou-se, aos poucos, progressista, passando a defender valores altruístas e levar a política a sério. E demonstra isso com sinceridade e coragem ímpares.
Nessa comparação, quem é que levou a melhor? O político que "lavou as mãos" e não pediu desculpas por mandar destruir um bairro popular, ou o ex-reaça que fez autocrítica e resolveu mudar de verdade?
Vemos Sérgio Porto se agitando no além-túmulo, pois a resposta é digna de um FEBEAPÁ, Festival de Besteiras que Assola o País. Quem levou a melhor foi justamente Geraldo Alckmin, que de forma surreal passou de um insosso sem-votos para um "queridinho" das esquerdas médias.
Enquanto Alexandre Frota é derrotado nas urnas na sua tentativa de se candidatar a deputado estadual, Geraldo Alckmin garante vantagens eleitorais a um Lula desfigurado e rompido com o esquerdismo, um Lula mais próximo dos escritórios da Faria Lima do que do chão de fábrica do ABC paulista.
Alckmin nem parece que mudou. Eu leio as mensagens dele, supostamente progressistas, e ele mais parece um papagaio reproduzindo sons. Não tem ideias próprias, faz críticas a Bolsonaro como se estivesse lendo algum teleprompter, não tem a coragem de justificar nem capacidade de demonstrar alguma mudança. O passado de político corrupto e repressor foi apenas jogado sob o tapete.
Apesar disso, houve gente das esquerdas que pediu a aceitação de Geraldo Alckmin como vice na chapa de Lula. Um articulista chegou a delirar dizendo que defender Alckmin é fundamental para os movimentos trabalhistas. Outro, sociólogo, delirou mais ainda dizendo que Alckmin "é que virou esquerdista, e não Lula tendo virado de direita".
Sou de esquerda, e, pelo jeito, mais esquerdista que muito petista de carteirinha. Não vou votar em Lula porque esse Lula da Faria Lima virou o ursinho de pelúcia dos neoliberais, e estou muito cético em relação ao progresso do Brasil. Fala-se da necessidade do Brasil em alcançar "finalmente" o Primeiro Mundo, tornar-se "potência sul-americana", mas o problema é que não temos povo de Primeiro Mundo, vide o viralatismo cultural enrustido que aqui temos.
Se as esquerdas, tidas como "esclarecidas", cometem o papelão em preferir um Geraldo Alckmin inescrupuloso do que um Alexandre Frota autocrítico, é sinal que as coisas não vão bem. E não vou compactuar com a "onda Lula", seja com que pretexto for. O Brasil é muito complicado e não será um Lula amarrado com alianças neoliberais que resolverá o problema social.
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