Lula não está agindo de maneira estratégica para enfrentar a ameaça do maligno Jair Bolsonaro. A ausência dele, tanto no debate de anteontem no SBT, quanto a que será no debate da Record TV, reduziu os dois programas em sabatinas para Jair Bolsonaro.
Temos que usar a lógica do futebol para explicar isso, até porque Lula é fanático por esse esporte. Imagine um artilheiro se recusar a ir para o campo adversário, para driblar com os jogadores do time rival e ir até o gol marcar seu ponto com a bola na rede. O artilheiro vai golear à distância, dentro do campo de defesa?
A resposta é não. E mesmo que SBT e Record sejam redutos bolsonaristas, Lula, se fosse estratégico, enfrentaria esses espaços, e mesmo que o petista seja ridicularizado por Bolsonaro, poderia trabalhar isso em seu favor. Bolsonaro consegue reverter situações desfavoráveis com vantagem ímpar, com uma habilidade que não o faz ser um bom presidente da República, mas o faz obter a visibilidade necessária que o fez crescer como mito e como figura política.
Lula, pelo contrário, é que não está abrindo o jogo. Prefere falar para "convertidos" fazendo videoconferências para gente simpática a ele. Não enfatiza a Economia, que mexe no cotidiano dos brasileiros, se limitando a propor medidas paliativas. Diz que o Brasil de hoje está pior do que em 2003, mas entra em clima de festa como se, em vez de reconstruir o país, propusesse um Carnaval 365 ou 366 dias por ano.
E Lula, mesmo sem querer, acaba se tornando uma força auxiliar do bolsonarismo, não que isso fosse, vale frisar, o propósito do petista. Seu propósito não é esse, sem dúvida alguma. Mas os erros de Lula, seu desprezo á autocrítica combinado a uma teimosia - como a que insistiu em ter o seu opositor ideológico, Geraldo Alckmin, para vice de sua chapa presidencial - , permitem que Bolsonaro tenha oportunidades de obter a vantagem que lhe rendeu generosos 51 milhões de votos no primeiro turno.
As omissões de Lula serviram para que Jair Bolsonaro, na superlive de ontem, tenha dado uma espinafrada no petista, principalmente pela falta de clareza no projeto econômico. Disse Jair, que definiu o programa econômico do adversário como "caixa-preta":
"Quem é o ministro da Economia do outro candidato? Não tem, não fala. Qual vai ser a linha político-econômica dele? Mais Estado? Menos Estado? Mais liberal? Vai querer criar mais estatais? Privatizar uma coisa ou outra? A gente não sabe. É uma caixa-preta".
Lula tenta defender com os "15 pontos básicos" do programa do PT. Que, no entanto, depende de ideias e demandas de outros partidos e parceiros, sobretudo Geraldo Alckmin. A falta de clareza no programa de governo é tanta que o pai-de-santo Pai Augusto de Oxalá, do Rio Grande do Sul, previu, com seu jogo de búzios, que Lula irá vender "alguma coisa que seja do Brasil", "alguma privatização, não na Petrobras".
Devemos nos lembrar das previsões que eu faço, de que Lula fará as chamadas "concessões", dentro dos critérios de PPP, Parceria Público-Privada. Esse processo econômico permite que estatais permaneçam formalmente "públicas", mas elas são entregues a administradores privados, sendo a empresa privada a concessionária de serviços específicos da respectiva estatal. Essa é a bandeira do vice Geraldo Alckmin, e Lula irá acolher essa opção, além de deixar para Alckmin agir quando este presidir o Brasil com as ausências do titular, que irá viajar para fazer contatos no exterior.
Por sorte, digo, Lula tem vantagem relativa por trabalhar no aspecto emocional. Consegue conquistar o eleitorado pelo sentimentalismo. Mas o bolsonarismo é forte e raivoso, e hoje mesmo o ex-deputado Roberto Jefferson reagiu a uma ordem de prisão da Polícia Federal e baleou um de seus agentes. Isso é apenas um dos vários alertas de como o bolsonarismo não irá baixar a cabeça com a vitória do petista. O Brasil segue em caminho muito perigoso.
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