A dois dias do prazo anunciado para Dilma Rousseff ser afastada do Governo Federal, um incidente inusitado se fez.
O presidente interino da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão, com pinta de cantor de bolero dos anos 1950 e cujo sobrenome não é coincidência, já que é do PP maranhense, decidiu anular a tramitação do processo de impeachment da presidenta.
A iniciativa irritou a oposição, sobretudo o almejado sucessor de Dilma, o advogado Michel Temer, que definiu o ato do deputado uma "atitude desesperada".
Alguns detalhes do episódio maluco devem ser levados em conta.
A anulação partiu do pedido de um membro da Advocacia Geral da União (AGU), ninguém menos que José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça do governo de Dilma e defensor da presidenta no julgamento do processo de impeachment.
Waldir Maranhão, dizem, acatou não por uma questão de governismo, mas para dificultar, barrando a saída de Dilma Rousseff, a condenação do antigo titular da presidência da casa legislativa, Eduardo Cunha.
Este, no entanto, definiu a atitude do sucessor como "absurda".
Cunha foi também afastado por acusações de corrupção, mais fundamentadas e comprovadas do que a presidenta.
Em todo caso, a atitude de Waldir Maranhão parecia, por algumas horas, garantir a sobrevida de Dilma Rousseff no poder.
A grande mídia ficou revoltada.
Sobretudo a Veja e o jornalismo das Organizações Globo.
A Veja reagiu com fúria à decisão da anulação.
A Rede Globo entrou em clima de luto, e a Globo News foi na caravana.
A repórter de Brasília, Andreia Saddi, cujo casamento com um colega da emissora teve o senador tucano Aécio Neves como padrinho, parecia ao mesmo tempo tensa e com vontade de chorar.
Por esses instantes, Andreia Saddi virou Andreia Sad.
Lembrava Cristiana Lobo quando, em 2010, anunciava a vitória eleitoral de Dilma Rousseff com cara de choro.
O Jornal Hoje foi todo sobre o assunto, marcado pelo clima tenso dos jornalistas.
A coisa ficou assim até que Renan Calheiros, do qual se esperava o acolhimento do pedido de anulação, dar parecer contrário ao esperado.
Ele ainda disse que Waldir Maranhão queria "brincar de democracia".
O argumento usado pela oposição é que interino não podia decidir.
É, mas se fosse um oposicionista interino que decidisse, por exemplo, em privatizar a Petrobras, o pessoal estaria totalmente a favor.
Além disso, os deputados federais da oposição a Dilma já cogitam apressar a eleição de um novo presidente para a Câmara dos Deputados.
Diante dessas ocorrências malucas, o processo de impeachment está de pé e a pressão oposicionista fará tudo para ver Dilma Rousseff indo embora do Palácio do Planalto, na próxima quarta-feira.
Abrindo caminho para o sisudo e insosso Michel Temer governar, com seu programa um tanto amargo para as classes populares.
Em todo caso, será uma fase de profunda desilusão.
Independente de quem defende Dilma Rousseff ou a quer fora do poder, de ser petista ou não-petista, o que se sabe é que a crise só está começando.
É bom Michel Temer, no alto dos seus 76 anos, começar a se preparar. Ele, que é casado com uma moça de apenas 33 anos.
Será muito mais pressionado que muito adolescente diante dos impasses da vida.
Hora de aceitar a adrenalina explodindo na velhice mais do que em qualquer esporte radical da juventude.
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