O "funk" é um ritmo tendencioso.
Marcado pelo primarismo sonoro e pelo grotesco de suas letras, possui empresários muitíssimo ricos, vários deles também DJs.
É capaz de estabelecer alianças profundas com os barões da grande mídia mas tentar convencer a opinião pública da ideia contrária.
O ritmo, nos anos 90, surgiu rompendo com a estrutura artística do funk autêntico, marcado pela preocupação com os arranjos instrumentais, as melodias e os bons vocais.
Só tinha uma batida e um vocal ruim, como que num karaokê.
A maioria das músicas do hoje conhecido "funk de raiz" parodiava grotescamente as cantigas de roda ou faziam arremedos do tipo.
Era apenas um ritmo comercial dançante.
Como o Miami Bass dos EUA.
Se promovia com jabaculê, tinha estrutura empresarial, controlava intérpretes ao gosto dos empresários etc.
Mas aí, nos últimos 15 anos, veio o tal discurso "socializante".
Discurso, aliás, bolado pelas Organizações Globo e pela Folha de São Paulo.
E propagado por gente do nível de um Luciano Huck.
Até o MC Leonardo voltou à evidência pelas mãos de um cineasta ligado ao Instituto Millenium, reduto intelectual de jornalistas da grande mídia ultraconservadora.
As esquerdas, no entanto, acolheram o "funk" com passividade bovina, em ato falho que custou caro às forças progressistas.
Até porque o discurso "etnográfico-militante" que passaram a fazer do "funk" era, na verdade, induzido por jornalistas de centro-direita que passaram a vestir a máscara de "esquerdistas sinceros".
Acreditaram que o "funk" era uma incompreendida mistura de vanguarda artística e rebelião popular.
Grande engano. É só ouvir os discos de "funk" e as performances de seus intérpretes que a criatividade tão alardeada pelo discurso dominante, pela narrativa trazida pela Globo e Folha, mas associada ao esquerdismo, que toda a fantasia "ativista-vanguardista" é derrubada de vez.
Letras sobre baixaria. Mesmo fundo musical. Vocais toscos. Atitudes grotescas.
Nada da hipotética combinação de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Ernesto Che Guevara, Johnny Rotten, Andy Wahrol e Simone de Beauvoir que a intelectualidade preconceituosamente "sem preconceitos" tanto alardeava.
O "funk" queria devolver o povo carioca aos padrões pré-1905.
Do povo entregue à própria "sorte" depois de uma duvidosa e ineficaz Lei Áurea, abandonado pelo clientelismo da República Velha.
Povo que só se rebelava contra campanhas como as de vacinação, feitas para combater doenças que dizimavam pessoas nas periferias.
Uma desordem social de pobreza resignada, combinada ao descaso do poder público.
O "funk" simbolizava uma visão elitista que durante muitos anos era considerada socialmente "generosa" e forçadamente vinculada às causas progressistas.
A pedofilia e a prostituição eram permitidas pelo discurso intelectual, sob as desculpas de "afirmação sexual" e "emancipação social" das mulheres pobres.
O "funk" glamourizava a ignorância e a miséria, apostava num estranho ufanismo das favelas.
Era o "orgulho de ser pobre".
Se não era o desejo de permanecer economicamente pobre, era o desejo de permanecer na pobreza simbólica de valores, práticas e crenças.
Não uma cultura popular de verdade. Mas uma pobreza espetacularizada para o gosto do mercado e o deleite de elites paternalistas.
Elites que se acharam as donas da história e criaram uma narrativa para deixar as classes populares presas em seus paradigmas do grotesco, sob o pretexto de "afirmação cultural".
Assim, o "funk" impediu o povo de participar do debate público.
Deixando de participar desse debate, não fez o governo Lula ousar mais nas propostas sociais e fez o governo Dilma Rousseff se enfraquecer completamente.
Isso é que dá tomar como "progressista" um discurso bolado pela Globo e pela Folha e popularizado por Luciano Huck e similares.
O "funk", tentando defender Dilma Rousseff, na verdade estava querendo saudar Michel Temer como titular da República.
O "funk" terceirizou a cultura brasileira e fez a política nacional descer até o chão.
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