O vergonhoso caso do estupro coletivo desmascarou uma situação que a intelectualidade "bacana" sempre abafou com falso relativismo.
O mito da "liberdade do corpo" num país do combate ao assédio abusivo.
O terrível caso ocorreu num bairro popular, na região de Jacarepaguá.
33 homens afoitos cercando uma moça de 16 anos, dopando a menina, depois a estuprando sob o registro da câmera do celular e depois publicando na Internet.
Um episódio de pura truculência, mas condicionado pela ilusão de liberdade sexual que a intelectualidade "bacana", que apostava num Brasil brega, queria para as classes pobres.
Mesmo mulheres aparentemente ativistas, dentro dessa intelectualidade, davam dois pesos e duas medidas.
Elas reclamavam contra a imagem caricatural que as mulheres, de classe média, recebiam dos comerciais de TV.
Mas consentiam que a mesma imagem fosse impunemente abordada sob o rótulo do "popular".
Reclamavam quando a imagem da mulher de classe média era sexualizada pelas atrações de televisão.
Acusavam de hipersexualização, exploração abusiva da beleza feminina e mercantilização do corpo.
Mas quando isso ocorria no âmbito do "popular", era "liberdade do corpo", "direito à sexualidade", "afirmação do desejo feminino".
Se a mulher de classe média era idiotizada pelos comerciais de TV, novelas e humorísticos, isso era fruto da ideologia machista, do sexismo mercadológico, da sociedade patriarcalista brasileira.
Mas quando a mulher simbolicamente "popular", como funqueiras e siliconadas em geral, alternam exibições corporais grotescas, alternadas com gafes diversas, isso era visto como "feminismo".
Reduzia-se a "obrigatoriedade" da mulher famosa simbolicamente elitista de exibir suas formas corporais.
Aumentava quando a mulher famosa era simbolicamente associada a atrações "populares".
Daí a contradição da restrição da sensualidade feminina, nas classes abastadas, e no aumento da mesma nas classes populares.
A retórica que se via, sobretudo no "funk" mas em outros fenômenos "populares demais", sinalizava sempre para a libertinagem e exploração máxima do erotismo feminino.
Intelectuais "bacanas" davam desculpas quando havia pornografia, pedofilia e estupro nas comunidades populares, vitimando moças inocentes e menores de idade.
A desculpa era a "iniciação sexual das jovens das periferias".
Os intelectuais "bacanas" alegavam que contestar essa "diversão das periferias" era "preconceito moralista e higienista".
Mulheres siliconadas aceitavam abertamente o papel de mercadorias sexuais, se limitando a mostrar seus corpos exagerados em fotos e até durante eventos.
Houve quem usasse blusas curtas até sob um frio de 10 graus.
Sem falar do contraste de calças, saias e shorts apertados e glúteos cada vez mais inflados pelo silicone.
É como se um balão se enchesse numa sala apertada com paredes móveis se aproximando entre si.
E esse "mundo maravilhoso" ainda tinha a prostituição.
Só na mente da intelligentzia dita "mais legal do país" é que ser prostituta é o máximo.
As mulheres pobres não queriam ser prostitutas a vida toda. Queriam ter trabalhos dignos e poder se sustentar de maneira segura e decente.
A intelectualidade "bacana" não. Queria que elas fossem prostitutas a vida toda, porque isso era o máximo, "expressão das periferias", "afirmação do corpo e da feminilidade (sic)".
Como se não houvessem cafetões exploradores nem clientes violentos nesse "mundo maravilhoso das putas".
Diante dessa permissividade pregada por intelectuais dotados de muita visibilidade e prestígio, que se atreviam a pregar seu obscurantismo nas mídias progressistas, um fato teve que ocorrer para derrubar essa ilusão.
Foi num subúrbio que ocorreu o pior caso de prostituição que abalou o Brasil e o mundo.
No mesmo dia em que um tresloucado fã de uma apresentadora de TV casada queria matá-la porque ela não correspondeu com a paixão obsessiva do cara.
Sim, a mulher de classe média tem muita razão quando reclama dos abusos e perigos que sofre.
Isso é muitíssimo correto e não há como contestar.
Mas o problema é que, quando era nas classes populares, o que era humilhante para a classe média os intelectuais "bacanas" definiam como "motivo de orgulho e afirmação pessoal".
As mulheres "populares" expressavam um modelo machista de sensualidade e, como mulheres-objetos, usavam apenas uma desculpa esfarrapada para serem vistas como feministas.
Não tinham, ao menos aparentemente, namorado ou marido algum em suas vidas amorosas.
Várias delas chegavam mesmo a "se oferecer" nas fotos do Instagram.
"Esta foto eu dedico a você (internauta)", "me deseje", "hoje visto uma roupa mais curta e quero que vocês digam como ficou", chegaram a dizer essas siliconadas que faziam a tal "liberdade do corpo".
Resultado: elas simbolizaram a ilusão fácil da permissividade feminina, da hipersexualização, da falsa certeza de que tudo é permitido e toda mulher é acessível.
As propagandistas? Funqueiras, ex-musas da Banheira do Gugu, peladonas, competidoras do Miss Bumbum, Musas do Brasileirão, algumas ex-Big Brother Brasil, dançarinas de "pagodão" baiano etc.
As mulheres pobres viam nessas moças um "ideal de sucesso" e os homens uma possibilidade de mulheres aceitarem qualquer assédio masculino.
O coronelismo midiático, sobretudo regional, manipulava essas situações e estimulava o sexo como mercadoria de impulsionar o sucesso de fenômenos "populares".
E aí criou-se tal situação: as mulheres eram induzidas pela mídia "popular" (e machista) a se erotizarem demais, os homens a acreditar que todo tipo de mulher é "gostosa" e "está a fim" deles.
Foi aí que veio o tal estupro coletivo. Ao som de "funk" e tudo.
A casa caiu. A intelectualidade "bacana", tão "desprovida de preconceito", viu a bomba explodir em suas mãos.
A "Disneylândia suburbana" que acreditavam mostrou seu lado sombrio, que pôs em xeque-mate tudo o que tendenciosos documentários, monografias, reportagens e outros discursos pregaram como "positivo" durante uma década.
A moça pobre estava "se iniciando sexualmente" ao ser agredida por 33 machões?
Ela estaria expressando a "liberdade do corpo" na "natural diversão das periferias"?
O episódio vergonhoso repercutiu no exterior.
Até a atriz Emma Watson se manifestou contra esse trágico incidente.
Como é que ficam aqueles intelectuais, durante muito tempo aplaudidos por causa de suas teses "provocativas"?
Com que cara ficam e com que moral eles têm agora para explicar a "liberdade" que defendiam com sua "generosa" visão etnocêntrica das classes populares?
Depois desse triste episódio, que pode não ter trazido muitos danos físicos à jovem, mas trouxe um dano muito maior e irreparável, que é o trauma dessa agressão, como é que os intelectuais "bacanas" sairão dessa?
Que poderão falar da "iniciação sexual das jovens pobres"?
Que poderão falar do "direito à sensualidade"?
Que poderão falar da "liberdade do corpo"?
Que "liberdade" é essa, do corpo e não da consciência da mulher?
Que feminismo é esse em que a mulher se afirma como uma mercadoria sexual?
E, no caso do discurso intelectualoide "etnicizar" as coisas, pouco importa se os agressores são brancos, negros ou índios. Porque isso não vem ao caso.
São homens de todo jeito que, manipulados por uma mídia grotesca e tendo baixa escolaridade, têm seus instintos sexuais descontrolados e tornados brutais.
Não se fala aqui em "eurocentrismos" e outras divagações.
Fala-se em preservar o direito de ir e vir da mulher, sem ser molestada pelo violento assédio machista.
A culpa não pode ser da vítima do estupro, como também a culpa não deve ser de nós que condenamos tantos retrocessos, sobretudo essa "cultura popular" trabalhada "admiravelmente" por esses intelectuais etnocêntricos.
Essa "elite pensante" deu um tiro no pé, legitimando preconceitos machistas que propiciaram esse estupro e que, durante anos, foram vistos como "combate ao preconceito".
Em nome desse falso feminismo, uma moça foi violentada por três dezenas de machistas.
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