O "sertanejo universitário" é um poço de pretensão e arrogância.
A partir do nome.
Afinal, o gênero nada tem do sentido original de "sertanejo", o de música caipira de raiz.
E também não tem coisa alguma do aprimoramento cultural dos universitários.
É apenas uma linha de montagem sonora que envolve acordeon, guitarra elétrica e vocais desafinados.
Mas de vez em quando a pretensão vai longe demais.
É o caso de uma dupla que poucos conhecem, Zé Neto & Cristiano.
As duplas são todas iguais, pouco importando se é Zé Neto & Cristiano, Marcos & Belutti, Fernando & Sorocaba, Munhoz & Mariano, e o que vier por aí.
Todos reproduzindo uma fórmula, como automóveis produzidos em série.
Mas aí o Cristiano, da dupla com Zé Neto, foi logo falar uma besteira.
"As pessoas têm dificuldade em aceitar que a música sertaneja é a nova MPB", se atreveu a dizer o cara.
O motivo: "sucesso popular" e "geração de dinheiro".
Se MPB é algo que "gera dinheiro" e "lota plateias", então qualquer muamba vendida no camelô é "MPB", até ferro de passar roupa queimado.
Se MPB é algo que "arrasta multidões", qualquer cadáver de alguém assassinado num subúrbio é "MPB", porque diante dele multidões o cercam para observá-lo.
O grande problema é que esse pessoal, que tanto fala em "combater o preconceito", tem, na verdade, uma visão muito preconceituosa da MPB.
Uns veem a MPB como uma combinação de trajes de gala e plateias lotadas, como os pedantes ídolos do "pagode romântico" e do "sertanejo" dos anos 90.
Outros veem MPB como um alpinismo musical, achando que podem fazer qualquer porcaria nos primeiros álbuns e depois vai inserindo covers de emepebistas aqui e ali.
Outros veem MPB como um investimento financeiro, pois se tem maior público e grande faturamento, "isso é MPB".
Todas essas visões são puramente inconsistentes.
Até porque nenhum desses ídolos têm a consistência e a espontaneidade artística da verdadeira MPB, a verdadeira verdadeira, com M maiúsculo, que não precisa viver de plateias lotadas nem de fórmulas de mercado.
MPB é Edu Lobo, é Elizeth Cardoso, é Milton Nascimento, é Mutantes, é Luiz Gonzaga, é Cartola, é Toninho Horta, é Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Gente que não surge de uma reunião de escritório para negociar qual será o ritmo do momento.
Esse "sertanejo universitário" que está aí é música só para o corpo, para as pessoas dançarem e beberem nas noitadas.
É algo que já vem previamente negociado num escritório.
E, como todo estilo brega-popularesco, os "artistas" não contribuem nos arranjos.
Um arranjador de plantão faz todo o serviço, os "artistas" só fazem o pedido, como freguês num restaurante.
O arranjador bola o ritmo do momento, se é para botar acordeon, se é para inserir cítara, se é para botar gaitinha, se é para escrever uma letra mais poética.
Ou então se a moda é parasitar alguma cover emepebista do momento, se é "Nervos de Aço" de Lupicínio Rodrigues, "Como Nossos Pais" de Belchior ou "Canção da América" de Milton Nascimento.
A verdade é que Cristiano, da dupla com Zé Neto, quis apenas dizer: "As pessoas têm dificuldade em aceitar que nós somos os maiorais".
Mas a realidade, nua e crua, é essa.
Esses "sertanejos" é que têm muita dificuldade em aceitar que eles não são MPB, que eles são apenas ídolos bregas e, acima de tudo, puramente comerciais.
Comentários
Postar um comentário