O governo Michel Temer tinha que dar nisso.
Governo ilegítimo, impopular, retrógrado e antiquado.
Lembra o governo do general Ernesto Geisel, mas com as promessas do governo de outro general, Castelo Branco, de "melhorar" o país.
Bom para sabermos o que realmente é o PMDB governando o país.
O PMDB é o único partido remanescente dos dois da ditadura.
Primeiro impõe as coisas sem consultar a população, e ainda recua pouco quando a pressão popular lhe é contrária.
Foi assim com o governo do PMDB carioca, de Eduardo Paes e companhia.
Está sendo com o PMDB nacional.
Temer só quer um Estado mínimo, e dinheiro circulando nas empresas em detrimento da renda popular.
E aí saiu extinguindo ministérios sem perceber as necessidades sociais dos brasileiros.
Ou, talvez, percebendo, e por isso extinguindo para contrariar tais necessidades, que comprometem o projeto neoliberal de Temer e companhia.
O governo já começou atrapalhado. Ministérios entregues a não-especialistas, ministros envolvidos em escândalos de corrupção, e o próprio presidente Michel Temer fazendo feio até em entrevista do Fantástico.
É certo que o casal Sônia Bridi e Paulo Zero é competente, mas eles têm que atuar nos limites da Rede Globo, daí que ela perguntou, diante da câmera do marido, apenas o "necessário" ao presidente.
"Necessário" leia-se segundo o padrão Ali Kamel de jornalismo.
Michel Temer não disse coisa alguma de relevante, apenas falou como um velho senhor sisudo vindo de alguma festa de gala dos anos 1970, mas saudoso do glamour da década de 1940.
Usou um discurso seguro para esconder sua insegurança política. E teve que admitir que não é um líder popular.
Ele tenta compensar um ministério machista com mulheres distribuídas em secretarias ou outros órgãos governamentais. Nenhuma ministra, ainda.
É a tática do PMDB. Primeiro morde, depois assopra, quando as pressões se tornam bastante pesadas.
E os últimos dias foram cheios. Protestos contra Michel Temer, barulhaço durante a entrevista do Fantástico, protestos da classe artística contra o fim do Ministério da Cultura.
Tinha até o fato surreal do Estadão pedir para o ator Wagner Moura escrever um artigo comentando o fim do MinC e, depois, recusar a publicação do mesmo.
Mas isso é pouco diante do protesto de atores como Sônia Braga e Humberto Carrão, junto ao cineasta Kleber Mendonça Filho, durante o Festival de Cinema de Cannes deste ano.
A equipe exibiu cartazes de protesto contra o governo Temer, aparentemente mantendo a tranquilidade e o bom humor.
"Um golpe tomou conta do Brasil", "Brasil está vivendo um golpe de Estado", "O mundo não pode aceitar um governo ilegítimo (de Temer)", "54.501.118 votos jogados na fogueira", foram alguns dos cartazes mostrados.
A grande imprensa estrangeira, mesmo a conservadora, já estranhava o golpe jurídico-midiático-parlamentar que se deu em investigações confusas e apressadas contra o PT.
Estranhou também a votação parlamentar na Câmara dos Deputados, com boa parte dos votantes acusados de crimes que vão do desmatamento ao homicídio, e era presidida por um corrupto carreirista com depósitos dele e da família em contas na Suíça.
No Senado Federal, a mesma coisa, mas, como lembrou Paulo Nogueira do Diário do Centro do Mundo, havia menos "palhaços".
Enquanto isso, a humilhante Secretaria Nacional de Cultura, ou seja, o que restou do MinC que virou um escritório do Ministério da Educação e Cultura, sofre a recusa de várias mulheres para a pasta.
Temer queria colocar uma mulher na secretaria depois que foi cobrado por ter montado uma equipe ministerial só de homens.
Na secretaria, quatro mulheres convidadas recusaram, até ontem, assumir o incômodo cargo de "assistente" do ministro Mendonça Filho.
Marília Gabriela, a primeira sondada, foi diplomática, agradecendo o convite de sua ex-colega de TV Mulher, Marta Suplicy, mas não aceitando o cargo.
Depois veio Cláudia Leitão, que chegou a atuar com Ana de Hollanda no antigo MinC, disse um firme e decidido NÃO.
Em seguida, Elaine Costa, consultora de projetos culturais e professora da Fundação Getúlio Vargas, disse que não trabalha para governo golpista.
A atriz, cineasta, apresentadora, produtora e escritora Bruna Lombardi foi a quarta, que recusou o convite por estar envolvida em vários compromissos profissionais.
O Diário do Centro do Mundo sugeriu a advogada Janaína Paschoal, histérica defensora do impeachment de Dilma e co-autora de um dos pedidos do já consumado afastamento da presidenta.
Janaína pode não entender bulhufas de cultura. Mas como no governo Temer tudo pode acontecer, ela seria mesmo a candidata ideal para o cargo.
E assim o governo Temer, em menos de uma semana de instaurado - de forma interina, embora os anti-petistas possam dar um jeitinho para manter Temer até o fim de 2018 - , já sofre uma crise, criando uma situação delicada no Brasil e no mundo.
Crise que será abafada pela mídia brasileira associada, que fará de tudo para transformar a amarga realidade do Brasil em uma doce e próspera ficção.
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