Pular para o conteúdo principal

"BRINQUEDOS CULTURAIS" FAZEM AS ESQUERDAS SOAREM ELITISTAS

 

PARA AS ESQUERDAS MÉDIAS, O BRASIL É UMA GRANDE NOVELA DAS NOVE.

As esquerdas, eventualmente, dão a cara a tapa para os bolsomínions, e, sem querer, empoderam os reacionários que apoiam o presidente Jair Bolsonaro.

Sobretudo em relação aos "brinquedos culturais", que fazem as esquerdas verem o Brasil como se fossem um misto de Instagram em dimensões 3-D com o núcleo pobre das novelas das nove da Rede Globo.

Acham lindo um universo fictício sob o qual o povo pobre é visto de maneira caricatural, quase que como um bando de selvagens domesticados. Diferente do povo pobre real, que luta por melhores condições de trabalho e sofrem a opressão do patronato, da plutocracia, do latifúndio.

Cultuam o grotesco e comercialíssimo "funk" como se fosse a "fina flor do folclore libertário brasileiro".

Cultuam a "mulher-objeto" como se ela fosse uma "guerrilheira feminista".

Cultuam um "médium" farsante e reacionário como se ele, invertendo a realidade, fizesse o papel do Nelson Xavier bonachão e bondoso das novelas das nove.

E cultuam um jogador de futebol galã, à imagem e semelhança do Cauã Reymond, idealizando um suposto Che Guevara dos gramados, que promete derrubar o capitalismo com um gol do seu time.

É a pequena burguesia de esquerda, que até tenta fazer o dever de aula exaltando Lula e dizendo, feito papagaios emitindo sons, que ele é a "única esperança para tirar o Brasil do caos atual".

Claro, desde que Lula, obediente nas suas alianças com a direita moderada, deixe de ser o operário que se projetou nas manifestações do ABC paulista e faça o papel de Dom Pedro II com poderes modernizadores de Dom João VI.

Isso faz com que a extrema-direita se sinta empoderada e parta para gracejos.

E o pior é que as esquerdas identitaristas acabam interagindo com os bolsomínions, numa rivalidade de fachada tipo Fla-Flu.

Quem sabe o papo de "kit gay" não surgiu porque as esquerdas médias enfatizam demais as causas identitárias, colocando a causa LGBTQ acima das trabalhistas?

Causa LGBTQ é boa para a classe média, que pode se proteger de ameaças.

Para o pobre, causas como esta e a das mães solteiras são um fardo terrível.

O travesti ou o gay comum, sem casa e sem trabalho, é um dos que mais são visados pelos esquadrões da morte que matam por prazer, sob a desculpa de "limpar as ruas de tanto vagabundo sem casa".

A mãe solteira de uma dezena de filhos é sobrecarregada de trabalho, diferente da fantasia da solteira pobre que deixa o filho em casa para curtir sua festinha da periferia.

Por outro lado, a it girl de três filhos das classes abastadas sente dificuldades extremas em se divorciar do marido empresário, temendo causar um trauma nas crianças.

Tudo bem, mas a mãe solteira de quinze filhos vive sempre mal humorada, vendo o dinheiro fugir sem que seja compensado com o aumento de trabalho e a colaboração até de filhos pequenos.

Ela lava um monte de roupa, é mal paga e a freguesia ainda reclama de uma pequena mancha que teve dificuldade de ser removida pela lavagem.

Reclama da comida mal temperada que a mãe solteira vende através de marmitas. Enquanto isso, os filhos não conseguem vender balas nem tabletes de chocolate.

A periferia que existe na vida real não existe no imaginário das esquerdas médias e seu "socialismo de Instagram".

O Brasil não está bem politicamente e a rejeição, por parte das esquerdas, a livros como Esses Intelectuais Pertinentes..., remete muito mais a esse elitismo que toma conta do que o jargão marxista tradicionalmente chama de "pequena burguesia".

Afinal, a rejeição ao meu livro (que não reclamo por ser um livro meu, mas por informações importantes que muitos não querem saber) se dá pelo medo de ver intelectuais queridinhos de setores das esquerdas serem desmascarados.

A inclusão, na capa, de ídolos popularescos que representam o "bondoso" viralatismo cultural brasileiro, aceito sob a desculpa do "fim do preconceito", assusta a burguesia ilustrada dos "socialistas de Instagram".

São elites que, de maneira hipócrita, dizem apoiar o samba, que recentemente perdeu um dos grandes mestres, Nelson Sargento.

Só que, assim que Lula, para as cordiais burguesias de "centro" e de "esquerda", não é o Lula, mas um reboot de Dom Pedro II, o samba não é o samba, é a Bossa Nova ou a música erudita.

É constrangedor ver como as elites que dizem apoiar Martinho da Vila o tratam como "compositor erudito", tentando tirá-lo do contexto de suas raízes populares e afro-brasileiras.

A aceitação é feita sob o preço da idealização, de um certo etnocentrismo "do bem", que descontextualiza, e lembra muito o conto "O amigo dedicado" de Oscar Wilde.

O moleiro do conto simboliza as elites que dizem gostar de pobre, comprando de um humilde jardineiro um grande acervo de flores, e, em troca, dá um carro de mão quebrado e lhe pede a missão opressiva de comprar algo na calada da noite e num momento de tempestade intensa.

Sob o pretexto de chutar alguns cachorros mortos do lodo neopenteque, as cordiais elites, no seu culturalismo conservador, exaltam um "médium" ranzinza que pedia para sofrermos calados sob a desculpa de que o sofrimento vai embora com isso, só porque ele prometeu a "paz mundial".

E aí lembra o que a axézeira Cláudia Leitte falou nos Altas Horas: "se deixarmos de nos preocupar com a pandemia, a Covid-19 desaparece". Grande falácia que diz que, se não gemermos de dor, a dor some, como se extrair alegria da dor curasse qualquer coisa.

E muita gente acha isso "progressista". Fácil endeusar um "médium" que mais defendeu a ditadura militar, e, depois, gritar nos quatro cantos que quer Lula presidente em 2023.

Só que essa hipocrisia das pequenas burguesias, que inclui muitos falsos arrependidos que, há cinco anos, uniam-se a Eduardo Cunha para derrubar Dilma Rousseff, vai fortalecer o bolsonarismo.

O perigo todo está aí, nas esquerdas brincando com os "brinquedos culturais" da direita moderada e, no dia seguinte, verem Jair Bolsonaro reeleito ou fazendo um golpe para se perpetuar no poder. Ou, no caso de não ser o próprio Jair, seu principal filho Eduardo Bolsonaro, que é pior ainda.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

INFANTILIZAÇÃO E ADULTIZAÇÃO

A sociedade brasileira vive uma situação estranha, sob todos os aspectos. Temos uma elite infantilizada, com pessoas de 18 a 25 anos mostrando um forte semblante infantil, diferente do que eu via há cerca de 45 anos, quando via pessoas de 22 anos que me pareciam “plenamente adultas”. É um cenário em que a infantilizada sociedade woke brasileira, que chega a definir os inócuos e tolos sucessos “Ilariê” e “Xibom Bom Bom” cono canções de protesto e define como “Bob Dylan da Central” o Odair José, na verdade o “Pat Boone dos Jardins”, apostar num idoso doente de 80 anos para conduzir o futuro do Brasil. A denúncia recente do influenciador e humorista Felca sobre a adultização de menores do ídolo do brega-funk Hytalo Santos, que foi preso enquanto planejava fugir do Brasil, é apenas uma pequena parte de um contexto muito complexo de um colapso etário muito grande. Isso inclui até mesmo uma geração de empresários e profissionais liberais que, cerca de duas décadas atrás, viraram os queridões...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

DENÚNCIA GRAVE: "MÉDIUM" TIDO COMO "SÍMBOLO DE AMOR E FRATERNIDADE" COLABOROU COM A DITADURA

O famoso "médium" que é conhecido como "símbolo maior de amor e fraternidade", que "viveu apenas pela dedicação ao próximo" e era tido como "lápis de Deus" foi um colaborador perigoso da ditadura militar. Não vou dizer o nome desse sujeito, para não trazer más energias. Mas ele era de Minas Gerais e foi conhecido por usar perucas e ternos cafonas, óculos escuros e por defender ideias ultraconservadoras calcadas no princípio de que "devemos aceitar os infortúnios e agradecer a Deus pela desgraça obtida". O pretexto era que, aceitando o sofrimento "sem queixumes", se obterá as prometidas "bênçãos divinas". Sádico, o "bondoso homem" - que muitos chegaram a enfiar a palavra "Amor" como um suposto sobrenome - dizia que as "bênçãos futuras" eram mais dificuldades, principalmente servidão, disciplina e adversidades cruéis. Fui espírita - isto é, nos padrões em que essa opção religi...

CRISE DA MPB ATINGE NÍVEIS CATASTRÓFICOS

INFELIZMENTE, O MESTRE MILTON NASCIMENTO, ALÉM DE SOFRER DE MAL DE PARKINSON, FOI DIAGNOSTICADO COM DEMÊNCIA. A MPB ainda respira, mas ela já carece de uma renovação real e com visibilidade. Novos artistas continuam surgindo, mas poucos conseguem ser artisticamente relevantes e a grande maioria ainda traduz clichês pós-tropicalistas para o contexto brega-identitário dos últimos tempos. Recentemente, o cantor Milton Nascimento, um dos maiores cantores e compositores da música brasileira e respeitadíssimo no exterior por conta de sua carreira íntegra, com influências que vão da Bossa Nova ao rock progressivo, foi diagnosticado com um tipo de demência, a demência de corpos de Lewy. Eu uma entrevista, o filho Augusto lamentou a rotina que passou a viver nos últimos anos , quando também foi diagnosticado o Mal de Parkinson, outra doença que atinge o cantor. Numa triste e lamentável curiosidade, Milton sofre tanto a doença do ator canadense Michael J. Fox, da franquia De Volta para o Futuro ...

BURGUESIA ILUSTRADA QUER “SUBSTITUIR” O POVO BRASILEIRO

O protagonismo que uma parcela de brasileiros que estão bem de vida vivenciam, desde que um Lula voltou ao poder entrosado com as classes dominantes, revela uma grande pegadinha para a opinião pública, coisa que poucos conseguem perceber com a necessária lucidez e um pouco de objetividade. A narrativa oficial é que as classes populares no Brasil integram uma revolução sem precedentes na História da Humanidade e que estão perto de conquistar o mundo, com o nosso país transformado em quinta maior economia do planeta e já integrando o banquete das nações desenvolvidas. Mas a gente vê, fora dessa bolha nas redes sociais, que a situação não é bem assim. Há muitas pessoas sofrendo, entre favelados, camponeses e sem-teto, e a "boa" sociedade nem está aí. Até porque uma narrativa dos tempos do Segundo Império retoma seu vigor, num novo contexto. Naquele tempo, "povo" brasileiro eram as pessoas bem de vida, de pele branca, geralmente de origem ibérica, ou seja, portuguesa ou...

A HIPOCRISIA DA ELITE DO BOM ATRASO

Quanta falsidade. Se levarmos em conta sobre o que se diz e o que se faz crer, o Brasil é um dos maiores países socialistas do mundo, mas que faz parte do Primeiro Mundo e tem uma das populações mais pobres do planeta, mas que tem dinheiro de sobra para viajar para Bariloche e Cancún como quem vai para a casa da titia e compra um carro para cada membro da família, além de criar, no mínimo, três cachorros. É uma equação maluca essa, daí não ser difícil notar essa falsidade que existe aos montes nas redes sociais. É tanto pobre cheio da grana que a gente desconfia, e tanto “neoliberal de esquerda” que tudo o que acaba acontecendo são as tretas que acontecem envolvendo o “esquerdismo de resultados” e a extrema-direita. A elite do bom atraso, aliás, se compôs com a volta dos pseudo-esquerdistas, discípulos da Era FHC que fingiram serem “de esquerda” nos tempos do Orkut, a se somar aos esquerdistas domesticados e economicamente remediados. Juntamente com a burguesia ilustrada e a pequena bu...

NEGACIONISTA FACTUAL E SUAS RAÍZES SOCIAIS

O NEGACIONISTA FACTUAL REPRESENTA O FILHO DA SOCIALITE DESCOLADA COM O CENSOR AUSTERO, NOS ANOS DE CHUMBO. O negacionista factual é o filho do casamento do desbunde com a censura e o protótipo ilustrativo desse “isentão” dos tempos atuais pode explicar as posturas desse cidadão ao mesmo tempo amante do hedonismo desenfreado e hostil ao pensamento crítico. O sujeito que simboliza o negacionista factual é um homem de cerca de 50 anos, nascido de uma mãe que havia sido, na época, uma ex-modelo e socialite que eventualmente se divertia, durante as viagens profissionais, nas festas descoladas do desbunde. Já o seu pai, uns dez anos mais velho que sua mãe, havia sido, na época da infância do garoto, um funcionário da Censura Federal, um homem sisudo com manias de ser cumpridor de deveres, com personalidade conservadora e moralista. O casal se divorciou com o menino tendo apenas oito anos de idade. Mas isso não impediu a coexistência da formação dúbia do negacionista factual, que assimilou as...

A IMPORTÂNCIA DE SABERMOS A LINHA DO TEMPO DO GOLPE DE 2016

Hoje o golpismo político que escandalizou o Brasil em 2016 anda muito subestimado. O legado do golpe está erroneamente atribuído exclusivamente a Jair Bolsonaro, quando sabemos que este, por mais nefasto e nocivo que seja, foi apenas um operador desse período, hoje ofuscado pelos episódios da reunião do plano de golpe em 2022 e a revolta de Oito de Janeiro em 2023. Mas há quem espalhe na Internet que Jair Bolsonaro, entre nove e trinta anos de idade no período ditatorial, criou o golpe de 1964 (!). De repente os lulistas trocaram a narrativa. Falam do golpe de 2016 como um fato nefasto, já que atingiu uma presidenta do PT. Mas falam de forma secundária e superficial. As negociações da direita moderada com Lula são a senha dessa postura bastante estranha que as esquerdas médias passaram a ter nos últimos quatro anos. A memória curta é um fenômeno muito comum no Brasil, pois ela corresponde ao esquecimento tendencioso dos erros passados, quando parte dos algozes ou pilantras do passado r...