A situação não está fácil para os brasileiros.
O presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que o país irá intensificar o "combate à corrupção", dentro e fora de seu território.
"A corrupção destrói a confiança pública, atrapalha a governança, distorce os mercados e o acesso igualitário aos serviços, enfraquece os esforços de desenvolvimento, contribui para a fragilidade nacional, extremismo e migração e fornece aos líderes autoritários um meio de minar as democracias em todo o mundo", disse Biden em seu memorando de 03 de junho.
Ele acrescentou: "Quando os líderes roubam dos cidadãos de suas nações ou os oligarcas desrespeitam o Estado de Direito, o crescimento econômico desacelera, a desigualdade se amplia e a confiança no governo despenca".
Não devemos confiar muito nas palavras. Afinal, Joe Biden é acusado de ter articulado secretamente os golpes contra governos progressistas na América Latina, derrubados sob a retórica da "corrupção".
O hoje subestimado golpe político de 2016 foi feito sob esse discurso, apesar de Dilma Rousseff, pelo contrário, agir contra práticas realmente desonestas na política brasileira.
O golpe está para fazer cinco anos de sua finalização, no próximo 31 de agosto, e boa parte dos protagonistas dessa derrubada hoje expressam um estranho apoio a Lula.
Tudo parece muito fácil. A direita moderada agora amiga de Lula? Até pouco tempo atrás, seus principais personagens chamavam Lula de "ladrão" e agradeciam a Deus por ele ter sido preso.
Como a coisa foi mudar da noite para o dia? O golpe de 2016, em dimensões históricas, corresponde a ontem, foi um episódio muitíssimo recente.
E como as esquerdas andam muito ingênuas achando que Lula está dominando todo o processo político e o caminho está totalmente livre para ele executar seu projeto de governo.
A euforia das esquerdas emotivas - que, em verdade, não veem Lula como o ex-sindicalista das causas trabalhistas, mas um "Dom Pedro II com atribuições modernizantes de Dom João VI" - acha que Lula irá se impor ao mundo.
Fico desconfiado até do golpe facilmente revertido na Bolívia. Elon Musk gastou dinheiro para derrubar as forças progressistas para nada?
O golpe todo aconteceu, com todo burburinho, com todos os retrocessos, para acabar assim de repente?
As forças progressistas foram derrubadas pelas mesmas forças neoliberais que agora deram sinal verde àqueles que foram derrubados.
Parece fácil demais o golpe ser feito e, depois, desfeito. Alguma coisa estranha existe. Na Bolívia, creio que parte dos recursos minerais estratégicos teve que ser vendida na surdina para empresas estrangeiras, sobretudo o lítio, cobiçado pelo magnata do Big Tech.
O Brasil vendeu boa parte do pré-sal, a Petrobras está encolhendo até virar nada - a BR Distribuidora já está se despedindo, pois irá desaparecer em breve - , a Eletrobras será privatizada e os Correios também.
E os retrocessos trabalhistas parecem ter recebido a aceitação resignada das esquerdas, salvo honradas exceções.
Diante de quadros assim, quando as riquezas naturais latino-americanas e seus patrimônios públicos econômicos são entregues a estrangeiros, fica fácil demais as esquerdas supostamente terem retomado os governos.
Já se desconfia de um processo de minar as esquerdas por dentro.
Temo que Lula deve ter cedido vários pontos de seu programa de governo para agradar a direita moderada numa "frente ampla" para derrubar Jair Bolsonaro.
Só que isso tem um preço. Há o receio de que Lula fará um governo de "terceira via", mantendo o teto de gastos e se limitando a promover o Auxílio Emergencial como suposta bandeira emancipatória das classes populares.
E aí as esquerdas emotivas irão acreditar na fantasia de que Lula, com essas limitações, irá fazer uma mágica para colocar o Brasil em níveis ascendentes de desenvolvimento.
E com tudo isso vem Joe Biden, erroneamente visto como um "esquerdista ianque", dizer que "vai combater a corrupção", a mesma narrativa que rendeu os golpes sob o método do lawfare na América Latina.
E aí não vejo isso um bom sinal para Lula, que, pressionado para fazer um governo de "terceira via", poderá também ser novamente acusado de "corrupção", no caso de avançar nos seus projetos sociais.
O discurso do "combate à corrupção" sempre foi duvidoso, por ser bastante vago e superficial, desculpa feita apenas para os EUA imporem seus interesses em países emergentes, como os do Oriente Médio e América Latina.
É por isso que o clima no Brasil tem que ser de apreensão, e não de festa das esquerdas emotivas. O momento é de cautela.
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