PRESENTE NA PASSEATA DOS CEM MIL EM 1968, CHICO BUARQUE ESTEVE NO PROTESTO DE 19 DE JUNHO PASSADO.
A única forma das forças progressistas não se acomodarem é indo para as ruas hoje.
Não se pode cruzar os braços e achar que o Supremo Tribunal Federal virou o "pai das esquerdas", que vai barrar qualquer reação de Jair Bolsonaro e asfaltar o caminho todo para Lula em 2023.
Quem acreditar nisso faz papel de trouxa, mesmo se o STF estiver com boas intenções.
Em vez do clima do "Lula já ganhou" e do "Bolsonaro já perdeu", as pessoas deveriam combinar e ir para as ruas.
Nas comédias estudantis se vê um jovem convidando poucos amigos para uma festa na casa dele, durante a ausência dos pais do protagonista. E, de repente, chegam os amigos dos amigos dos amigos e aí tem gente estranha vasculhando a geladeira do anfitrião que não conhece.
Por que isso não pode ocorrer nas manifestações de rua? Amigos convidando amigos que chamam mais gente que, em tese, é estranha entre si?
Ficar na zona do conforto dos memes não vai trazer efeito concreto. Só vai gerar diversão de poucos minutos e tudo cairá no esquecimento.
Alguém viu a primeira página de um jornal tipo Folha de São Paulo, com um meme em destaque e a manchete: "Meme atingiu 1 milhão de likes em todo o Brasil"?
Ou em O Globo: "Meme contra Bolsonaro mobiliza 1milhão de brasileiros".
Ou William Bonner ou algum suplente seu, no Jornal Nacional: "Um meme mobiliza o país. Mensagem contra Bolsonaro ultrapassa 1 milhão de likes de Norte a Sul do Brasil".
Ou Veja, em edição extraordinária: "O Meme transformador", com o texto complementar "Como uma imagem das redes sociais contra Bolsonaro tomou conta de todo o Brasil".
Qual a chance disso acontecer? É difícil.
Nas ruas, o povo brasileiro mostra protagonismo, pressiona o cenário político e chama a atenção da mídia, que pode ficar indiferente num primeiro momento, mas depois se rende aos fatos.
Já os memes só divertem, repercutem uns poucos minutos, e o povo brasileiro vira figurante do espetáculo virtual, para não dizer seu status humilhante de mera mercadoria nas redes sociais.
Como é que os brasileiros hoje vão, no dia em que se celebra a Passeata dos Cem Mil - que contou com a participação de gente como Chico Buarque, presente no último 19 de junho - , ficar em casa contentes com os memes que mal conseguem fazer cócegas em Jair Bolsonaro?
Como é que os brasileiros, hoje, vão preferir o "ativismo de sofá", satisfeitos com a movimentação digital das postagens, respostas e curtidas produzidas em série por vários internautas na "bolha" das redes sociais?
Acham que o país vai derrubar Bolsonaro e eleger Lula preso na "bolha digital"? Acham que isso faz sentido porque o STF e o Congresso Nacional cuidam de Bolsonaro e que o caso Covaxin é o fim da picada para o "capitão"?
Não estamos na vitória. Não vencemos a parada. A situação parece favorável, mas não se pode confundir expectativa com perspectiva.
A favor de Lula, só temos expectativas. Há uma projeção de vitória, mas nada está certo, ainda. E estamos entrando no segundo semestre de 2021, não de 2022.
Não dá para ficar na zona de conforto dos memes. Memecracia não derruba presidente e, se o pessoal zoar demais o presidente Jair Bolsonaro, aí é que ele irá endurecer de vez.
Por isso, seria melhor o pessoal espalhar na Internet a necessidade de botar o povo nas ruas.
Precisa ter líder, partido político, publicitário, chamada na mídia? A resposta é não.
Vale a comunicação nas redes sociais. Uma pessoa chamando outra que chama outras que, em seguida, se articulam num grupo que cresce como bola de neve.
Ainda que sejam protestos às 16 horas, mas que sejam manifestações espontâneas que não precisam do sinal verde de partido, instituição, coletivo ou coisa parecida. Basta os internautas combinarem uns com os outros.
Contra Dilma Rousseff, ninguém esperou quatro semanas entre uma manifestação e outra. Por que teremos que fazer isso contra Jair Bolsonaro?
Ficar em casa e acreditar na ilusão dos memes só representará uma gafe histórica, e o custo que trará para as forças progressistas pode ser muito caro.
A procrastinação dos protestos para 24 de julho só vai dar tempo para Bolsonaro realizar a sua revanche, e não sabemos como isso se dará, e pode ser muito pior.
Seu filho Eduardo Bolsonaro já falou, certa vez, que, para destruir o STF, "basta um cabo e um soldado".
Isso indica que, se os bolsonaristas quiserem, derrubam justamente o guardião da nossa frágil democracia.
A memecracia não vai recuperar nem fortalecer nossa democracia. Tanto que o governo Michel Temer foi marcado pelo "disparo" de memes contra ele e nem por isso ele foi deposto ou seu "pacote de maldades" foi cancelado.
Portanto, quem quer fazer história e levar os movimentos populares a sério, terá que IR PARA AS RUAS, em TODO O PAÍS.
Se ficar nos memes, o que parece certo e favorável hoje - a queda de Bolsonaro e a eleição de Lula - pode se transformar de um sonho possível para uma realidade impossível.
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