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BREGALIZAÇÃO REFLETE PATERNALISMO PROVOCATIVO DA ELITE PÓS-MODERNA

O CANTOR E COMPOSITOR RUBEL E O ACADÊMICO THIAGSON - PROPAGANDISTAS DO "FUNK" E ARAUTOS DA BREGALIZAÇÃO CULTURAL.

Oficialmente, a elite do atraso se limita ao raivismo e a algumas espécies facilmente estereotipáveis: a dondoca, o literato idoso com saudades da "antiga sofisticação cultural" do passado, e outros tipos popularizados pelo bolsonarismo: o policial ou o militar do exército "patriota", o delegado "defensor da moral e dos bons costumes", o pastor evangélico a "pedir dinheiro" a quem não tem para montar seu império religioso, ou o "cidadão de bem" vestido com a camisa da CBF pedindo intervenção militar.

Também oficialmente, "culturalismo vira-lata" ou "viralatismo cultural" é um "culturalismo sem cultura", restrito à propaganda política, à "pedagogia do mal" e ao noticiário político reacionário. "Cultura" é apenas um eufemismo para marketing. E transmitida sob a gramática da raiva, a linguagem do hidrofobês, com seus pregadores espumando de ódio com os olhos paranoicos de rancor.

É muito fácil delimitar esse território do elitismo, como se os tataranetos das elites escravocratas da Casa Grande se limitassem a essa multidão relativamente pequena - mas que deu, a Jair Bolsonaro, 58 milhões de votos na votação de segundo turno da eleição presidencial, só dois milhões a menos do que Lula - que, em vez de falar, rosna, grunhe, relincha, mais parecendo humanos convertidos em animais ferozes.

No entanto, há uma outra "boa" elite, uma elite do atraso que não quer ser reconhecida por este nome. Uma elite que se acha "a humanidade", se acha "mais povo do que o povo", já que o povo, em tese, "não tem tempo" para conhecer a si mesmo, tão ocupado na luta pela sobrevivência, e por isso uma minoria de "iluminados e esclarecidos" têm a função de julgar os desejos, vontades e caraterísticas do povo pobre.

Essa "boa" sociedade, que esbanja alegria e, por isso, se acha "desolada" e "tudo de bom", embarca em tudo que lhes parece "vanguarda": eles são "nerds", "alternativos", "provocadores", 'subversivos" e se alinham politicamente "à esquerda". Em 2022, todos votaram em Lula indo para a urna eletrônica de olhos fechados, para votar "13" usando o tato para localizar o "'1" e o "3" no teclado.

Essa sociedade, tão elitista e atrasada quanto a multidão de "animais selvagens" que, em parte, está associada ao terrorismo de Oito de Janeiro, difere no humor, enfatizando a alegria, caprichando no coitadismo e esbanjando festa, hedonismo e libertinagem.

Eles se inserem num Brasil hipermidiatizado e hipermercantilizado que camuflam tais obsessões pela mídia e pelo mercado. Seus partidários fingem não se submeterem ao poder da mídia nem do mercado, pois culturalmente se julgam tão "orgânicos" quanto as criações da natureza e tão "fluentes" quanto o ar que respiramos.

Pode ser um culturalismo estranho, que confunde hit-parade com "alternativo" e lacração com "vanguarda", que inclui personagens de novela como ícones "cult", como Nazaré Tedesco - como se essa fosse a única personagem memorável da talentosíssima atriz Renata Sorrah, de longa e expressiva carreira - e é capaz de espalhar boatos ridículos e fora da realidade, como um hipotético romance entre Fausto Silva e Selena Gomez.

Esse culturalismo, que aparece muito no Instagram, Facebook e WhatsApp, é popularizado pela grande mídia e legitimado por uma elite de intelectuais "bacanas", se baseia num viralatismo cultural tão explícito quanto enrustido, que segue uma longa linhagem de dependência cultural do pop comercial que se faz lá fora e que, volta e meia, faz versões popularescas de sucessos estrangeiros.

Assim como tivemos os "Tapinha Não Dói" e "Festa do Apê" que são versões de pop dançante europeu - usado como troféu da Jovem Pan quando ela, em 1994, derrubou a rádio de rock Fluminense FM - , e antes do Brasil-Instagram uma jovem, hoje evangélica, chamada Stephanie absoluta, ou Stephanie Cross Fox, cantou uma versão forró-brega de um sucesso da Vanessa Carlton, "A Thousand Miles", que virou "Eu Sou Stephanie (Cross Fox)", agora um caso similar está repercutindo nos últimos meses.

Desta vez, é a música da cantora canadense Nelly Furtado, "Say It Right", que teve versão brasileira lançada por uma genérica da Stephanie Absoluta, a MC Treyce, cujo título ilustra bem a obsessão do portinglês da imbecilização cultural do Brasil-Instagram: "Lovezinho". Nelly Furtado até dançou a versão num vídeo, mas depois enviou mensagem pedindo pagamento de direitos autorais.

É sempre esse contexto provinciano da música popularesca, de uma "boa" sociedade que tem sob seu controle um "povão" composto de pobres remediados, capazes de consumir o veneno cultural popularesco, trazido pelas emissoras de TV e por apresentadores conservadores como Raul Gil e Sílvio Santos, mas legitimado por uma narrativa "provocativa" que envolve acadêmicos, jornalistas e artistas.

Recentemente, temos o caso do cantor Rubel, carioca sósia do Murilo Benício, que lamentou que a MPB anda "muito comportada" e alega que o "funk" é "mais brasileiro" (?!). Então tá. Para um país onde se considera "brasileiros" o seriado Chaves, o Orkut, o Super-Homem, o Batman e a Coca-Cola, qualquer coisa brega-popularesca é "mais brasileira" do que nossa rica cultura brasileira original. 

Para todo efeito, o modernista Oswald de Andrade, falecido há quase sete décadas, paga a conta pela americanização vira-lata dos fenômenos popularescos, defendidos por gente como Rubel e o acadêmico Thiagson, pós-graduando da USP também motivado pelo coitadismo de não ver seu ritmo favorito, o "funk", reconhecido "não só como uma vertente da Música Popular Brasileira, mas também como uma variante da música clássica".

E tudo isso é defendido com um discurso coitadista, do "intelectual-coitadinho" que reclama por que a "comunidade acadêmica" e os "especialistas culturais" não compartilham sua causa. O "intelectual-coitadinho" só acha o fenômeno popularesco "divertido" e "engraçado", e ele mesmo gosta porque se diverte com isso. Mas a pretensão de reconhecimento artístico faz parte de seu discurso, algo como alguém querer que um chiclete de bola fosse incluído entre os alimentos altamente nutritivos.

E ninguém pense que esses intelectuais que defendem os fenômenos brega-popularescos são solidários ou especialistas de povo pobre, ou se confundem com o próprio povo pobre, apesar desses ideólogos morarem em apartamentos confortáveis, diante dos quais as favelas são apenas paisagens distantes, o que permite que o "bom" etnocentrismo dessa intelligentzia "mais legal do Brasil" trabalhe a ilusão de que as favelas são "cenários de um Carnaval permanente", uma narrativa fora da realidade, mas que, pasmem, possui um grande consenso em setores influentes da opinião (que se pretende) pública.

Esses defensores da bregalização cultural se consideram "provocativos" em seu paternalismo em relação ao povo pobre. E dentro do Brasil culturalmente vira-lata, há uma inversão na abordagem crítica dos fenômenos da chamada indústria cultural, em relação ao que ocorre na Europa, por exemplo.

Se lá os intelectuais criticam os processos de alienação, a supremacia dos interesses comerciais, destacando a "sociedade do espetáculo" como um perigoso processo de manipulação ideológica por meio do entretenimento, aqui ocorre o contrário. Aqui o que se critica é o senso crítico, intelectuais rebelam-se contra o esclarecimento, exaltando a mediocrização cultural ou creditando a imbecilização da bregalização cultural como "sinônimos" de "liberdade e felicidade" do chamado "povão".

É como um Jean Baudrillard às avessas. Aqui o que se demoniza é a cultura refinada da Bossa Nova, da literatura erudita, da música clássica, ou mesmo de manifestações populares do passado que, mesmo vinculadas ao povo pobre, hoje, são consideradas erroneamente "elitistas", como se até mesmo os batuques autênticos dos escravos que deram origem ao samba brasileiro fossem uma técnica academicista de escolas eruditas.

Aqui o que se combate é o Saber, como se o povo pobre, num país marcado pelo analfabetismo e por uma "cultura" verticalmente pelo poder midiático de rádios e TVs "populares demais" mas controladas por poderosas oligarquias - várias, até pouco tempo atrás, apoiadoras explícitas de Jair Bolsonaro - , vivesse numa condição de "pureza espiritual", pretexto comumente adotado por intelectuais "bacanas" para justificar a inferiorização social do povo pobre, como se as periferias fossem "paraísos bíblicos".

É um discurso hipócrita, de intelectuais de classe média que acham que podem julgar as vontades, os desejos e necessidades do povo pobre. Esses intelectuais mascaram essa visão claramente elitista, etnocêntrica e paternalista com o coitadismo do "combate ao preconceito", do "acadêmico injustiçado", supostamente "sem recursos" para realizar suas pesquisas, embora sabemos que instituições estrangeiras como a Fundação Ford e a Soros Open Society financiam essas pesquisas com muito gosto.

Devemos prestar muita atenção nesse discurso que parece generoso, vindo de intelectuais pró-brega dotados de muito vitimismo discursivo. Eles imaginam que o povo pobre só vive de festa e a "verdadeira cultura popular" que dizem defender não é mais do que uma piada culturalista, em que o povo das "periferias" é visto como se fosse uma paródia idiotizada de si mesmo, mas contraditoriamente induzida a ser levada a sério.

Ou seja, os intelectuais "mais legais do Brasil" nos "convidam" a levar a sério uma imagem idiotizada, caricatural, do povo pobre, como se as regiões de pobreza fossem paraísos de festa 365 ou 366 dias por ano. Embora o discurso se venda como "realista", compartilhado por centenas de cineastas, músicos, jornalistas, ativistas etc, todos numa cadeia de trocas de elogios, de muita carteirada (aquele jornalista que "entrevistou todo mundo", aquele antropólogo que "pesquisou tudo") e muita santificação nas páginas da Internet.

Somente o moleque que escreve estas linhas é que não compartilha dessa canonização coletiva, porque aqui não há a complacência com certas abordagens, que desejam que o povo pobre seja uma multidão de idiotas inofensivos. Aqui mostramos que há a pobreza real, que nada tem de festa, como no caso dos 150 baianos escravizados em Bento Gonçalves, e uma diarista proibida de cozinhar uma simples marmita na casa de um acadêmico.

A bregalização não é o Brasil real, não é o Brasil verdadeiro. Logo, sua "cultura" não é a verdadeira cultura popular. Favelas não são paraísos, e carecem até de acessibilidade e segurança, além de apresentarem quase sempre o desconforto sob todos os aspectos. 

A intelectualidade que fala em bregalização e se acha "dona do povo pobre" é que demonstra ser a elite do atraso em sua face mais sorridente, mas não menos perversa nem menos elitista do que a raiva escancarada dos brutamontes de Oito de Janeiro. Só porque a intelectualidade "bacana" faz o "L" e dança e bebe nos bailes do brega-popularesco, não quer dizer que seja melhor que a outra. Talvez seja até pior, por causa da dissimulação de seu elitismo.

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