Um problema silencioso afeta as mulheres brasileiras.
É a forma como a chamada "mídia popular" está explorando a imagem da mulher solteira.
Ela se torna escrava de um padrão "hedonista", que na prática soa depreciativo e idiotizante.
A "solteira" midiática é induzida a todo tipo de degradação cultural, sob a desculpa do "prazer" e da "liberdade".
Cria-se um falso discurso de empoderamento para depois empurrar as mulheres a uma degradação cultural das mais vergonhosas.
Elas se tornam submissas aos referenciais trazidos pela mídia venal.
Ouvem música popularesca ou outro tipo que seja empurrado por TVs e rádios hegemônicas.
Quando leem livros, é sempre na lista dos mais vendidos.
Não se comprometem a aprimorar conhecimentos, ouvir músicas de qualidade, ver eventos culturais por decisão própria.
Se o telejornal ou o programa de variedades da TV não decidir, elas não vão.
A solteira midiática se divide em dois estereótipos, que mais parecem subprodutos tardios do machismo que nem os machistas querem mais.
Um é a "coitadinha", de perfil "pouco atrativo", que se dedica ao que resta de suas paixões afetivas aos carinhos fraternais com afilhados.
Geralmente ouve sambrega e, mesmo trabalhando fora, têm um apetite pela vida caseira comparável ao das "rainhas do lar".
Outro é a "boazuda", que fica só exibindo o corpo o tempo todo. Geralmente de corpo aberrantemente siliconado, não raro com tatuagens, ela se mostra o tipo mais arrogante da solteira midiática.
Ouve "de tudo", desde que seja música brega-popularesca, e acham que têm a "liberdade do corpo" e o "direito à sensualidade".
As "coitadinhas" são mais tímidas. As "boazudas", mais temperamentais.
Elas são muito confusas em suas perspectivas amorosas. Caem em contradição, o que faz com que essas mulheres sejam vistas como incapazes de ter decisão própria na vida.
Num momento, as "coitadinhas" ficam sonhando, quando ouvem música, com um Thiaguinho ou com o baiano Márcio Victor, do Psirico.
Se aparecem no caminho homens com este perfil, elas se recusam a namorar, por medo.
Mas elas não têm medo quando encontram, nas redes sociais, sósias de um Johnny Rotten que simplesmente afirmam que moram com suas respectivas mães e adoram beber achocolatado em pó.
Aí elas partem para uma paixonite kamikaze, sem perceber que elas não fazem o tipo destes rapazes.
Já as "boazudas" ficam dizendo, num dia, que são "solteiras e felizes", num outro falam que "estão à procura de um grande amor" e no terceiro falam que "os homens têm medo delas".
São frases prontas que se ouve desde os tempos do É O Tchan.
O que faz desconfiar do jogo de interesses que está por trás.
Afinal, as "boazudas" são empresariadas por HOMENS e eles já têm uma fórmula de conduta para suas clientes.
A intelectualidade "bacana" até tentou defini-las como "feministas".
A desculpa era apenas uma formalidade: elas fazem sucesso sem a aparente influência de um namorado ou marido.
Duas "boazudas" levam a hipersexualização às últimas consequências.
Uma é funqueira cujo nome artístico remete a uma fruta considerada de difícil digestão.
Outra é uma ex-integrante da Banheira do Gugu Liberato que recentemente perdeu o título de rainha de escola de samba, substituída por uma idosa de 75 anos bem mais bonita que a antecessora.
As duas são o paradigma de "mulher-objeto" que ofende a imagem da mulher solteira no Brasil.
Arrogantes, as duas são o exemplo do que a mídia venal pode fazer com a emancipação feminina.
É como dissesse à mulher que quer se emancipar: "se quer ser inteligente, discreta e decente, arrume um marido. Se não, que se contente em ficar só mostrando o corpo".
Pior: as duas acham que seu exagerado exibicionismo do corpo são efeito da "liberdade do corpo", como se elas fossem "donas do próprio nariz".
Mas o problema é que elas exibem seus corpos para outros machos, servem de recreio machista para os midiotas que as seguem no Instagram.
Elas servem o machismo recreativo, não podem ser consideradas "feministas" só porque não têm marido.
E elas são as que mais gostam de desempenhar o papel que o machismo impõe às mulheres "sensuais", que vivem apenas de mostrar o corpo.
Isso é aberrante e faz com que a imagem da mulher solteira seja depreciada, vista como uma "irresponsável" e "vagabunda".
Daí que machistas vingativos como Sidnei Ramis, que cometeu a chacina em Campinas, chamam as mulheres de "vadias".
Seria melhor um questionamento mais amplo sobre o machismo recreativo.
Não definir as mulheres-objetos como "feministas" só porque se contrapõem às "recatadas do lar" é um caminho.
Afinal, mulher-objeto e "recatada do lar" são dois lados da mesma moeda.
Elas servem o machismo de formas diferentes, mas sempre subservientes aos ideais machistas.
A mulher que, no lar, faz todo o trabalho para receber o marido na volta pra casa.
A mulher que, fora do lar, se submete aos mais frenéticos desejos sexuais dos mesmos machos.
Por isso que duas das "boazudas" mais obsessivas, a mulher-fruta e a "garota da banheira", acabam sendo, sim, as "funcionárias-padrão" das taras do público machista.
Elas não são feministas. Elas são machistas e mais machistas a cada foto "sensual" que publicam.
Elas são subproduto de uma sociedade machista e, se elas vivem de mostrar seus corpos, é porque elas servem a um público machista, de internautas masculinos e afoitos.
Não há como fazer vista grossa a isso, só por causa do "popular".
É nas classes populares que a mídia venal põe as mais ardilosas armadilhas.
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