Muito bem lembrado o recado do internauta "rudo" no fórum de mensagens do Diário do Centro do Mundo.
Ele lembrou, no caso da influência midiática, o caso do Grupo Fluminense de Comunicação e a relação com a (con)fusão dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro.
Lembrou que o empresário Alberto Francisco Torres, falecido em 1998 e homenageado com o nome da avenida da Praia de Icaraí, em Niterói, era contra a construção da Ponte Rio-Niterói.
Ele era dono do jornal O Fluminense, que era considerado o maior jornal do Estado do Rio de Janeiro.
Alberto ainda viveu para administrar a rádio Fluminense FM, uma das melhores rádios de rock que já existiu no rádio brasileiro.
Segundo "rudo", com a inauguração da Ponte Rio-Niterói e a fusão dos dois Estados, Niterói ficou reduzido a uma cidade do interior. Dessas que nem as cidades do interior querem ser.
Nas palavras de "rudo": "Com isto os politicos deixarem de procurar o Alberto Torres para chantagear e serem chantageados. Uma enorme fonte de renda foi-se embora e o jornal reduzido a quase nada".
A decadência até que demorou um pouquinho para aparecer. Uns vinte anos.
Niterói ainda tentou se impor como uma cidade com status de capital, até mais ou menos a primeira metade dos anos 1990.
Tínhamos a Fluminense FM, que tinha uma programação de primeira, nunca superada por "rádio rock" alguma.
Mesmo numa fase considerada "decadente", em 1986, era capaz de jogar na programação normal lados B de compactos e bandas alternativas sem promessa de lançamento no Brasil.
Como as brilhantes Weather Prophets, Monochrome Set e Teardrop Explodes.
A Fluminense FM deu mais espaço ao Camisa de Vênus do que a baiana 96 FM e mais espaço para o Fellini do que a paulista 89 FM.
Isso trouxe cartaz para Niterói, em termos de cultura jovem, e isso impulsionou a fama da cidade, já humilhada em ser um quintal do Rio de Janeiro.
Nos noticiários da TV, Niterói era creditada nas reportagens como "Rio de Janeiro-RJ".
Já vi reportagens assim. Uma delas na TV Manchete, sobre a implosão do esqueleto em frente à Biblioteca Municipal de Niterói.
Niterói passou a ser a "zona leste" que o Rio de Janeiro sentia falta de ter.
E virou alvo de piada: "a melhor vista de Niterói é a do Rio de Janeiro". Sabe-se que, na orla niteroiense, se vê o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar.
Niterói tentou resistir como pôde, nos anos 80, para se tornar cosmopolita.
Até o começo dos anos 90, tentou seus últimos suspiros.
Mas, depois, sucumbiu. Sua cultura se tornou irrelevante, sem um cenário de MPB e rock relevantes.
E isso numa cidade que deu Sérgio Mendes para o mundo e mostrou o breve brilho de Leila Diniz.
Hoje o cenário "cultural" está entregue ao "funk" e "sertanejo".
Cultura, em Niterói, como no establishment brasileiro, virou um projeto rentista.
Virou uma coisa do tipo "me dê uma verba pública que eu começo a criar".
O jornal O Fluminense deixou de ter a envergadura que teve, ultrapassado por jornais de âmbito nacional, como O Globo e Jornal do Brasil, mais O Dia, de âmbito carioca.
A ciranda midiática também deu seus desfechos dramáticos.
O Correio da Manhã, Diário de Notícias e, bem mais tarde, a Última Hora, saíram de circulação.
O Jornal do Brasil era abatido pela concorrência de O Globo e, no âmbito radiofônico, sentiu uma ciumeira ao ver o Grupo Fluminense de Comunicação brilhar com a Fluminense FM.
Tardiamente e de maneira muito confusa, o Sistema JB muito tardiamente quis transformar a Rádio Cidade numa "nova Fluminense FM", após pensar e repensar sobre o fim da rádio niteroiense.
Sem criar uma rádio do zero, o Sistema JB cometeu o erro grotesco de manter o nome Rádio Cidade e toda a linguagem e mentalidade de rádio de hit-parade.
Enquanto vendia sua imagem de roqueira, fazia sua programação nos moldes da Jovem Pan, adaptadas ao vitrolão "roqueiro" ou coisa parecida.
Virou rádio de jovens reaças entre 1995 e 2006 e, entre 2014 e 2016, tentou ser levada a sério apesar de seu perfil deturpado.
Nem a complacência dos órfãos da Flu FM salvou a Rádio Cidade, que se limitava a tocar bandas seminais com apenas um hit e, sob pressão, mais um ou dois.
O Jornal do Brasil havia cancelado a versão impressa. Seu nicho foi parcialmente acolhido por O Dia, mas a editoria deste é mais popularesca.
Nessa ciranda toda, Niterói virou cidade do interior e o Rio de Janeiro, "paulistanizado" nos anos 90, sucumbiu a um provincianismo que não se imaginava na Salvador dos tempos de ACM.
E o Sul e Sudeste, antes associados ao desenvolvimento social, econômico e cultural, viraram antros de reacionarismo ideológico e bregalização cultural.
E cá temos. Mídia decadente, que respira sob a ajuda de "aparelhos". leia-se "verbas públicas" do governo Michel Temer.
E temos Niterói precisando aprender a se reurbanizar com muitas cidades do interior do país. Feira de Santana, por exemplo.
Comentários
Postar um comentário