Não fosse suficiente a chacina ocorrida no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, anteontem, tragédia semelhante ocorreu no presídio de Boa Vista.
Aos 56 mortos encontrados no presídio da capital amazonense, somaram-se 31 na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, na zona rural de Roraima.
São confrontos abertos, que fazem com que estes presídios se tornem praticamente "hotéis" de criminosos.
O sistema prisional precisa ser revisto e o modelo privado tornou-se falido.
Há também muitos outros problemas. O próprio sistema prisional mais parece uma "indústria de prisões", indiferente a situações dramáticas como os presídios superlotados.
Como se não bastasse a "cultura da violência" que os noticiários policialescos, sob o pretexto de "mostrar a realidade", semeiam nas classes populares, já carentes de valores de cidadania.
E há a questão dos presos provisórios, que se tornam "efetivos" pela burocracia e pelos custos financeiros.
Também não houve trabalhos preventivos de tamanhas tensões.
O "valente" ministro da Justiça do governo temeroso, Alexandre de Moraes, recusou-se a intervir no presídio de Roraima, no ano passado, quando foi revelado clima de tensão entre os detentos.
Naquela época, uma rebelião matou dez detentos e o ministro temeroso não quis mandar a Força Nacional para evitar agravamento.
A governadora de Roraima, Suely Campos, pediu a ajuda em caráter de URGÊNCIA. Mesmo assim, Alexandre de Moraes disse não.
No Maranhão, também houve mortes no presídio de Pedrinhas, em São Luís, no ano passado.
Quem vive na vizinhança desses presídios vive com medo. Difícil conseguir dormir nesses lugares, só sendo possível tendo uma paciência de monge budista.
Tais episódios só agravam a coleção chocante de crises do governo Michel Temer.
Temer definiu a tragédia de Manaus como um "acidente pavoroso".
Denominação infeliz. Não se pode definir isso como "acidente" se as condições para tais confrontos são muito conhecidas, mas tão longamente ignoradas.
Mas também agravam a crise de todo um sistema de valores que vem desde os anos 1970.
Uma sociedade moralista, punitiva, financista, burocrática, que deveria ter ficado obsoleta mas que voltou com toda a força. Força de barra, tentando voltar o relógio para trás.
É esse o contexto do corte de gastos públicos, das reformas trabalhista e previdenciária que farão os trabalhadores serem mais explorados e menos remunerados.
Parece que o Brasil chegou ao ponto da tal panela de pressão que promete explodir de vez este ano.
Forçar a prevalência de paradigmas que não correspondem mais às demandas sociais atuais é impulso para as convulsões sociais de todos os lados, de ricos contra pobres e pobres contra ricos.
Os presídios são apenas um dos panos de fundo mais dramáticos dessa tragédia toda.
Uma lição amarga para um Brasil que se aprisiona a velhos paradigmas que a sociedade conservadora insiste em considerar modernos ou atemporais, mas são muito retrógrados.
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