Hoje as pessoas estão acostumadas com a pintura padronizada nos ônibus.
Mas não era para estar.
Trata-se de uma medida dos tempos da ditadura militar.
Ela foi trazida por Jaime Lerner, prefeito biônico de Curitiba, filiado à ARENA, no auge da ditadura militar.
Lerner é membro do "conselhão" do governo Michel Temer.
Representa, portanto, ideais que não são progressistas, mas conservadores.
A medida de usar "consórcios", "tipos de ônibus", "zonas de bairros" etc etc etc para esconder empresas de ônibus hoje nenhuma resposta alguma traz aos problemas do transporte coletivo.
Pelo contrário.
A medida que carateriza em colocar diferentes empresas de ônibus com uma mesma pintura, decidida por prefeituras ou governos estaduais, chega a favorecer, e muito, irregularidades no setor.
Há suspeitas de envolvimento do grupo criminoso PCC, o mesmo que atua nas rebeliões em presídios brasileiros, numa cooperativa "protegida" pela pintura padronizada.
A cooperativa teria tido, como advogado de defesa, o mesmo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes.
Também existem rumores de que milícias estariam se infiltrando no sistema de ônibus do Rio de Janeiro, também "protegido" pela pintura padronizada.
Em Brasília, há casos de empresas piratas que usam as mesmas cores "padronizadas" das municipais oficiais.
A pintura padronizada cria uma série preocupante de complicações, não bastasse a confusão que traz aos passageiros de ônibus comuns.
Na Grande Belo Horizonte, há empresas que, por atuarem em diferentes cidades e regiões, chegam a ter várias pinturas.
Na hora de transferir carros de uma frota para outra, há maior burocracia e mais custos de pintura ou plotagem.
Além disso, há empresas que trocam de nome e os passageiros são sempre os últimos a saber.
Colocar diferentes empresas de ônibus numa mesma pintura esconde até irregularidades.
No caso da extinta Turismo Trans1000, na Baixada Fluminense, lutar pelo fim da empresa foi possível porque a empresa mostrava sua identidade visual.
E ainda assim foi uma trabalheira, porque, apesar de suas irregularidades - frota velha e sucateada, sem acessibilidade e só renovando com carros de terceira mão - , era difícil acabar com a Transmil, cujos empresários eram "peixes grandes" da política da região.
Imagine se houvesse pintura padronizada e a Transmil e uma empresa de boa qualidade, a Viação Nossa Senhora da Penha, tivessem a mesma pintura.
Seria muito mais difícil combater.
Daí que acostumar com o que é ruim, só porque "dá para encarar", é pior ainda.
O que se observa são remendos de sistemas de ônibus aqui e ali.
Muda-se a embalagem mas a pintura padronizada continua, escondendo empresas de ônibus da população.
As autoridades políticas acham que isso disciplina o transporte coletivo e inibe o poder empresarial.
Na prática, ocorre o contrário.
Empresários até influem na escolha de candidatos políticos, como Luiz Fernando Pezão, governador do Estado do Rio de Janeiro.
E ninguém luta contra a pintura padronizada nos ônibus exigindo a volta das identidades visuais das empresas.
Se cada empresa de ônibus tivesse a sua identidade visual, era mais fácil o povo saber qual empresa estaria prestando um péssimo serviço e qual a que prestava um melhor.
Com a pintura padronizada, isso virou coisa de "especialistas".
Daí que essa medida deveria ser combatida, os militantes do Movimento Passe Livre deveriam agir.
Daria uma ação ainda mais constante.
Do jeito que fizeram, se limitando a protestar "sazonalmente" contra aumentos de passagens de ônibus ou qualquer medida contra o Bilhete Único, o MPL nunca terá o devido cartaz.
Pior: o MPL foi "engolido" pelo próprio clone, o Movimento Brasil Livre, e a ação independente dos estudantes que protestavam contra aumentos nas tarifas foi "privatizada" pelo grupo direitista.
O Movimento Passe Livre poderia ter feito história combatendo o esconde-esconde das empresas de ônibus com a pintura padronizada, medida que não traz transparência alguma.
O MPL poderia revelar um líder, alguém independente que obtivesse carisma entre a população.
Mas não. Coniventes com os ônibus padronizados, acabam inutilizando seu protesto contra os aumentos das passagens.
Acabam repercutindo mal, recebendo críticas de gente conceituada como a filósofa e professora universitária Marilena Chauí.
O MPL ignora que é inútil, num sistema de ônibus com pintura padronizada, congelar as passagens, se os passageiros, pegando ônibus errado e enfrentando trânsito caótico que invalidam o B.U., acabam pagando duas passagens.
Nos padrões do ano passado, portanto, que diferença reduzir R$ 3,80 para R$ 3,40 se, com a confusão dos ônibus padronizados, há risco de pagar duas passagens?
Na prática, não são R$ 0,40 a menos, mas R$ 3,00 a mais. Acaba pondo os trabalhadores no prejuízo.
Para encerrar, com a chegada de Fernando McDowell, que criticou a pintura padronizada nos ônibus cariocas, à Secretaria de Transportes do prefeito carioca Marcelo Crivella, há uma expectativa da medida ser cancelada.
Se for, abrirá um precedente para o fim de uma mentalidade viciada originária da ditadura militar.
E mostrará o fracasso da ilusão de que um logotipo de prefeitura ou governo estadual trazem melhorias para o transporte coletivo.
McDowell promete reestruturar o sistema de ônibus do Rio de Janeiro.
Se ele devolver a cada empresa de ônibus a sua respectiva identidade visual, criando outras alternativas para exibir o nome do consórcio - como um pequeno adesivo, por exemplo - , dará origem a outras iniciativas.
Mas se McDowell apenas trocar a embalagem, mantendo a pintura padronizada, seguindo os exemplos de São Luís, Fortaleza, Juiz de Fora, Brasília e Porto Alegre, será trocar o seis pelo meia-dúzia.
E aí os passageiros continuarão sofrendo os mesmos problemas do sistema de ônibus, com o agravante de não saberem as empresas e não terem a quem reclamar.
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