Em entrevista recente, Caetano Veloso acha estranho definir "funk" e "sertanejo universitário" como mainstream.
Para justificar, apela para o discurso já surrado de "rebelião musical".
Nas palavras de Caetano, sobre o "funk": "uma forma desenvolvida por favelados, esculachada pela crítica durante anos e ainda considerada algo tosco e que não merece respeito não é bem um exemplo de mainstream".
Ou sobre o "sertanejo": O sertanejo universitário é a mais nova (e influenciada pelo axé) marola da grande onda do centro-oeste, de que a cultura dominante do litoral sempre sempre guardou desdenhosa distância".
Ele ainda falou do esforço da axé-music em ganhar prestígio entre os "críticos e bem-pensantes".
Já soa velho esse papo de "subversão" pelo brega-popularesco.
O que a gente vê é um establishment escancarado.
Recentemente, tivemos Nego do Borel gravando com Anitta e Wesley Safadão.
A gente tem um establishment musical que tem eles, tem Solange Almeida, Luan Santana, as duplas de "sertanejo universitário" etc etc etc.
Já está velho aquele discurso do tipo: "com o 'funk', as favelas apavoram as elites da Zona Sul" ou "os sertanejos tomaram de vez a orla do Leblon".
Essa "retórica da rebelião" não serve sequer para vender disco, quanto mais para influenciar a opinião pública.
Hoje o que se vê é que tudo isso é um comercialismo musical dos mais escancarados, em que até "sertanejos" e "pagodeiros" dos anos 90, agora fazendo "MPB de mentirinha", não deixam de fazer parte.
Todos fazendo música comercial ou releitura, via música comercial, de clássicos da MPB, e fingindo que não estão sendo comerciais.
A MPB está sendo desmontada, depois que a intelectualidade "bacana" impediu que se articulasse um movimento emepebista como nos primórdios da ditadura militar.
Aquilo gerou um vexame para os generais, porque a cena musical brasileira impulsionou estudantes a irem para as ruas e jornalistas a protestarem contra a ditadura.
Da MPB dos Festivais, se deu iniciativas como a revista Pasquim, por exemplo.
Era demais para a ditadura que queria castrar o país.
E é por isso que, já na crise do governo Fernando Henrique Cardoso, intelectuais associados foram recrutados para passar os 13 anos do governo PT colados nos esquerdistas.
Tudo para evitar o debate cultural e empurrar o jabaculê de "funk", "sertanejo" e outras comercialices bregas para a aceitação, a mais bovina possível, da sociedade mais culta.
Aquela choradeira do "combate ao preconceito" para aceitar uma imagem preconceituosa das classes populares, já idiotizadas pelo brega-popularesco, o "folclore de proveta" da mídia venal.
Uma "cultura popular de cativeiro", que o discurso intelectual quer vê-la "autêntica", reivindicando "respeitabilidade" ao jabaculê de hoje, que querem que seja o "folclore de amanhã".
Diante de tanto "mimimi" que fala em "rebelião", "fim do preconceito", "favela descendo o morro", "sertão chegando para a praia", a realidade é simplesmente crua.
O que se vê é tão somente a consagração do hit-parade musical.
E é mainstream, establishment, até demais.
E eu recentemente, só vi a crítica especializada elogiando funqueiros, "sertanejos" e tantos mais.
Cadê os ataques da crítica especializada?
Ou a intelectualidade "bacana" está traumatizada com críticas de 20 anos atrás?
Hoje os "sucessos do povão" são até o mainstream do mainstream do mainstream.
O mais hit-parade do hit-parade, mas que tenta vir com discurso militante para forçar a aceitação dos "bem-pensantes".
Isso mostra uma coisa. O arrivismo da música comercial brasileira.
Que não se contenta com plateias lotadas, discos vendidos, visibilidade plena na mídia, elogios da crítica especializada.
Eles querem o reconhecimento de uma meia-dúzia de críticos exigentes.
Os ídolos popularescos têm tudo nas mãos, e se preocupar com um detalhezinho desses dá pena.
É como se quisessem ser julgados e recebessem só elogios.
Pensando assim, acabam subestimando o próprio sucesso.
São coisas de um país esquisito como o Brasil, de um comercialismo musical ao mesmo tempo escancarado e nunca assumido.
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