Um grave incidente envolveu um desses programas de noticiário policialesco transmitidos à luz do dia nas programações nacionais e regionais da TV aberta.
O apresentador Marcos Paulo Ribeiro de Moraes, conhecido como Marcão do Povo ou Marcão Chumbo Grosso, apresentador da edição do Balanço Geral no Distrito Federal, fez um comentário racista.
Criticando o fato da funqueira Ludmilla não cumprimentar fãs, Marcão veio com essa grosseria: chamou a cantora de "macaca".
Apresentadores desse porte adotam um perfil muito conhecido e bastante truculento.
São dublês de jornalistas, metidos a sub-prefeitos e a justiceiros.
Se acham com respostas para os problemas urbanos, para a segurança, para os buracos nas ruas.
Fazem juízo de valor para tudo, e ficam dando pitaco naquilo que não entendem.
E, com seu patrulhamento moralista, mais ofendem e agridem do que exercem a dignidade que dizem ter.
É certo que Ludmilla é uma cantora comercial e se enquadra num lamentável cenário em que a música brasileira se escancara num mercantilismo cada vez mais voraz.
Mas nem por isso ela merece xingações da mais baixa categoria.
Até porque ser negra é uma das qualidades positivas de Ludmilla, por sinal de traços bonitos e graciosos.
O incidente mostra uma colisão entre o popularesco noticioso e o popularesco musical.
E demonstra a decadência dos noticiários policialescos de televisão, exibidos geralmente na hora do almoço ou no fim de tarde.
São programas que, infelizmente, são formadores de opinião e de atitude nas mesmas classes populares que ouvem Ludmilla nas rádios.
Mas se o pop de Ludmilla é inofensivo - até menos grotesco do que o de Valesca, por exemplo - , na linha de Anitta, o noticiário policialesco é um fenômeno bastante perigoso.
Os noticiários policialescos de TV são verdadeiras "oficinas de criminosos", na medida em que glamouriza a violência, um prato cheio para a afirmação pessoal dos que são desprovidos de educação escolar, cidadania e não tem a quem recorrer na sua vida de pobreza.
Programas como Balanço Geral, Cidade Alerta e Brasil Urgente são em boa parte responsáveis pelas superlotações nos presídios brasileiros, fora a burocracia relacionada às prisões provisórias de gente pobre, sem dinheiro para pagar um advogado.
São programas que, na melhor das hipóteses, deveriam ser transmitidos no alto da madrugada.
Não há a menor justificativa para programas televisivos assim serem transmitidos de dia, expostos até ao público infantil.
A desculpa da "cobertura da realidade" não procede, da mesma forma que o moralismo de padrões medievais dos apresentadores.
A propósito, Marcão Chumbo-Grosso foi demitido e substituído por Dionísio de Freitas.
E Ludmilla já está preparando o processo judicial contra o apresentador.
Desejamos boa sorte a ela e que o apresentador Chumbo-Grosso receba a devida punição legal.
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