É complicado tentar admirar ou não uma famosa, porque o risco de cancelamento é alto.
É certo que a "cultura do cancelamento" gera exageros lamentáveis, mas o ato de cancelar uma famosa por algum ato equivocado é, muitas vezes, um sinal de prudência.
Duas famosas que pareciam se tornar mulheres legais decepcionaram com suas atitudes recentes, fortalecendo o estereótipo que as fazia não muito admiráveis assim.
São os casos de Marina Ruy Barbosa e Andressa Urach.
Elas poderiam ser símbolos, respectivamente, da "patricinha" rica e da mulher-objeto e até serviram como "cabras expiatórias" da indignação seletiva que existe até mesmo dentro das esquerdas, que só criticam mulheres que, associadas a um universo duvidoso, se expõem de forma bastante explícita.
Um exemplo de que as esquerdas passam muito pano, quando lhes é conveniente, é quanto à Mulher Melão. Ela apoiou a Operação Lava Jato, sabotou um toplesszaço educativo (a ação era uma campanha contra o câncer de mama) e erotizava em total desprezo a qualquer contexto.
No entanto, as esquerdas se silenciavam a respeito da Mulher Melão. Dentro das esquerdas identitárias, deve ser por causa da "sororidade" (espécie de "corporativismo" do sexo feminino) ou pela libido que atiçava nos chamados "esquerdomachos" (sim, eles existem).
Marina e Andressa pareciam a Tiazinha e a Feiticeira dos anos 2010, comparando com as duas musas (Suzana Alves e Joana Prado) dos anos 1990 que pagavam os pecados delas e das dançarinas do É O Tchan e das musas da Banheira do Gugu.
Mas ocorre que Marina e Andressa podem também decepcionar, e é o que, infelizmente, aconteceu.
Marina Ruy Barbosa parecia aquela it girl que soa muito rara no Brasil, ou, quando existe, está sempre associada à vida marital com um empresário ou aristocrata em geral. E era, porque a atriz foi casada durante um tempo com o piloto Alexandre Negrão.
Eu imaginava que a atriz era pé-no-chão, parecia ser comedida e prudente. Eu mesmo, certa vez, expliquei que o suposto photoshop da atriz era uma ilusão de ótica por conta de um casaco aberto. Achava injusto atacarem Marina por um reparo digital que não houve.
Mas ela, além de namorar um bolsonarista, o deputado Guilherme Mussi - a essas alturas do campeonato, se juntar a um bolsonarista é como alguém ir à praia durante um temporal - , realizou uma festa com aglomeração, um ano após ela ter reprovado o mesmo ato.
Em 2020, ela havia postado críticas a pessoas que realizavam festas numa época de pandemia.
No último fim de semana, ela realizou a sua, com temática dedicada à festa junina, ou melhor, festa julina, pois estamos em julho, e, embora tenham comparecido 50 pessoas no evento, realizado na casa de Mussi, houve aglomeração.
Claro que Marina se envolveu em outras polêmicas, mas achava que não eram tanto assim. Ainda mais namorando um bolsomínion, claramente negacionista quanto aos cuidado preventivos à Covid-19.
Já Andressa Urach parecia que iria abandonar seu status de mulher-objeto, consagrado pelo título de vice-Miss Bumbum.
Ela até virou neopentecostal e bolsonarista. Mas mesmo nessas condições ela parecia um pouco mais decente, poderia até mesmo superar um inicial reacionarismo.
Quando ela se desiludiu com a Igreja Universal, parecia que ela iria melhorar. Mas piorou.
Estava tirando as tatuagens, mas teve uma recaída e permitiu que seu filho iniciasse sua tatuagem.
Ela voltou ao Miss Bumbum, agora como apresentadora e garota-propaganda, e, quando se casou com Thiago Costa, assumiu fazer o papel de mulher submissa, rejeitando o feminismo.
E mais. Ela afirmou também que não é uma bolsomínion arrependida e que pretende votar na reeleição de Jair Bolsonaro.
Num país culturalmente decadente como o Brasil, é mais comum uma famosa cancelável do que uma que fosse digna de uma admiração mais efetiva.
Recentemente, Juliana Paes demonstrou ser uma bolsomínion enrustida, esbanjando reacionarismo tipicamente bolsonarista mas jurando que "não apoia Bolsonaro".
Teve também a ex-atleta de vôlei olímpico, Fernanda Venturini, que só foi vacinar contra a Covid "para poder viajar", e ainda assim esnobando as exigências de prevenção contra a pandemia. Fernanda já fez campanha para Jair Bolsonaro e acompanha a ex-colega Ana Paula Henkel no reacionarismo.
E teve Rita Guedes, que eu também achava muito pé-no-chão, publicou frase de "médium" picareta e reacionário que apelava para a positividade tóxica. O tal "médium" sempre defendeu ideias retrógradas e pedia para os sofredores nunca reclamarem da vida, aceitando a desgraça calados.
Mas temos também a grande decepção de Cléo Pires ser agora uma "identitária narcisista", perdendo o tempo botando tatuagens no seu corpo que fazem ela ter um visual "pesado" e sem graça.
Ela prefere fazer essa personagem do que ser o que ela mesma era há mais de dez anos, bem mais legal e mais espontânea e natural, sem forçar a barra com pretensos identitarismos nem apelar para a ditadura estética dos corpos tatuados, fruto da obsessão em se parecer "diferente".
Dava gosto ver Cléo Pires em 2008, 2009, mais natural, mais ela mesma, com o corpo mais natural e a personalidade mais fluente e sóbria.
Cléo era diferente da de hoje, ela não tinha a atual obsessão arrogante de bancar a "diferentona" e "provocadora" dos dias de hoje.
E essa mesma decepção que sinto com a Cléo se volta também para a Demi Lovato, que atualmente está lamentável forçando a barra com esse "não-binarismo". Demi também chegou a ser legal há quase quinze anos atrás, chegou a ser até uma sósia teen da Magda Cotrofe.
Preconceito? Fico imaginando se antigos colegas de escola vissem essas famosas hoje e dissessem "nos tempos de escola elas eram mais espontâneas, simpáticas e divertidas". E há muitos casos assim.
Não sou machista e creio que a mulher não precisa se sensualizar demais e fora do contexto, ouvir músicas ruins, cultuar "médiuns" trapaceiros e ficar tatuando o corpo para parecerem interessantes.
Elas vão também no mesmo paredão do cancelamento de musas bolsonaristas ou it girls aristocráticas que namoram bolsomínions.
Talvez depois do carnaval identitarista passar, as mulheres possam perceber que liberdade verdadeira não é "rabiscar o corpo", ouvir sucessos musicais popularescos nem ficar cultuando religiosos picaretas.
Nesse triste caldeirão de Miss Bumbum, it girls burguesas, narcisistas tatuadas e "espiritualistas" iludidas, as mulheres famosas só não se sujeitam a tantas descurtidas porque, nas redes sociais, o pessoal gosta de passar pano, mesmo. O Brasil está culturalmente decadente.
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