Pular para o conteúdo principal

LONGA ESPERA PREJUDICOU PASSEATA DO 24 DE JULHO

PROTESTO CONTRA JAIR BOLSONARO NO 24 DE JULHO NO RIO DE JANEIRO, NA AVENIDA PRESIDENTE VARGAS.

O hiato das grandes manifestações acabou prejudicando o 24 de julho, que foi anunciado como o grande momento dos protestos contra Jair Bolsonaro.

Em comparação com o 19 de junho (750 mil manifestantes) e o 03 de julho (800 mil), o número de manifestantes de 24 de julho foi de 600 mil, o que de certa forma preocupa.

Enquanto isso, Jair Bolsonaro não se sente derrotado e a semana teve as ameaças do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, de intervir para cancelar as eleições de 2022.

Aparentemente, o Legislativo e o Judiciário prometeram agir para frear a ameaça militar.

Mas Braga Netto foi para a motociata com Bolsonaro, como um herói dos bolsonaristas.

Preocupa essa arrogância das esquerdas que, sob o risco de perder, acham que estão com o jogo ganho.

Fora manifestações pontuais aqui e ali e o "aquecimento" do 03 de julho, além da necessidade de ir para as ruas sob o gancho dos 53 anos da Passeata dos Cem Mil, em 26 de junho passado, a "nata" dos manifestantes preferiu descansar.

O pessoal não gostou das críticas que este blogue fez e eu fiz nas redes sociais quanto ao hiato das manifestações.

Parece que, para as esquerdas festivas, os protestos populares são só uma encenação, e a ideia original era descansar depois do 19 de junho para, em 24 de julho, voltar a fazer a "festa (?!) da democracia".

O que é isso? Protestos populares ou micaretas identitárias?

É raro ver o Brasil se salvar por protestos pontuais ou por atitudes individuais isoladas.

Na semana que se encerrou, uma manifestação muito interessante veio de um ex-colega meu de escola, o locutor João Guilherme, que estudou comigo no colégio IEPIC, em Niterói, em 1982 e 1983 e foi também meu colega nas aulas particulares do professor Romário, em 1983.

O professor particular, até pouco tempo atrás, mantinha uma banca em Icaraí, mas em 2020 passou para outro, vendo as dificuldades para vender jornais, revistas e outros artigos.

João Guilherme é um dos melhores locutores esportivos da atualidade. Não curto futebol e não falo isso por questões pessoais. É porque ele tem talento, mesmo.

Com sua excelente voz e elegante dicção, sua segurança, simpatia e equilíbrio em narrar e apresentar programas, João Guilherme somou ao seu talento uma atitude discreta de desprezo a Jair Bolsonaro.

Durante um jogo da taça Libertadores da América, entre o Flamengo, do Rio de Janeiro, e o Defensa y Justicia, da Argentina, quando a câmera estava mostrando o presidente Bolsonaro na plateia, João Guilherme simplesmente nada comentou a respeito.

Ele comentou a partida focando apenas o futebol, como se Bolsonaro fosse apenas um anônimo na plateia.

E isso com a natural serenidade que é a marca de João Guilherme e que garante sua merecida empatia com o público.

Excelente profissional da comunicação, João foi elogiado pela sua atitude equilibrada e sutil de desprezar o presidente. Meu ex-colega e amigo de infância está realmente de parabéns.

Mas são poucas as manifestações interessantes, nesse tempo. E o hiato entre o 19Jn e o 24Jl - que mais lembra Jennifer Lopez, a morenaça que fez 52 anos no dia - acabou cansando quem esperava que o 24 de julho fosse um marco.

A adesão menor do 24Jl só teve um momento alto.

Foi foi o incêndio que um grupo de manifestantes fez na estátua do bandeirante paulista Manuel de Borba Gato (1649-1718).

Como todo bandeirante, Borba Gato foi conhecido por caçar e capturar índios e negros e também ser escravista.

Embora polêmica, por parecer ato de vandalismo, a atitude Foi apoiada por boa parte da sociedade que agora não se ilude com pretensos heróis da história antiga do nosso país.

Vejam o que as redes sociais estão fazendo com os brasileiros, como se não bastassem humanos serem as mercadorias do Facebook, Instagram e WhatsApp, entre outros.

As pessoas estão vivendo numa realidade paralela, achando que tudo está bem, porque estão no conforto de casa dentro de suas bolhinhas sociais.

Pensam que produzir memes contra Bolsonaro e apelar para a "conversa de comadres" irão derrubar o presidente, só porque a pequena centena de internautas interagem com muita concordância e acordo.

Mas o fato da deputada A falar com a professora B que fala com o jornalista C e com o blogueiro D, todos concordando com a "gravidade do governo Bolsonaro", não contribui, em si, para ações concretas para derrubar o presidente.

Essa zona de conforto, que acreditava que a memecracia em si iria derrubar o presidente Bolsonaro, o general Mourão e o deputado Arthur Lira e abriria espaço para um governo provisório de Lula, é uma grande ilusão.

E o grande hiato do 19 de junho para 24 de julho, da parte de esquerdistas influentes, fez cansar as manifestações de tal forma que o que deveria ser um momento histórico tornou-se um relativo fracasso.

A adesão ainda foi grande, 600 mil em várias partes do Brasil e no resto do mundo, mas muito inferior ao que se esperava, estando acima somente dos protestos de 29 de maio, com a adesão de 420 mil.

Imaginava-se que seriam mais de um milhão, mas, sabe como é, descanso demais deixa a pessoa cansada.

O Brasil não está numa situação boa, está socialmente frágil e culturalmente medíocre, e ninguém gosta que esta verdade seja dita.

Mas é o que acontece.

Uma considerável parcela de brasileiros teima em achar que vivemos no paraíso terrestre, e muitos jornalistas e intelectuais "isentões" passam pano em tudo isso, tentando ver um Geraldo Vandré em cada palavrão dado por um funqueiro, como quem enxerga cabelo em ovo.

Num contexto em que um dos maiores sucessos da música brasileira é a medíocre "Bipolar", de MC Davi, MC Pedrinho e MC Don Juan, ícones do "funk ostentação", em que os MCs não cantam, gritam, não se pode dizer que estamos num "excelente momento".

Mas talvez os nossos "brilhantes intelectuais" sejam também um pouco medíocres ou, se não for o caso, de repente desejam fazer parte dessa mediocridade festiva e infantilizada, onde tudo "parece legal". Querem "tomar no cool" achando que qualquer coisa que atrai jovens para as festas é "genial".

São os sinais dos tempos. Tem artistas, jornalistas e intelectuais com certa competência que exaltam o "funk", outros que esnobam os cuidados com a Covid-19, outros que acham que Jair Bolsonaro é a salvação do Brasil.

E tem aqueles que acham que Lula não é Lula, mas um cosplay de Dom Pedro II que já está eleito presidente da República e que fará o Brasil em frangalhos retomar o caminho de 2010 e entrar no Primeiro Mundo em 2026.

Tantas tolices, tantas credulidades, é fé demais e razão de menos. E, em certos casos, muito "baseado".

Estamos na hora do pessoal sair das bolhas digitais e reaprender a encarar a realidade.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

LULA, O MAIOR PELEGO BRASILEIRO

  POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, LULA DE 2022 ESTÁ MAIS PRÓXIMO DE FERNANDO COLLOR O QUE DO LULA DE 1989. A recente notícia de que o governo Lula decidiu cortar verbas para bolsas de estudo, educação básica e Farmácia Popular faz lembrar o governo Collor em 1991, que estava cortando salários e ameaçando privatizar universidades públicas. Lula, que permitiu privatização de estradas no Paraná, virou um grande pelego político. O Lula de 2022 está mais próximo do Fernando Collor de 1989 do que o próprio Lula naquela época. O Lula de hoje é espetaculoso, demagógico, midiático, marqueteiro e agrada com mais facilidade as elites do poder econômico. Sem falar que o atual presidente brasileiro está mais próximo de um político neoliberal do que um líder realmente popular. Eu estava conversando com um corretor colega de equipe, no meu recém-encerrado estágio de corretagem. Ele é bolsonarista, posição que não compartilho, vale lembrar. Ele havia sido petista na juventude, mas quando decidiu votar em Lul

O ETARISTA E NADA DEMOCRÁTICO MERCADO DE TRABALHO

É RUIM O MERCADO DISCRIMINAR POR ETARISMO, AINDA MAIS QUANDO O BRASIL HOJE É GOVERNADO POR UM IDOSO. O mercado de trabalho, vamos combinar, é marcado pela estupidez, como se vê na equação maluca de combinar pouca idade e longa experiência, quando se exige experiência comprovada em carteira assinada até para coisas simples como fazer cafezinho. O drama também ocorre quando recrutadores de "oficinas de ideias" não conseguem discernir reportagem de stand up comedy  e contratam comediantes para cargos de Comunicação, enganados pelas lorotas contadas por esses humoristas sobre uma hipotética carreira jornalística, longa demais para suas idades e produtiva demais para permitir uma carreira paralela ou simultânea a gente que, com carreira na comédia, precisa criar e ensaiar esquetes de piadas. Também vemos, nos concursos públicos, questões truncadas e prolixas - que, muitas vezes mal elaboradas, nem as bancas organizadoras conseguem entender - , em provas com gabaritos com margem de

MAIS DECEPÇÃO DO GOVERNO LULA

Governo Lula continua decepcionando. Três casos mostram isso e se tratam de fatos, não mentiras plantadas por bolsonaristas ou lavajatistas. E algo bastante vergonhoso, porque se trata de frustrações dos movimentos sociais com a indiferença do Governo Federal às suas necessidades e reivindicações. Além de ter havido um quarto caso, o dos protestos de professores contra os cortes de verbas para a Educação, descrito aqui em postagem anterior, o governo Lula enfrenta protestos dos movimentos indígenas, da comunidade científica e dos trabalhadores sem terra, lembrando que o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) já manifestou insatisfação com o governo e afirmou que iria protestar contra ele. O presidente Lula, ao lado da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, assinou, no último dia 18, a demarcação de apenas duas terras para se destinarem a ser reservas indígenas, quando era prometido um total de seis. Aldeia Velha (BA) e Cacique Fontoura (MT) foram beneficiadas pelo document