Quando se fala que Lula, se for eleito em 2022, terá que ter muito pulso firme, mas muito mesmo, para tirar o Brasil da crise, é bom levar a sério.
As dificuldades que ele enfrentará são muitas. Não se trata de marolinha. O Brasil de Bolsonaro está arrasado, decadente, sucateado.
Achar que só auxílio emergencial de R$ 600 irá desenvolver o país é uma visão que nem é ingênua, mas profundamente idiota.
Afinal, será difícil voltar aos níveis de progresso econômico e social de 2010, porque a situação é outra, e negativamente diferente.
A Petrobras está enfraquecida e se encolhendo aos poucos, até reduzir-se a nada. A BR Distribuidora é uma empresa majoritariamente estrangeira e a atual direção da Petrobras quer vender o que resta de ações da estatal brasileira para entregar toda a antiga subsidiária aos gringos.
Temos também os projetos de privatização da Eletrobras e dos Correios, que afetarão os serviços de energia elétrica e entrega de correspondências e produtos comprados à distância.
E tudo isso incluindo demissões em massa, coisa que nenhuma privatização alega que irá fazer, mas é de sua natureza realizar, botando muita gente para o olho da rua.
Esse cenário todo mostra que não dá para o governo Lula ser "o melhor de todos", porque as dificuldades são imensas.
Temos um anti-petismo forte, raivoso e rancoroso, que se manifesta fortemente nas redes sociais.
Nossas riquezas nacionais e empresas públicas estão sendo vendidas para os estrangeiros.
A legislação trabalhista extinguiu muitas das conquistas históricas, fruto de lutas nada pacíficas. A precarização profissional, que sempre ocorreu na surdina, virou lei.
Além disso, Lula estabeleceu uma "frente ampla anti-Bolsonaro", negociando com a direita moderada, e o risco dele fazer um "governo de terceira via" é muito grande.
É muito estranho que muitos golpistas de 2016, que apoiaram com gosto a derrubada de Dilma Rousseff, agora de repente passaram a apoiar Lula.
Como diz o ditado, "esmola quando é demais, o santo desconfia". Tanta gente da direita moderada apoiando Lula?
Da noite para o dia - em dimensões da História, o golpe de 2016 ocorreu "ontem" - , aqueles que chamavam Lula de "ladrão" agora o consideram "o único líder capaz de recuperar o Brasil".
Temo que Lula tenha cedido em vários pontos de seu programa de governo. É o preço de se fazer uma frente ampla "furando a bolha" onde não se deve, usando como critério a visibilidade da direita moderada ou o oportunismo de direitistas também moderados de conduta mais efusiva.
E isso poderá refletir na equipe ministerial, que irá aplicar as medidas para resolver a crise brasileira, em diversos âmbitos, conforme a responsabilidade de cada pasta ministerial.
Os partidos políticos envolvidos na grande aliança vão querer sua fatia no ministério de Lula, e isso poderá demonstrar o quanto o programa de governo tem grandes chances de ser prejudicado.
Esse projeto pode ser rebaixado a padrões comparáveis com os de um governo da "terceira via".
Será constrangedor ver Lula fazendo o papel que seria de Luciano Huck como presidente da República, por causa das pressões de uma boa parcela de aliados.
O risco de um partido de direita moderada pegar os ministérios da Fazenda e do Planejamento é grande, e isso causará um maior prejuízo ao projeto político de Lula.
As esquerdas sonhadoras acham que Lula vai derrubar todo tipo de barreira e seu governo só será "puramente de centro-esquerda", mesmo que tudo o que o presidente faça é resolver a crise sócio-econômica com auxílio emergencial de R$ 600.
Lula enfrentará dificuldades pesadas, porque o Brasil está arrasado.
Ele poderia ter sido mais cauteloso na articulação das alianças, ou ao menos revê-las enquanto é tempo, pois faltam 11 meses para a campanha de 2022 começar.
Se Lula se resignar a fazer um governo de "terceira via" e apostar na ilusão de que um auxílio emergencial de R$ 600 irá milagrosamente colocar o Brasil no Primeiro Mundo, seu papel histórico poderá se tornar humilhante. Cabe a Lula pensar nisso.
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