Recentemente, a atriz britânica Florence Pugh deu entrevista ao jornal inglês Sunday Times reclamando da estranheza do público com o namoro dela com o ator e cineasta Zach Braff, consagrado pelo seriado Scrubs.
A estranheza se dá porque Florence tem 25 anos e Zach tem 46.
A atriz de Adoráveis Mulheres (Little Women) foi publicar uma foto de Zach no aniversário dele, em 2020, e uma multidão de odiadores se formou contra ela.
Na época, Florence disse que tinha 24 anos e não precisava que alguém lhe dissesse quem ela devia ou não amar.
E olha que Zach ainda tem jeito de garotão e parece tão jovial que poderia muito bem se "confundir" com os rapazes da geração dela.
Os homens mais velhos, neste caso, só são cobrados quando são joviais. Mesmo em diferenças grandes.
Fico imaginando se Dave Grohl, dos Foo Fighters, de repente se separasse da atual mulher e resolvesse namorar a Olivia Rodrigo. As cobranças seriam as mesmas.
No Brasil, cobranças semelhantes aconteceram contra a relação de Marcelo Camelo, do grupo Los Hermanos, com a cantora Mallu Magalhães, então saindo da adolescência.
Mas não há cobrança quando o homem mais velho adota um comportamento realmente mais velho, fechado para a juventude da própria mulher.
Ninguém fez cobranças quando Catherine Zeta-Jones se casou com Michael Douglas. Admiro ele como ator, mas acho ele, como pessoa, ainda preso num padrão adulto antiquado e sério demais.
Ninguém, por exemplo, faz cobranças para a Bianca Rinaldi por estar casada com o empresário Eduardo Menga, com diferença etária não muito diferente da de Florence com Zach.
Menga é daquela geração de empresários e profissionais liberais - que inclui os médicos Almir Ghiaroni e |Malcolm Montgomery e cujo ícone famoso é o empresário Roberto Justus - dotada de muito pedantismo e que forçam a barra para parecerem "autenticamente velhos".
Eles nasceram nos anos 1950 e, na juventude, ouviam Doobie Brothers, Bee Gees e disco music, mas depois que completaram 50 anos passaram a fingir que gostam de jazz só para parecer "bem na fita".
Por sorte, os homens mais velhos que agem como "coroas autênticos" não são cobrados por causa dos valores patriarcais que fazem a sociedade ver fetiche na mocinha casada com um homem "maduro".
Só que hoje até os "coroas autênticos" estão sofrendo pressões das mudanças sociais. As cobranças são raras e quase imperceptíveis, mas de alguma forma elas acabam surtindo efeito nos bastidores da vida social.
Os "coroas" trocaram os sapatos de couro (foi uma grande gafe usar sapatos desconfortáveis para o lazer, sacrificando os pés em nome do "bom gosto") pelos sapatênis, novo nome do tênis social que os jovens usaram desde os anos 1950.
Por questões de saúde, eles estão abandonado as bebidas alcoólicas, fazendo caminhadas e usando bicicletas, e isso inclui o consumo recreativo de bebidas "de jovens" que eles só bebiam em razões protocolares, como em workshops.
Isso depois daquela enésima cerveja quase matar os "coroas" por conta de um sério problema no fígado.
Os "coroas" cansaram de esperar por uma reprise de Papai Sabe Tudo (Father Knows Best) e agora assistem a Friends no streaming. Os astros do cinema deixam de ser James Stewart e Rita Hayworth para ser Adam Sandler e Jennifer Aniston.
Cansaram de ouvir Frank Sinatra e Frank Pourcel e hoje vasculham as discotecas de seus filhos de 40 e tantos anos, além de ouvir Titãs, Engenheiros do Hawaii e Skank na Nova Brasil FM.
Num momento de crise social em que a geração que tem mais de 50 anos sente o prejuízo das aventuras golpistas pós-2016, os mais velhos estão muito mais para ouvirem, quase sempre calados, o que os mais jovens têm a dizer, do que para contar histórias daquilo que não entendem direito.
Os malefícios dos golpes políticos e os surtos reacionários da turma da casa dos "60 anos", com apetite estranhamente "aborrecente", foram a ducha de água gelada numa geração cujos "coroas" mais granfinos sonhavam em ser "filósofos" e "arqueólogos culturais" sem o menor preparo para isso.
Nas redes sociais, os "coroas autênticos" são obrigados a assimilar referenciais mais jovens transmitidos nesses espaços digitais.
Empresários de 70 anos têm que usar o figurino universitário dos novos executivos do Big Tech, senão acabam ficando "cringe" (termo da moda) com seus velhos paletós escuros e os sapatos de couro que, de tanto machucar os pés, já causaram dores nas articulações.
Além disso, em muitos casos os "coroas" de 65, 70 anos casados com moças 15, 20 anos mais jovens são obrigados a engolir que até os "meninos" da faixa etária das esposas também estão ficando grisalhos ou de cabelos brancos.
Já acostumado com meus 50 anos, aparentemente vejo meu rosto envelhecer e meus fios de cabelo se embranquecerem aos poucos.
Mas não me submeto ao etarismo. Penso na minha juventude todos os dias e vejo no menino de 13 anos que eu fui com muito respeito e admiração.
Se mudei, não foi para deixar de ser eu mesmo. O etarismo que força as pessoas a agirem "de acordo com a idade" tem a triste façanha de impor papéis diferentes a cada faixa etária, praticamente transformando numa pessoa em alguém diferente de si mesmo de dez em dez anos.
Não tropecei nos 50 anos para esbanjar pedantismo em relação ao passado e lutar para recuperar valores obsoletos.
Continuo tomando refrigerante, vendo rapazes de esqueite fazendo manobras toscas, mas divertidas, ouço rock de garagem e sou capaz de ver programas da Nickelodeon.
Se eu namorar uma mulher bem mais jovem, posso não só valorizar o universo dela, como também interagir com os rapazes da idade dela, com a naturalidade de alguém da geração deles.
Eu até fico perguntando se, nos EUA, as garotas pós-mileniais não estão vivendo uma renascença cultural, cansadas desse pop coreografado sem pé nem cabeça dos anos 2000-2010.
Se for assim, talvez fosse melhor namorar uma mulher mais nova, que apresente essa nova sensibilidade, do que a confusão ao mesmo tempo envelhecida e infantilizada de muitas mulheres da minha geração.
Fala-se muito do mal das "princesas da Disney" e similares, mas que diferença têm mulheres de 50 anos tratarem um "médium espírita" charlatão que usava peruca no auge da carreira e hoje é tratado, mesmo depois de morto, como se fosse uma "fada-madrinha" para gente crescida e, em tese, experiente?
Se tolices como essas são vistas entre o pessoal "cheio de histórias para contar", então que maturidade se espera das pessoas com mais de 50 anos? Ainda mais aceitando livros fake com supostas autorias de mortos como Humberto de Campos que nem de longe lembram os estilos originais!
Talvez tenhamos que esperar as gerações futuras trazerem não só histórias, mas experiências práticas realmente novas, que os velhos não conseguem perceber.
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