É certo que Lula é a melhor opção para resolver o Brasil em crise, pelo seu projeto político ter maior afinidade com os anseios das classes populares.
É também certo que Lula é considerado favorito para a sucessão de Jair Bolsonaro, desmoralizado este pelo seu desprezo à população brasileira, cujo ponto máximo foi a pandemia da Covid-19.
Mas isso não quer dizer que Lula já tem a batalha ganha, porque ela ainda nem começou.
E Bolsonaro está querendo manipular o processo eleitoral, com o seu projeto de "voto impresso", que na verdade irá restaurar o "voto de cabresto" de mais de cem anos atrás.
O presidente Bolsonaro acusa as regras eleitorais atuais de investirem em fraudes, e, embora elas sejam possíveis em urnas eletrônicas, isso não justifica que se volte o voto impresso no Brasil, porque, da forma como quer o fascista, ele virá contaminado de muitas e muitas fraudes.
Devemos lembrar que Bolsonaro não se sente derrotado, e preocupa o otimismo exagerado das esquerdas festivas.
Elas queriam um hiato de manifestações que soa estrategicamente ruim. Queriam que, depois do 19 de junho, "tirassem férias" de protestos nas ruas e ficassem em casa brincando com a "memecracia".
Essas esquerdas de Instagram acham que estão com a batalha ganha e se comportam com o coelho da fábula que, achando que vai vencer, parou no meio do caminho e foi descansar sob uma árvore, até a tartaruga lhe passar a frente e lhe roubar a vitória.
Eu ralei chamando as pessoas para se manifestarem no 26 de junho, lembrando a Passeata dos Cem Mil que naquele dia foi realizada há 53 anos.
Muita gente não gostou. Preferem a zona de conforto de ficar em casa e zoar com o "palhaço Bozo" nos memes produzidos nas redes sociais.
Só que essas brincadeiras mais favorecem Jair Bolsonaro do que prejudicam. Não lhe causam sequer cócegas, quanto mais incõmodos maiores. Para ele, é a "criançada petista" brincando de ser brava no pátio digital das redes sociais.
E enquanto as esquerdas médias, que acham que o jogo já está ganho, querem ficar em casa para brincar de "memecracia", Bolsonaro e seus seguidores encaram as ruas com motocicletas possantes.
Nada está ganho, no terreno das esquerdas.
E não podemos nos iludir com a suposta fragilidade dos opositores.
Os opositores não estão fracos. E a corrida eleitoral não será um "segundo turno" no primeiro turno, com apenas Bolsonaro e Lula e, contra eles, um debilitado terceiro-viável.
Haverá vários candidatos de diversas tendências. Vários aspirantes, em tese, à "terceira via", que de modo nenhum deveriam ser subestimados.
É claro que faz parte da retórica política de Lula dizer que "terceira via não tem voto, é invenção de partidos que não têm candidato e não tem chance de vencer as eleições".
É o marketing político. Mesmo assim, um dos "terceiro-viáveis", o governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, se sentiu atingido com a declaração de Lula.
"Ninguém chuta cachorro morto. Se não existe terceira via, não sei porque Lula e Bolsonaro estão se preocupando. Depois do tanto que já nos foi roubado, querem agora roubar nossa esperança", reagiu o governador gaúcho.
As esquerdas não podem rir da "terceira via". Não dá para esnobar sequer de Jair Bolsonaro.
Isso é arrogância. O clima de "já ganhou" e o otimismo exagerado das esquerdas médias em relação a Lula são uma atitude perigosa, por representar um triunfalismo precipitado.
Jair Bolsonaro até agora não se sente derrotado e, a favor dele, têm militares, milicianos e aliados presidindo a Procuradoria-Geral da República e a Câmara dos Deputados. E tem uma parcela muito rica do empresariado a favor dele, com dinheiro aos montes para blindá-lo sempre que necessário.
Devemos tomar muito cuidado. Dentro da bolha petista nas redes sociais, faz sentido a crença de que Lula é o único que vai vencer todas e que, no final de 2026, ira colocar o Brasil no Primeiro Mundo, não se sabe com que meios. Talvez fazendo mágica com o auxílio emergencial de R$ 600.
Mas a realidade é outra e se fala até do risco das eleições presidenciais serem canceladas, como havia ocorrido em 1965, depois de muitos acreditarem que a ditadura militar era só para completar a lacuna do governo deposto de João Goulart.
O Brasil está sob risco e talvez seja hora do vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), que brigou com Jair Bolsonaro devido ao fundo eleitoral, que o parlamentar queria que fosse vetado, para iniciar o caminho do impeachment, aproveitando que o titular Arthur Lira (PP-AL) está em recesso.
Caso contrário, Jair Bolsonaro continuará no poder e ameaçando a democracia brasileira.
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