Ontem fui com meu pai e meu irmão para a Avenida Paulista, aqui em São Paulo, e, ao entrar no Shopping Cidade de São Paulo, vimos a exposição Passagens, com entrada gratuita, que acontece até o dia 31 deste mês.
É uma importante exposição sobre mobilidade urbana, com problemas e com ideias que buscam resolver vários impasses.
Não vou dizer detalhes, mas a exposição, que cita várias cidades do mundo, seria uma grande lição para os niteroienses, se essa mostra acontecesse na antiga capital fluminense.
Isso porque Niterói anda parecendo a lebre da fábula que, julgando-se virtualmente vitoriosa - em tese, Niterói tem índices "elevados" de desenvolvimento humano e é considerada "cidade inteligente" - , está decaindo de forma vertiginosa por conta de sua acomodação.
A mobilidade urbana é um horror. Até houve avanços, como o alargamento da Avenida Marquês do Paraná e a reforma na sua calçada e o túnel Cafubá-Charitas.
Mas falta muita coisa para fazer e há problemas que o niteroiense médio não quer sequer admitir sua existência.
Primeiro, o niteroiense médio só entende a mobilidade urbana de duas formas: a forma solipsista e a forma preguiçosa.
Na forma solipsista, ou seja, quando a percepção da realidade se limita à rotina pessoal de cada indivíduo, "mobilidade urbana" é só criar ciclovias e recapear asfaltos (agora com a expressão pomposa de "macrodrenagem").
Na forma preguiçosa, a "mobilidade urbana" se limita ao movimento de um braço para levar o copo de cerveja da mesa para a boca do bebedor. Ou é a "mobilidade" da bola de futebol para o gol de um adversário de um time carioca, de preferência o Flamengo.
Isso é horrível e vemos o quanto Niterói despenca feio, apesar dos dados oficiais mostrarem uma decadência "mais branda": do quarto lugar do IDH da ONU para o sétimo lugar.
Só que a sensação "térmica" dessa decadência coloca Niterói para índices muitíssimo mais baixos, perdendo para muita cidade do interior de Goiás, por exemplo.
Saí de Niterói porque a cidade se recusa a crescer, vivendo uma "síndrome de Peter Pan" que faz a cidade decair tanto que se tornou até violenta.
A Rua Marechal Deodoro, praticamente sem comércio, virou a cracolândia niteroiense, sendo perigosa de andar até de tarde.
Até pouco tempo atrás, eu e meu irmão, ao sairmos do Supermercado Guanabara em direção à Av. Visconde do Rio Branco para pegar o ônibus de volta para casa, andávamos pela Marechal Deodoro durante a tarde.
O cuidado era apenas com a sujeira no quarteirão próximo à Visconde do Rio Branco, para não sujar os calçados.
Mas hoje a rua está decadente, não bastasse também os congestionamentos.
Poderia ser construído um mergulhão na Av. Jansen de Mello para deixar o trafego da Marechal Deodoro fluir. No entanto, nem projeto existe.
Existe um projeto de reurbanização da Av. Ernâni do Amaral Peixoto. Até agora não houve uma iniciativa.
Um prédio abandonado que seria um hotel no Parque da Cidade, num morro em frente a Charitas, teve até promessa de reiniciar as obras, mas tudo morreu na conversa fiada.
A RJ-106 parece condenada a seguir como "avenida de bairro" porque Rio do Ouro e Várzea das Moças não têm uma avenida própria de ligação.
Isso é um problema de mobilidade urbana. Veículos que vão e vem dos dois bairros disputam pista com veículos que vão e vem de cidades distantes da Região dos Lagos.
Com a "avenida de bairro", o trânsito mais demorado, coisa que nem duplicando a rodovia estadual irá resolver.
Há um terreno ocioso entre os dois bairros, que poderia ser desapropriado, mas nem o DER-RJ, órgão do Governo do Rio de Janeiro, se mexe para intervir.
Estão esperando que a especulação imobiliária e as milícias ocupem o terreno ocioso e, com esse crescimento desordenado, a RJ-106 irá se tornar um pesadelo viário.
E os parquiletes (parklets), os monstrengos que se vendem sob a imagem enganosa de "praças públicas", quando se sabe que eles só atendem a interesses de comerciantes locais?
Eles são um grande fracasso, atrapalham o trânsito e enfeiam a paisagem urbana. Quem tem um pingo de inteligência sabe que os parquiletes ou "praças de rua" são inúteis e não é por serem lugares para sentar que eles deixam de ser um enorme e terrível incômodo.
Esses parquiletes, tidos como "temporários" mas impostos como permanentes, deveriam ser retirados e banidos da paisagem urbana, deixando as ruas livres para o trânsito ou, em certos casos, para o estacionamento de veículos.
Com mais relevância para a população, o antigo Trampolim da Praia de Icaraí foi demolido em 1964. Portanto, para que manter os parquiletes, que não têm a menor utilidade e só servem a interesses publicitários, como pretensas "cortesias" para bares e estabelecimentos comerciais?
E as passarelas para pedestres? Espera-se muito para ir de um lado para outro na Estrada Francisco da Cruz Nunes, na Estada Caetano Monteiro e até no trecho da Av. Marquês do Paraná no cruzamento entre a Av. Roberto Silveira e a Rua Miguel de Frias.
Não há uma única iniciativa nesse sentido e o tempo é dinheiro.
E os terminais de ônibus? Linhas rodoviárias parando no Terminal João Goulart, causando desconforto nos embarques e desembarques, enquanto a Rodoviária de Niterói permanece vazia em boa parte do tempo?
E nos bairros? Faltam estações de transbordo e o que vemos são terrenos baldios com ônibus estacionados, como em Charitas e Rio do Ouro, e ônibus parando em plena avenida, como em Cubango e Santa Bárbara.
Mas se até o Niterói Shopping não reforma sua fachada, a mesma desde 1985, oferecendo até risco de suas peças caírem e ferirem de morte algum transeunte, e ninguém fala coisa alguma, então a coisa está feia.
E o Itaipu Multicenter com pouca variedade de lojas e sua fachada feia, cujas placas de suas lojas-âncoras mais parecem anúncios de outdoor. Nenhuma queixa?
E os tratamentos para evitar alagamentos, com obras de melhorias no escoamento da água, dentro de exigências ambientais sustentáveis e anti-poluentes? Muita promessa, pouca ação.
Prometeram até retirar as ervas-de-passarinhos, parasitas que destroem as árvores em Niterói e que muitos pensam ser "samambaias", mas também nada foi feito. Quando árvores são podadas, é para destruir ninhos de pássaros e não para remover as ervas daninhas, que são poupadas.
A chamada "opinião pública" niteroiense nem liga para esses problemas, só reclamando vagamente de congestionamento de veículos e de tiroteios. Só isso.
E aí vemos que uma parcela da imprensa digital niteroiense, presente nas redes sociais, mais parecem feitas para os amigos de seus editores, porque os problemas mostrados são de interesse restrito à "bolha" de seus seguidores mais íntimos.
Se alguém divulga um problema além daqueles que a "bolha social" tanto reclama, sua mensagem fica "escondida" e não aparece no feed de notícias do veículo da imprensa digital de Niterói.
O que aparece no feed é o vídeo de cachorrinho pulando de alegria que a madame de Icaraí mandou para o canal noticioso. Mas reclamar de parquiletes, quem arriscar-se a isso é como se estivesse gritando num deserto.
E é isso tudo que faz com que Niterói, tão decadente que se torna uma cidade violenta - já houve assassinatos no Extra do Itaipu Multicenter e na praça de refeições no Plaza Shopping, em pleno horário de funcionamento - e matuta.
Nem parece que Niterói um dia foi capital do Estado do Rio de Janeiro e era a cidade dos sonhos de todo fluminense do interior.
Hoje Niterói está feliz em ser capacho da cidade vizinha a ponto da mídia muitas vezes creditá-la como se fosse parte do próprio município do Rio de Janeiro.
Isso vai contra a posição de Niterói como IDH alto e mostra o quanto a mobilidade urbana da cidade está precária, decadente, o antônimo do que se fala por aí.
Cidade inteligente? Com dois bairros sem avenida de ligação própria e dependendo de rodovia estadual para se comunicarem, atrapalhando o tráfego de quem vai para outras cidades mais distantes?
É por isso que um evento como a exposição Paisagens, no Shopping Cidade de São Paulo, é uma boa oportunidade para se conhecer ideias, problemas e soluções, e isso é um recado principalmente para o niteroiense médio que acha que Niterói só tem uma Zona, a Zona de Conforto.
Aqui estão algumas outras fotos que tirei do evento.
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