Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o empresário Flávio Rocha, da rede Riachuelo, um dos personagens do golpe de 2016 e apoiador de Jair Bolsonaro, fez uma declaração óbvia, mas sempre infeliz.
Ele se manifestou contra a taxação de grandes fortunas, que é uma medida para combater o abuso da concentração financeira dos mais ricos.
Com uma habilidade para dar argumentos verossímeis, porém contestáveis, Rocha disse à repórter Joana Cunha, do periódico paulista:
"Nós queremos lutar contra a desigualdade ou contra a pobreza? Esse imposto consegue reduzir a desigualdade, mas pela via não inteligente: expulsando ou empobrecendo os ricos. O que se quer é enriquecer os pobres. Esse é um imposto que diminui a desigualdade, mas achatando a pirâmide, ou seja, empobrecendo os ricos".
Ele até disse que o maior problema dos impostos é a sonegação e diz que a diminuição de imposto de renda seria a "solução" que, no seu entender, seria mais eficiente que taxar os afortunados.
Meu ex-colega da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (FaCom-UFBA), Jean Wyllys (ex-deputado hoje filiado ao PT), escreveu no seu perfil do Twitter um comentário indignado: "Esse sujeito é um idiota mesmo ou um cínico descarado? Ou ambas as coisas?".
Flávio Rocha tenta parecer generoso nos argumentos, mas deixa claro que quer que os muito ricos continuem sendo muito ricos.
Isso é óbvio. Mas não deixa de ser revoltante num país fragilizado como o Brasil.
E olha que a Riachuelo vende uma imagem de rede de lojas de roupas "moderna", surfando no identitarismo como toda rede de lojas do setor faz.
Rocha também defendeu a precarização do trabalho, o que mostrou o lado cruel da rede, que chegou a empregar terceirizados que confeccionavam roupas sob um regime opressivo de trabalho, comparável à escravidão.
Devemos lembrar que ele também foi entusiasta da tal reforma trabalhista, que legalizou a precarização do trabalho.
Revogar a reforma trabalhista é um dos maiores desafios de Lula, se ele tiver pulso muito firme para impor seu projeto político acima do que querem aliados da direita moderada.
É ilusão achar que realizar só o auxílio emergencial de R$ 600 irá, em si, promover o desenvolvimento do Brasil.
O nosso país está numa situação extremamente grave e eu, pessoalmente, não tenho esperanças de que o novo governo Lula será o melhor de todos os seus governos.
Ele será bom, sim, e Lula tem competência para conduzir o Brasil à resolução de sua crise, mas a situação do nosso país é degradante, sendo impossível que, em quatro anos, voltemos aos níveis de progresso econômico e social de 2010.
Se o governo Lula se tornar um "governo de terceira via", na ilusão de que o auxílio emergencial faça mágicas e milagres, certamente pessoas como Flavio Rocha e Luciano Hang continuarão na boa vida, enquanto a pobreza apenas é atendida de forma paliativa, sem resultados profundos.
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