Três especialistas em política internacional estão preocupados com a ameaça de golpe contra Lula, no caso dele ser eleito presidente em 2022.
Os jornalistas Brian Meir, estadunidense, e Pepe Escobar, brasileiro que vive no exterior, e o cartunista Carlos Latuff, atento aos noticiários internacionais, alertaram, em situações diferentes, que Lula pode ser vítima de um golpe.
Isso porque os EUA, através do presidente Joe Biden, afirmou que tomará medidas enérgicas de "combate à corrupção", que é a mesma desculpa que gerou o golpe civil-militar de 1964 e a derrubada de Dilma Rousseff, há cinco anos.
Lula é o favorito das pesquisas, mas não devemos cair na ingenuidade de que o caminho está aberto para ele.
Além disso, ele fez acordos com a direita moderada e a maioria daqueles que pediram a queda de Dilma não iriam apoiar Lula por acharem a barbinha dele "muito sexy".
Lula parece ter cedido em muitos pontos do seu programa. O temor é que seu governo se limite à aplicação do auxílio emergencial de R$ 600 e um receituário neoliberal ao sabor da freguesia direitista.
Mesmo assim, se Lula tentar avançar, o golpe pode ser acionado.
A título de comparação, João Goulart, em 1961, só foi empossado quando foi implantado o parlamentarismo, um parlamentarismo bagunçado, mas que tentava castrar o poder do presidente que, quando era ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, em 1953, dobrou o valor do salário mínimo.
Jango chegou a implantar um projeto político moderadamente conservador, através do primeiro-ministro Tancredo Neves, avô de Aécio Neves.
Também em 2015, Dilma adotou o programa de governo do rival Aécio, tentando agradar as forças conservadoras.
Em seus respectivos tempos, tanto Jango quanto Dilma, quando tentaram avançar, foram tirados do poder por golpes estimulados por uma campanha midiática hostil.
O medo é se repetir com Lula, que talvez implante um projeto mais conservador para ir avançando com o passar dos meses. E aí, se avançar, poderá ocorrer o golpe.
Devemos tomar cuidado com os tempos atuais. O Brasil não é o Instagram.
Foi Joe Biden assumir o poder que vieram os ataques ao Oriente Médio e, de repente, manifestações direitistas em países como Cuba que, mesmo com a aposentadoria de Raul Castro, remanescente da Revolução Cubana de 1959, ainda vive sob o governo progressista, comandado por Miguel Díaz-Canel.
E olha que protestos assim ocorrem com mais constância. Para a direita que quer derrubar governos progressistas, não tem essa de ficar em casa e dar tapas com luvas de pelica através de memes nas redes sociais.
A situação do Brasil não é muito diferente e, o que é pior, setores das esquerdas ainda veem em Joe Biden um "líder de esquerda", se esquecendo que o Partido Democrata é tão cruel nas políticas internacionais quanto o Partido Republicano.
A ingenuidade das esquerdas festivas é imensa. Apegadas aos "brinquedos culturais", elas acolhem tudo que é da direita não-raivosa e simpática, que esteja associada a festas, religiosidade e uma suposta ajuda aos mais pobres.
O "funk" é o símbolo musical máximo desses "brinquedos culturais", e ele mais uma vez tenta obter cartas no exterior.
Semanas atrás, o Grammy Latino cortejou o "funk" como suposta "música urbana" (coitado do Renato Russo). Esquecendo que o Grammy é uma instituição de burocratas da música, os partidários do ritmo brega-popularesco omemorram o "reconhecimento" como se fosse algo "revolucionário".
No último fim de semana, foi a vez da atleta de ginástica rítmica Rebecca Andrade competir tendo como fundo musical o deprimente sucesso de MC João, "Baile de Favela" e conseguiu ser classificada para a final nas Olimpíadas de Tóquio.
A ginasta é bonita e competente, mas a escolha da trilha sonora foi infeliz. Se colocasse, no lugar do "funk", um Jackson do Pandeiro, a coisa teria sido muitíssimo melhor.
Mais realista, um atleta olímpico, o corredor Altobeli da Silva reclamou da barulheira do "funk" nos quartos de outros atletas brasileiros alojados na Vila Olímpica.
Disse Altobeli, com razão de sobra, porque ele deu duro nos treinamentos e queria descansar:
"Tô com estresse aqui galera, chego a estar tremendo de tanta raiva, tanto nervoso, aqui no Japão. Descansando, cansado, aí eu vejo uma barulheira aqui na porta do meu quarto, som de funk de atletas que treinam meio período. Eu tô treinando dois períodos, é por isso que eu tô no meu quarto, dormindo, descansando, respeitando a privacidade de cada um. É nessas horas que você vê quem é quem. Inclusive até atletas que eu achava que eram mais disciplinados. Eu tenho que falar isso aqui na rede social porque tem que ter consciência cara".
É claro que as pessoas "legais" que adoram "tomar no cool" não gostam, porque no Brasil hedonista desenfreado de hoje, o direito se dá a quem faz barulho, dane-se aquele que tem que descansar depois de um dia duro de treinos e trabalho.
Nas capitais do país, sobretudo o Rio de Janeiro, tem gente que trabalha longe de casa, precisa acordar a uma da madrugada para preparar marmita e, nas 23h30 do dia anterior ainda tem que aguentar gritaria de torcedor por causa de partida de futebol com um ou dois grandes clubes.
E em se falando do "funk", um ritmo que puxa o saco do Instituto Butantã mas tem apetite negacionista para organizar "bailes funk" ultra-aglomerados, é preocupante como o ritmo é acionado sempre que algum governo golpista, desde 2016, entra em crise.
O "funk" se promove às custas de muito vitimismo e a geração milenial de hoje, considerada "moderna" e "avançadíssima", mas que será logo classificada de "ultrapassada" pela geração de seus filhos, fica associando ao ritmo popularesco a tudo que é considerado "legal" hoje em dia.
Não confio no "funk" e vejo nele um perigoso processo de controle da humanidade, sobretudo da juventude e do povo pobre, anestesiando a verdadeira revolta popular por simulacros de "revolta" nos limites identitários e mercadológicos que não fariam feio num comercial das lojas Riachuelo.
O "funk" espetaculariza a pobreza, cria um estranho "ufanismo das favelas" e transforma a alegria em mercadoria, como tudo nesse "ótimo cenário cultural brasileiro".
Quando se fala que o "funk" é "agente da CIA" - alertado pela saudosa sambista Beth Carvalho, dois anos antes de sua filha Luana Carvalho ser assediada pelo ritmo, desonrando a mãe - , o pessoal das redes sociais cai na maior gargalhada, mas não deveria gracejar.
Afinal, é confirmado que instituições que financiam o "funk" no Brasil, através dos tais "coletivos" existentes no nosso país, são ninguém menos que a Fundação Ford e a Soros Open Society, colaboradoras do Departamento de Estado dos EUA.
O mesmo Departamento de Estado que financia protestos direitistas em Cuba, cujas elites por sinal migraram em parte para Miami, berço da matriz do "funk" brasileiro, o miami bass.
O "funk" sempre é usado como uma cortina de fumaça para as crises de governos golpistas. Hoje o governo Jair Bolsonaro sofre uma séria crise, apesar dele ainda continuar de pé.
E, assim como um comercial de automóvel tenta criar um discurso ideológico envolvendo "liberdade" e "velocidade", o "funk" cria, em seu marketing, todo um imaginário supostamente "legal" e "atraente" para os jovens de hoje.
Os adeptos do "funk" ficam esnobando o reacionarismo de antigos nomes do rock, como Marcelo Nova, Morrissey, Roger Moreira e Eric Clapton.
Tudo bem que eles se tornaram reaças, é verdade, mas que ninguém imagine que, daqui a 20 anos, um MC do "funk" ou uma funqueira se tornem reaças até mesmo piores do que muito roqueiro ranzinza de hoje.
O mundo dá voltas e, diante da ameaça do golpe, muita coisa vai acontecer no Brasil que o "paraíso do Instagram" se recusa a admitir, com "tanta coisa legal" agitando "entre a galera".
Estamos numa situação política frágil e numa situação cultural desfavorável, marcada por uma mediocrização crônica travestida de "coisas bacanas" que empolgam a geração atual, mas com certeza irá entediar e aborrecer as gerações futuras.
E aí me lembro de Renato Russo, citado acima, na letra de "A Dança", que soa uma advertência ao esnobismo dos jovens convencidos; "Mas a vida deixa marcas / Tenha cuidado / Se um dia você dançar".
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