A democracia, no Brasil, não pode ser um mero processo de frases de efeito, um jogo de aparências que alega poder se defender dos perigos que a ameaçam.
Vemos que Jair Bolsonaro está ameaçando cancelar as eleições de 2022 e isso põe as esquerdas em alerta.
Os militares também reiteraram suas ameaças ao Congresso Nacional ao "dobrar suas apostas" sobre uma reação contra qualquer denúncia que envolvesse um milico na corrupção investigada pela CPI da Covid.
São riscos que a memecracia das esquerdas infantilizadas, que sonham em ver "molusco" derrubando e amedrontando "tubarões", ignoram, porque a situação está mais complicada para tais perspectivas.
Não. Lula não está com o caminho ganho. Tudo o que se divulga a favor dele são apenas projeções, até possíveis de serem realizadas, mas lembremos que o anti-petismo ainda é muito forte.
Vejo, nas minhas andanças, trabalhadores que fazem reforma de casas, fazem frete de móveis ou outros proletários desiludidos reclamando de Lula, acreditando naquelas narrativas mentirosas que o veneno midiático difundiu durante anos.
Sim, é o assustador fenômeno do "pobre de direita", uma aberração que não pode ser subestimada.
As esquerdas se concentraram demais na classe média identitarista e hedonista - tão hedonista que, confusa, se perde tanto no recreio da maconha quanto na mistificação do "espiritismo" feito no Brasil - e como as causas trabalhistas foram deixadas de lado, parte dos pobres migrou para a direita.
Nada está garantido, ainda.
Jair Bolsonaro falou grosso até para o ministro do Supremo Tribunal Federal e atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, que não é uma figura lá muito progressista, mas ultimamente segue a tendência técnica e legalista do STF.
Barroso é contra o voto impresso e, por causa disso, Bolsonaro, que defende o gasto de papel para os votos nos candidatos, chamou o ministro do STF de "imbecil".
Barroso reagiu à grosseria de Bolsonaro a respeito de querer cancelar as eleições de 2022, com um comunicado cujo recado principal é esse:
"A realização de eleições, na data prevista na Constituição, é pressuposto do regime democrático. Qualquer atuação no sentido de impedir a sua ocorrência viola princípios constitucionais e configura crime de responsabilidade".
O presidente do Senado e do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), declarou que "não admitirá retrocessos à democracia no país"
Pacheco respondeu tanto às ameaças de Jair Bolsonaro quanto às ameaças da cúpula das Forças Armadas, que não aceitam serem enquadradas na CPI da Covid.
Por outro lado, o advogado de defesa de Jair Bolsonaro, Frederick Wassef, que escondeu o ex-assessor dos Bolsonaro, Fabrício Queiroz, em sua casa em Atibaia, na Grande São Paulo, fez ameaças à jornalista do UOL, Juliana Dal Piva.
Piva fez uma série de reportagens sobre o envolvimento de Jair Bolsonaro no esquema de "rachadinhas' quando o hoje presidente da República era deputado federal.
Em texto grosseiro e cheio de erros, lembrando mais uma mensagem furiosa de um moleque reacionário da Internet, Wassef escreveu, ao indagar, com seu direitismo histérico, se a jornalista era "socialista" ou "comunista".
"Faca la o que voce faz aqui no seu trabalho, para ver o que o maravilhoso sistema politico que voce tanto ama faria com voce . La na China voce desapareceria e nao iriam nem encontrar o seu corpo", escreveu Wassef, em parte de um texto que, apesar de longo, parece ter sido escrito às pressas.
Alexandre Gimenez, editor do UOL, enviou comunicado repudiando a ameaça de Wassef à repórter.
O Brasil deveria agir para tirar Jair Bolsonaro de vez. Bolsonaro não é dono do Brasil, ele não pode se julgar acima dos brasileiros e não pode fazer o que ele entender.
As instituições, vendo os abusos cometidos pelo presidente, deveriam até divulgar notas de repúdio, mas não somente elas, mas ações concretas para tirá-lo do poder.
Mais de 520 mil mortos foram o preço desse abuso de Bolsonaro, na sua conduta infeliz em relação à Covid-19.
Florestas incendiadas, prejuízo financeiro, crise econômica, dinheiro indo embora do nosso país para enriquecer as contas de Paulo Guedes e companhia nos paraísos fiscais.
Nossa democracia está em risco e, portanto, as instituições terão que agir para garantir a força das leis e punir seus abusadores.
Porque ameaças à democracia não podem ser entendidas como "liberdade de expressão". São atos que põem em risco até mesmo a vida de muitos brasileiros.
Cabe haver mais manifestações de ruas, mais empenho das instituições, num esforço de inteligência diversificado e persistente para não só combater Jair Bolsonaro, mas também impedir que ele faça algum contra-ataque.
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