Aparentemente, Lula está em vantagem nas pesquisas e nas perspectivas de que irá ganhar todas na campanha presidencial de 2022.
Não podemos cantar vitória por um motivo muito simples: estamos em julho de 2021.
A campanha presidencial só começa em junho de 2022, portanto, em onze meses ainda pode haver fatos que poderão botar as esquerdas a perder.
Jair Bolsonaro ainda não se sente intimidado. Quer cumprir o projeto golpista de 2016 privatizando Correios e Eletrobras e, na surdina, vender o que resta de ações da BR Distribuidora, o que fará a marca Petrobras desaparecer, aos poucos, dos postos de gasolina.
Ele também defende a ida do advogado-geral da União, André Mendonça, considerado "terrivelmente evangélico", para o Supremo Tribunal Federal, começando a aparelhar a base bolsonarista no Judiciário.
Não dá para as esquerdas ficarem esnobando, achando que estão com a faca e o queijo nas mãos.
Devemos lembrar que o anti-petismo no Brasil é muito forte.
Tanto em Niterói como no Rio de Janeiro e, agora, em São Paulo, eu passo perto de trabalhadores que ridicularizam o ex-presidente Lula e acham até que o Judiciário e a mídia "se venderam" ao petista.
Sim, o pobre de direita existe e não é um estereótipo enfraquecido do imaginário das esquerdas festivas que ficam brincando de Revolução Cubana com sua memecracia nas redes sociais.
A coisa está pesada fora do Instagram e do WhatsApp e tudo pode acontecer.
Se Jair Bolsonaro não parece ficar enfraquecido - ele se limita a ficar irritado com sua ameaça de queda no cargo presidencial - , convém tomarmos muito cuidado.
Lula corre até o risco de sofrer um atentado, não se sabe de que forma.
Temos também o risco de ver canceladas as eleições de 2022.
Os bolsonaristas não parecem sentir seu "fim de mundo" e parecem muito confiantes, mesmo minoritários.
O que as forças progressistas têm que fazer é se manifestar de toda forma, indo para Brasília, se preocupando menos com a "festa da democracia" e agindo para realmente derrubar Bolsonaro.
As esquerdas não estão em vantagem, e nos bastidores existe um esforço da direita moderada criar candidatos de "terceira via" que poderão levar vantagem sobre Lula.
Não dá para as esquerdas rirem do "terceiro viável" de ocasião.
Por pior que seja o neoliberal que venha a quebrar a polarização Lula versus Bolsonaro, não é bom chamá-lo de "bobão" ou implicar com os pontos fracos.
As esquerdas não podem esnobar os rivais, sob o risco de ser derrotada por eles.
O que os esquerdistas têm que fazer é a mobilização criativa e combativa, mas sem os exageros que podem se refletir positivamente para os rivais.
A situação está delicada e o golpe político de 2016 não foi dissolvido. Tanto que Jair Bolsonaro afirmou categoricamente que vai vender 100% das ações dos Correios.
Também não dá para enxergar esquerdismo em qualquer um que der espaço a Lula ou manifestar um aparente apoio.
Por exemplo, não acredito que os "coronéis" midiáticos Marcos Medrado e Mário Kertèsz, em Salvador, tenham virado "esquerdistas desde criancinhas" ao ceder os microfones a Lula nas respectivas rádios Salvador e Metrópole.
Há muita gente querendo nadar na onda Lula para parecer bem na fita e evitar ser desgastado historicamente por causa do apoio ao golpe de 2016. Apagar a imagem de militantes do "Fora Dilma" através de um "apoio sincero" ao antigo operário.
Há muito "esquerdista de ocasião" que, em princípio, parece necessário para reforçar a base de apoio para Lula ser eleito, somando mais eleitores, mas devemos tomar muito cuidado, porque tem muito direitista enrustido fantasiado para pular o carnaval eleitoral em troca de vantagens pessoais.
Portanto, ainda é muito cedo para as esquerdas entrarem num clima de "já ganhou".
Mesmo com muitos argumentos fortes a seu favor, as esquerdas podem ser traídas pelas circunstâncias, porque tudo pode acontecer.
Também houve argumentos fortes para Dilma Rousseff não ser expulsa do cargo presidencial, e mesmo assim ela foi expulsa.
O momento é de cautela. Ainda falta um longo caminho para as urnas de 2022. Convém não se precipitar.
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