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A RAÇÃO HUMANA E A GLAMOURIZAÇÃO DA POBREZA


O que as forças progressistas têm muita dificuldade de perceber é a glamourização da pobreza.

Chegam a apoiar quem estivesse associado à imagem de pessoas pobres sorrindo, e muitos daqueles que se promovem com os sorrisos dos pobres viram "vacas sagradas" entre setores das esquerdas.

Podem ser pessoas com ideias neoliberais, ídolos religiosos com ideias da Idade Média ou similares.

Eles viram "progressistas" apenas pelo vínculo supostamente positivo às classes pobres.

A "ração humana" de João Dória Jr. fez muitas pessoas pensarem sobre os limites da concepção "qualquer nota" da caridade humana.

Até que ponto a caridade pode tratar o povo pobre como ser humano e como um animal doméstico?

E até que ponto a caridade pode sobrepor a imagem do aparente benfeitor aos necessitados?

A caridade é benéfica mais porque ela parte da decisão de um ídolo religioso, independente dos resultados alcançados serem ou não expressivos?

Ou o valor da caridade está em não ajudar tanto os necessitados, impedindo-os de emancipar, ameaçando assim os privilégios das elites?

Poucos conseguem discernir se a caridade é um ato de bom-mocismo de quem concede ou se é um ato dedicado ao benefício dos mais carentes.

Mesmo as esquerdas têm dificuldade de ver até que ponto o povo pobre é tendenciosamente bajulado ou legitimamente valorizado.

Nem sempre o pobre, quando exposto de maneira alegre, é realmente valorizado.

O pobre pode ser trabalhado de maneira caricatural e perversa, mesmo de forma aparentemente elogiosa.

As esquerdas engoliram muito, como "valorização das classes populares", abordagens que, em verdade, soam bastante pejorativas.

Pobres sorrindo desdentados em programas de auditório.

Mendigos bêbados rebolando na rua e balbuciando palavras sem nexo.

Mulheres fazendo o papel de objetos sexuais.

Outras se prostituindo em prostíbulos velhos, sujos e com risco de desabamento.

Camelôs vendendo produtos contrabandeados e piratas.

Durante muito tempo, tais dramas eram narrados, mesmo na retórica de esquerda, como se fossem a vida no Paraíso.

Isso pela influência de intelectuais "alienígenas" vindos da Folha ou apoiados pela Globo e Abril.

Ninguém imaginou, por exemplo, tantos dramas estão por trás dessas atitudes "admiráveis" das chamadas "periferias" (termo tomado emprestado de Fernando Henrique Cardoso, ele mesmo).

Os dentes banguelas que causam desconforto na hora de comer, o alcoolismo que entorpece a mente e causa disenteria e vômito.

As prostitutas levando surra de seus clientes machistas, as mulheres siliconadas alimentando a tara machista, com sua hipersexualização sem limites.

Camelôs perdendo o sono diante da repressão dos "rapas", como são conhecidos os fiscais, e tremendo de medo ao vender, pelo improviso da sobrevivência econômica, produtos ilegais.

Diante desse contexto, a imagem religiosa de crianças pobres alegres rondando o suposto benfeitor de ocasião causam comoção das pessoas sem qualquer questionamento nem análise.

E os eventos filantrópicos, as "caravanas de amor" supostamente espiritualistas?

Será que não há uma encenação na qual mendigos que vivem habitualmente no abandono são levados, provisoriamente, a uma festa religiosa travestida de "ativismo social", fazendo a propaganda do ídolo religioso do local?

E as ostentações espetaculares para mostrar apenas donativos que parecem grandes e imensos, mas são uma ninharia.

Roupas lavadas que, no entanto, são velhas, fora de moda e as elites jogam como "lixo filantrópico". Isso quando não estão rasgadas, manchadas ou remendadas.

Cestas de alimentos que, entregues a famílias numerosas de pobres, se esgotam em duas ou três semanas, enquanto a "filantropia" que resultou nestas cestas é comemorada por mais tempo.

São muitos problemas que desafiam a visão das forças progressistas.

O "funk", que abordava um paradigma caricato de classes populares, como se fosse numa chanchada em versão tecno, ainda consegue enganar muitos pela glamourização da pobreza.

Agora essa visão glamourizada está sendo posta à prova com a "ração humana" de João Dória Jr..

A camiseta do prefeito de São Paulo denuncia o verdadeiro apoio a essa iniciativa lastimável, um ídolo religioso que era antes visto com unanimidade.

É muito doloroso caírem, no Brasil, figuras há muito tempo endeusadas, sobretudo quando suas imagens são vinculadas a crianças aparentemente sorridentes.

Os brasileiros estão presos a muitas fantasias, preconceitos, ilusões e paradigmas.

Fazem uma verdadeira ginástica mental para proteger conceitos e visões que estão ruindo como rachaduras do abismo.

Tentam defender suas convicções com argumentos falsamente intelectuais, num esforço hercúleo de rebater argumentos mais consistentes que os seus.

Não imagina o quanto pretensos deuses podem cair por pouca coisa, como o apoio a um composto alimentar feito de restos de comida e nutricionalmente duvidoso e até perigoso.

Há pouco tempo, Carlos Arthur Nuzman também era um "deus", o "deus olímpico" do grande líder dos esportes amadores, até ser preso e hoje, solto sob medida cautelar, como um ídolo que decepcionou até seus mais ardorosos fãs.

Por que ídolos religiosos que apoiam o engodo alimentar, sabendo muito bem de seus atos ao homenagear um político decadente, também não podem cair?

Seria muita ingenuidade acreditar que ídolos religiosos desse porte só agem conscientemente quando acertam, mas, quando erram, é porque foram "manipulados por espíritos pervertidos".

Mas muitos acreditam assim, querendo proteger suas fantasias, atribuindo a "forças do além" as eventuais traições de seus "heróis" da tal "fé raciocinada".

Esses ídolos religiosos se alimentam da glamourização da pobreza e do tratamento do povo pobre como se fosse um animal doméstico.

Esse é o aspecto sombrio da "caridade" que muitos acreditam e defendem. A "caridade" que domestica os mais necessitados e os estabelece controle social, sob a desculpa do "acolhimento fraterno".

Daí que o "heroico" ídolo religioso que organizou a festa "pacifista" que homenageou João Dória Jr. tem motivos para apoiar a tal ração humana condenada por entidades nutricionistas sérias.

Para o ídolo religioso, também orador empostado à maneira da República Velha, tanto faz um complexo alimentar que é comparado com uma ração para cachorro.

Muitos veem ídolos religiosos como "deuses", mas eles podem tratar o povo pobre com a simpatia com quem lida com animais domésticos.

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