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A PRISÃO DE CARLOS ARTHUR NUZMAN E OS "HERÓIS" DE 2010


A prisão do dirigente olímpico Carlos Arthur Nuzman, há 22 anos como presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, não deixou de surpreender, de forma negativa.

Nuzman fez história como antigo jogador da Seleção Brasileira de Vôlei, nos anos 1960, e depois se tornou autoridade esportiva representativa desta modalidade.

Meu pai chegou a conhecê-lo pessoalmente e ficou visivelmente desapontado, pois o via como um grande ídolo.

Nuzman é acusado de participar de um suposto esquema de compra de votos para que o Rio de Janeiro se tornasse sede dos jogos olímpicos de 2016.

Nuzman teve como colaborador direto seu braço-direito, o diretor-geral do Comitê Organizador Rio 2016, Leonardo Gryner, ex-jornalista da Rede Globo.


Gryner atuava nos bastidores, como produtor, e depois atuou no marketing esportivo.

Ele também foi preso, mas a Rede Globo não dá um pio a respeito do passado de seu ex-profissional.

Gryner e Nuzman estão envolvidos num esquema que alimentou o poder e a riqueza de um grupo político que teve seu auge entre 2010 e 2016.

O grupo político do PMDB carioca, comandado por Sérgio Cabral Filho e Eduardo Paes, que foram respectivamente governador fluminense e prefeito carioca, antecipou em muitos aspectos a natureza autoritária e a miopia legal do governo Michel Temer.

O grupo político de Paes e Cabral, entre outros, fez uma grande farra financeira por causa da Rio 2016.

Criaram reformas urbanas excludentes, que desalojaram moradores de casas populares e fizeram destruir áreas de proteção ambiental para fazer obras de sítios olímpicos ou vias de BRT.

Aliás, o grupo político também atuou em outra farra, a dos transportes, como mostrou o recente escândalo envolvendo a família Barata, dona de um dos maiores grupos empresariais do setor no RJ.


Essa farra, descobriu-se, foi um "circo" cuja "lona" foram os ônibus padronizados.

Diferentes empresas de ônibus teriam escondido suas identidades visuais para dificultar a identificação das mesmas pelos passageiros comuns.

Eram os ônibus "iguaizinhos" que sobrecarregavam as atenções das pessoas que já estavam sobrecarregadas de tantos compromissos pessoais.

Era um transtorno na hora de ir e vir, mas favoreceu o sucateamento e a corrupção no setor.

A farra só não foi completa porque o sistema DETRO encontrou muita burocracia e um enorme número de empresas para impor os ônibus "iguaizinhos".

O atual secretário de Transportes do Rio de Janeiro, Fernando MacDowell, avisou que irá cancelar os ônibus "iguaizinhos" no sistema de linhas municipais.

Mas, como houve denúncias recentes envolvendo o transporte, ele adiou a medida, que ainda se mantém em estudos sobre como será implantada.

Enquanto isso não ocorre, Resende adere aos ônibus "iguaizinhos" num contexto em que a pintura padronizada em ônibus se desgasta em todo o país, apesar da persistência.

A decadência é sinalizada quando a Grande Belo Horizonte fez pouco alarde ao anunciar a troca de design dos ônibus padronizados.

As olimpíadas Rio 2016 passaram, a Copa de 2014 passou, e já não faz sentido empresa de ônibus se reduzir a um outdoor político de prefeituras ou governos estaduais.

E, além disso, isso não traz vantagens técnicas algumas e também não convence para promover o "bom mocismo" de prefeituras ou governos estaduais que não investem em Educação e Saúde e querem ser os "heróis dos Transportes e da Mobilidade Urbana".

Além disso, os ônibus padronizados, que forçadamente tentaram ser inseridos na paisagem cultural carioca, viraram o símbolo dos escândalos políticos envolvendo políticos, empresários e dirigentes esportivos atuantes no Rio de Janeiro.

Não dá como manter a pintura padronizada e apenas mudar o design, como se fez em várias capitais brasileiras. Apenas muda a "fantasia", o "carnaval" político-empresarial continua o mesmo.

Sobretudo um "carnaval" que anda sendo desmontado no Rio de Janeiro e aponta escândalos semelhantes em Curitiba, Brasília, São Paulo e Florianópolis.

Uma "folia" em doses olímpicas que revela inúmeros escândalos a provocarem inferno astral até num ex-astro do vôlei que virou dirigente olímpico.

Se 2016 continua valendo, melancolicamente, na perda maciça de roqueiros contemporâneos, o mesmo ano se encerra no que se refere aos antigos "heróis" da farra político-empresarial de 2010.

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