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A BRUTALIDADE DE UM DEPUTADO DE EXTREMA-DIREITA CONTRA OS NEGROS


Foi uma grande brutalidade o ato de vandalismo que o deputado federal Márcio Tadeu Anhaia de Lemos, o Coronel Tadeu, do PSL paulista.

Coronel da Polícia Militar, Tadeu, em acesso de fúria, rasgou um cartaz informativo exposto na mostra de mensagens sobre o Dia da Consciência Negra, na Câmara dos Deputados, em Brasília.

No cartaz, uma charge dramática de Carlos Latuff ilustra um texto. O desenho mostra um policial saindo, com uma arma expelindo fumaça, depois que matou um pobre negro, vestido com uma camiseta com a estampa da bandeira do Brasil.

O texto revela a triste situação dos policiais que matam jovens negros, num claro processo de extermínio "higienista" secretamente aceito pela sociedade mais reacionária.

Secretamente, porque assumir essa tragédia ninguém assume.

O Coronel Tadeu tentou justificar seu ato de vandalismo da seguinte forma, em oficio enviado ao presidente da casa legislativa, Rodrigo Maia:

"Desnecessária e inoportuna manifestação de desonra e generalização de ilegalidade na atuação dos policiais".

Evidentemente que nem todos os policiais realizam esse trabalho sujo, contaminando suas mãos com o sangue derramado de pobres negros inocentes. Mas há policiais que, por outro lado, cometem tais atrocidades.

Ainda não consigo me conformar com a chacina de Costa Barros, onde um grupo de jovens negros estudantes e trabalhadores, honestos, alegres e simpáticos, foi assassinado dentro de um carro, em 2015.

É terrível essa sina de negros inocentes mortos, com o feminicídio também acompanhando os índices, mesmo quando são os homens negros - mal escolarizados, revoltados e entregues aos vícios diversos - que cometem esses crimes.

O racismo tornou-se uma postura, infelizmente, "socialmente aceitável" para uma parcela de brasileiros reacionários.

A psicopatia virou moda. Vide os débeis-mentais que marchavam em continência com a Estátua da Liberdade, ao som do Hino do Exército, em frente a uma filial da rede de lojas Havan (do bolsonarista Luciano Hang, o "véio da Havan"), em Araçatuba, interior paulista.

Junte-se isso com a existência de nada menos que 334 células nazistas no Brasil, a maioria nos Estados do Sul e Sudeste. Em Niterói, tomou-se conhecimento da existência de uma tal de "International Klans".



Nesse cenário, o Coronel Tadeu ainda arrumou desculpas para seu vandalismo, dizendo que é uma "manifestação democrática", acrescentando que ele "não fez racismo" e que se irritou ao saber que a polícia é a maior responsável pelas mortes de negros no Brasil.

Demagogia. Fico imaginando como reagiria o Coronel Tadeu se, em vez de um quadro informativo, houvesse a performance de um artista negro, como nos coletivos que se apresentavam nas barcas Rio-Niterói.

Será que o Coronel Tadeu iria dar um soco nesse artista, só porque este denunciou a violência policial que mata negros aos montes há décadas?

Com seu ato, o Coronel Tadeu cometeu quatro crimes: quebra de decoro, violação à ética, racismo e crime contra o patrimônio público. E não respeitou a exposição, apelando para rasgar um quadro só porque não concordava com a mensagem.

Os negros precisam de respeito e reconhecimento. 

Eles já foram introduzidos no Brasil de maneira cruel, humilhante, doentia e trágica, para trabalharem em regime escravo, que era, infelizmente, socialmente estimulado durante décadas.

Apesar disso, os negros contribuíram de maneira bastante positiva para a formação da cultura brasileira, sob os vários aspectos.

A história dos negros no Brasil não é fácil, e informar sobre escravidão, violência e racismo, através de dados estatísticos rigorosamente pesquisados, é um grande dever.

É o caso da charge de Carlos Latuff e do texto sobre os dados da violência. É de interesse público denunciar o abuso da polícia contra o povo pobre.

Aliás, exames mostraram que o tiro que matou a menina Agatha Félix partiu de um PM. E constatou-se também que não houve tiroteio e que nenhum dos pobres da comunidade estava armado.

É lamentável a ação do Coronel Tadeu, cujas desculpas para o ato não convencem.

O que ele fez foi, no mínimo, um ato de vandalismo, uma demonstração de intolerância e um sentimento de pura arrogância.

Rasgando um quadro informativo, o Coronel Tadeu já merece a perda do mandato.

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