Pular para o conteúdo principal

ANITTA SE ALIA AO ULTRACOMERCIALISMO DO "REI DO POP" MAX MARTIN

PARCERIA DE ANITTA COM O PRODUTOR MAX MARTIN MOSTRA QUE O MODELO QUE ELE CONCEBEU DE MÚSICA POP VIROU UMA FRANQUIA MULTINACIONAL.

A informação musical divulgada na última semana revelou que a cantora Anitta foi contratada para gravar uma música com o produtor sueco radicado nos EUA, Max Martin.

A informação foi dada pelo empresário de carreira internacional de Anitta, Brandon Silverstein, e fez os mileniais pirarem por ver a cantora carioca sendo produzida pelo festejado Max Martin.

Só que isso deixa a máscara cair. Afinal, não se trata de "valorizar a música brasileira" através da colaboração de "um dos maiores produtores do mundo".

A coisa vai mais embaixo. É a mostra do comercialismo puro. Seja o ultracomercialismo na música brasileira atual, seja o império que representa Max Martin, hoje o verdadeiro "Rei do Pop".

Martin é conhecido por criar um modelo de música pop sem o menor compromisso cultural.

Pretensamente eclético, é um pop ultracomercial maquiado por uma cosmética identitarista e que compensa a falta de personalidade musical da maioria de seus intérpretes por uma disparidade estilística que reflete até mesmo no repertório quase sempre de créditos autorais numerosos.

Chega-se a haver até onze pessoas creditadas oficialmente na autoria de vários sucessos. E o intérprete participa desse crédito, numa colaboração menor, geralmente algumas letras adicionais (additional lyrics, em inglês).

Os discos sempre contam com disparidade estilística. Uma faixa é "mais latina", outra mais hip hop, outra eletrônica, outra mais disco, outra pseudo-acústica, com sâmpler de violão, algum pop-rock aqui e ali e nada muito além disso.

Nos palcos, esse modelo de música pop se fundamenta por apresentações terrivelmente coreografadas, com dançarinos demais e um jogo cênico que servem para abafar a ruindade musical desses sucessos.

O que vemos em Anitta é que o modelo Max Martin de música pop não é mais do que uma franquia internacional ou multinacional.

O k-pop de nomes como BTS e Blackpink comprovam que o método de Max Martin virou franquia em outros países. O k-pop, sul-coreano, e o j-pop, japonês, são exemplos disso.

Mas há também essas franquias em Porto Rico, Colômbia, Grã-Bretanha, Itália e no próprio país natal do produtor, a Suécia.

Max Martin é uma espécie de "dono" do pop mundial, e olha que ele ironicamente é um ex-músico de heavy metal. Seu poder leva o comercialismo musical às mais derradeiras consequências.

Só que, habilidoso, Max tenta dar a impressão contrária. Injeta identitarismo hedonista no pop feito pelos seus intérpretes tutelados, para dar a impressão de que seus "artistas" são "muito engajados" e "têm vontade própria".

E isso, num contexto de comercialismo enrustido e não-assumido, que recebe passagens de pano até de jornalistas "isentos", é terrível, principalmente num quadro culturalmente deficitário que é o Brasil.

Aqui até as piores cafonices, do nível de Michael Sullivan, É O Tchan e Raça Negra (com o vocal pavoroso de Luís Carlos e sua voz miúda), são vendidas como pseudo-vanguardas, enganando os saudosistas de primeira viagem que mal sabem o que é "vintage".

Parece que no Brasil o hit-parade ficou tão gourmetizado que ele agora é visto como seu próprio oposto.

Aqui lacração virou "vanguarda" e as redes sociais posam de "mídia alternativa". Mas tudo isso continua sendo mainstream, establishment, comercialismo correndo nas veias.

O problema é que os mileniais ficam se achando com seu gosto musical tenebroso, sustentado pelos apelos chorosos de "combate ao preconceito" (ver Esses Intelectuais Pertinentes...).

Como nasceram entre 1989 e 2002, e seus guias são pessoas já culturalmente precarizadas nascidas entre 1978 e 1987, os mileniais se acham "especiais" e "donos da verdade absoluta".

E aí vemos o quanto a música de qualidade virou coisa do passado, um passado já ameaçado, porque a mediocridade musical dos anos 1970, 1980 e 1990 já está gourmetizada e recebe mais passagem de pano da crítica especializada do que carro sujo lavado por um flanelinha.

Que Anitta representou o ultracomercialismo quando era apenas um ídolo nacional, isso é mais que óbvio.

Agora, mostrando que o império de Max Martin é tão poderoso que promove franquias em países como Brasil e Coreia do Sul, isso confirma o quanto o ultracomercialismo musical está a pleno vapor.

O comercialismo na música e o poder da mídia e do mercado não acabaram. Pelo contrário, eles se mostram mais intensos e vorazes, mostrando seus novos mecanismos de poder nas redes sociais. Quem não admitir isso é que está bastante desinformado das coisas.
 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

LULA, O MAIOR PELEGO BRASILEIRO

  POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, LULA DE 2022 ESTÁ MAIS PRÓXIMO DE FERNANDO COLLOR O QUE DO LULA DE 1989. A recente notícia de que o governo Lula decidiu cortar verbas para bolsas de estudo, educação básica e Farmácia Popular faz lembrar o governo Collor em 1991, que estava cortando salários e ameaçando privatizar universidades públicas. Lula, que permitiu privatização de estradas no Paraná, virou um grande pelego político. O Lula de 2022 está mais próximo do Fernando Collor de 1989 do que o próprio Lula naquela época. O Lula de hoje é espetaculoso, demagógico, midiático, marqueteiro e agrada com mais facilidade as elites do poder econômico. Sem falar que o atual presidente brasileiro está mais próximo de um político neoliberal do que um líder realmente popular. Eu estava conversando com um corretor colega de equipe, no meu recém-encerrado estágio de corretagem. Ele é bolsonarista, posição que não compartilho, vale lembrar. Ele havia sido petista na juventude, mas quando decidiu votar em Lul

MAIS DECEPÇÃO DO GOVERNO LULA

Governo Lula continua decepcionando. Três casos mostram isso e se tratam de fatos, não mentiras plantadas por bolsonaristas ou lavajatistas. E algo bastante vergonhoso, porque se trata de frustrações dos movimentos sociais com a indiferença do Governo Federal às suas necessidades e reivindicações. Além de ter havido um quarto caso, o dos protestos de professores contra os cortes de verbas para a Educação, descrito aqui em postagem anterior, o governo Lula enfrenta protestos dos movimentos indígenas, da comunidade científica e dos trabalhadores sem terra, lembrando que o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) já manifestou insatisfação com o governo e afirmou que iria protestar contra ele. O presidente Lula, ao lado da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, assinou, no último dia 18, a demarcação de apenas duas terras para se destinarem a ser reservas indígenas, quando era prometido um total de seis. Aldeia Velha (BA) e Cacique Fontoura (MT) foram beneficiadas pelo document

O ETARISTA E NADA DEMOCRÁTICO MERCADO DE TRABALHO

É RUIM O MERCADO DISCRIMINAR POR ETARISMO, AINDA MAIS QUANDO O BRASIL HOJE É GOVERNADO POR UM IDOSO. O mercado de trabalho, vamos combinar, é marcado pela estupidez, como se vê na equação maluca de combinar pouca idade e longa experiência, quando se exige experiência comprovada em carteira assinada até para coisas simples como fazer cafezinho. O drama também ocorre quando recrutadores de "oficinas de ideias" não conseguem discernir reportagem de stand up comedy  e contratam comediantes para cargos de Comunicação, enganados pelas lorotas contadas por esses humoristas sobre uma hipotética carreira jornalística, longa demais para suas idades e produtiva demais para permitir uma carreira paralela ou simultânea a gente que, com carreira na comédia, precisa criar e ensaiar esquetes de piadas. Também vemos, nos concursos públicos, questões truncadas e prolixas - que, muitas vezes mal elaboradas, nem as bancas organizadoras conseguem entender - , em provas com gabaritos com margem de