SÃO SEBASTIÃO, CIDADE DO LITORAL NORTE PAULISTA QUE FOI A MAIS ATINGIDA PELO TEMPORAL DO ÚLTIMO FIM DE SEMANA.
Peço compreensão a vocês por conta de postagens amargas nos últimos dias. É desagradável encarar textos que rompem com ilusões, muitas delas aparentemente consensuais ou quase unânimes, quando o momento sugeria uma positividade tóxica, já que o bolsonarismo, em tese, foi deixado para trás, como uma suposta página virada da História.
Poderia transformar meu blogue num reino da fantasia, dizer que em Salvador mulher surge feito capim na relva, que as mulheres-frutas simbolizam um novo tipo de feminismo, que os "médiuns espíritas" são um tipo de filósofo brasileiro, achar que Chitãozinho & Xororó e Michael Sullivan são "vanguarda" e sugerir Bell Marques para entrar nos Novos Baianos para substituir o finado Moraes Moreira. Tudo um monte de mentiras, mas faria muita gente dormir tranquila e eu lacraria com mais visibilidade e visualizações.
Só que eu sou jornalista, não um mistificador. Não tenho a obrigação de parecer legal o tempo todo. A realidade, no Brasil, não é legal. O golpe político de 2016 é um fato recente e quase todos os personagens dessa época estão vivos não apenas para contar história, mas para fazer história. Não dá para dizer que o nosso país reencontrou o Paraíso, ainda mais com um presidente muitíssimo idoso e sem o prometido "tesão de garoto de 20 anos" para reconstruir nossa nação.
Enquanto o Carnaval brasileiro ocorre, em várias partes do Brasil, como um misto de noitada com reality show ao ar livre, a verdadeira realidade mostra situações duras, como as desigualdades sociais que matam muitos excluídos, obrigados a enfrentar adversidades sem fim.
No Litoral Norte paulista, um violento temporal destruiu casas e matou várias pessoas. Cinco cidades foram atingidas: São Sebastião, a mais castigada, e Caraguatatuba, Bertioga, Ilhabela e Ubatuba. Até o momento, 48 pessoas morreram, 47 em São Sebastião, uma em Ubatuba. Só em São Sebastião mais de 50 casas desabaram.
Mas o temporal refletiu também no litoral restante de São Paulo, incluindo a Baixada Santista. Em cidades como Santos, Guarujá e São Vicente, estradas foram afetadas pelo temporal, causando problemas no trânsito de veículos.
O descaso das autoridades é responsável por tamanhas tragédias, assim como a tragédia de Petrópolis, na Região Serrana fluminense, no ano passado. E o pior é que se vive uma "cultura" difundida por intelectuais festejados que fala das favelas e construções similares como "paraísos", "habitats naturais" do povo pobre, e que, tentando transformar exceção em regra, fez um alvoroço por conta da arquitetura arrojada de uma residência numa favela em Belo Horizonte, que concorreu a um prêmio mundial do setor.
Sim, setores da "boa" sociedade no nosso Brasil demonstram seu profundo cinismo. O tal "combate ao preconceito" foi um artifício de intelectuais festejados - "santificados" pela maioria das páginas existentes na Internet - para forçar a aceitação da inferioridade social do povo pobre. Veem a pobreza de longe, no alto de seus condomínios confortáveis, e tudo é lindo. Pensam que as favelas vivem um Carnaval permanente, 365 ou 366 dias por ano, e, pasmem, pensar assim é visto como "ruptura de preconceito", vejam só!
SÓ FALTA DIZER QUE OS MORTOS DO TEMPORAL "AFOGARAM ESCRAVOS" NOUTRA ENCARNAÇÃO
Ninguém faz uma ação preventiva ou reparatória para evitar ou consertar os estragos no Brasil. Há a triste tradição de sempre deixar que tragédias aconteçam no nosso país. A onda dos feminicídios, por exemplo, é um estágio extremo de uma mentira difundida pela mídia de que bares e boates são ambientes ideais para a vida amorosa. Na ilusão etílica, mulheres conhecem homens "divertidos" e extrovertidos que, anos mais tarde, irão tirar as vidas delas num momento de grave desavença.
Favelas não só sofrem tragédias como seu cotidiano é dramático. São lugares desorganizados, sem sequer acessibilidade para quem é portador de limitações físicas. Não apresentam qualidade de vida, mas, mesmo assim, nossa mídia "generosa", hoje solidária ao presidente Lula (atualmente convertido a "mascote" da Faria Lima), fica exaltando essas habitações provisórias como se elas fossem definitivas.
É a elite do atraso que não quer ser reconhecida por esse nome. A "boa" elite, que se julga entender mais de povo pobre do que o próprio povo pobre, porque, em tese, o povo pobre "estaria ocupado demais" para o autoconhecimento, exaltam a bregalização musical e comportamental, cultuam subcelebridades sob o pretexto de que eles são "mais espontâneos" no entretenimento midiático.
Essa "boa" sociedade também cultua religiões marcadas pela Teologia do Sofrimento - quando é para os pobres, pois a "boa" elite tem para si a Teologia da Prosperidade - , a pimenta a ser pingada nos olhos dos aflitos como um pretenso "refresco para a alma", como setores conservadores do Catolicismo e o conjunto do Espiritismo brasileiro, este envolvido num incidente bastante grave.
Um dos "médiuns espíritas" baianos, não o que faz pintura fake e faz piadas contra gordos, sogras e louras, mas o outro que passou a vida fazendo turismo pela Europa e EUA se promovendo às custas de farsas como "crianças-índigos", manifestou apoio aos invasores que causaram desordem e vandalismo nos prédios dos Três Poderes em Brasília, no último 08 de Janeiro.
É o segundo "médium" a ser desmascarado, depois do João de Deus de Abadiânia, Goiás. O "médium" de Salvador, atuante numa "mansão" em Pau da Lima, cometeu vários incidentes nos últimos anos: promoveu no seu evento "pacifista" um estranho composto alimentar chamado "farinata", acusou os náufragos refugiados da África de terem sido "europeus sanguinários" em antiga encarnação, fez comentários homofóbicos em um evento "espírita" e disse que Jair Bolsonaro, certa vez recebido na "mansão", era "uma esperança para o Brasil".
É o segundo escândalo a abalar os charlatães do dito "kardecismo" (a religião brasileira que traiu Allan Kardec), depois do farsante de Abadiânia (que enganou gente como Oprah Winfrey e Madonna), cidade goiana a meia-hora de Uberaba. Como João de Deus, o "médium" baiano também manifestou apoio a Sérgio Moro e sua Operação Lava Jato.
O próprio "médium" baiano, que assume seu bolsonarismo, também tornou-se porta-voz de uma falsa profecia do "médium da peruca", o lendário "médium" de Uberaba que, por enquanto, tem seu corpo coberto de tanto pano que se passa sobre ele. Há um pouco de tudo entre os que passam pano no dito "lápis de Deus": esquerdistas, céticos, ateus, comunidade LGBTQIA+, fãs de rock pesado, atrizes sensuais. Todos os tipos repudiados pelo "médium" mineiro, ultraconservador até o perispírito.
Por enquanto, Uberaba está, em tese, livre dos "terremotos" que atingiram ou atingem Abadiânia e o bairro soteropolitano de Pau da Lima. E isso apesar do "médium da peruca", famoso por lançar mais de 400 livros farsantes, ter também feito horrores em sua trajetória "voltada exclusivamente para o próximo" (sic) e de, se estivesse vivo, ser provavelmente outro bolsonarista da pesada.
O "lápis de Deus" quase foi para a prisão por usurpar a memoria de Humberto de Campos, e depois assediou o filho homônimo do escritor, usando do truque chamado "bombardeio de amor", para abafar e cancelar um processo judicial em andamento. Apoiou fraudes de materialização até sair de fininho quando corria o risco de ser desmascarado. E "lavou as mãos" diante da morte suspeita do sobrinho que iria denunciar suas fraudes, Amauri Pena, provavelmente por envenenamento, em ameaça anunciada em matéria de Manchete, edição de 09 de agosto de 1958.
E mais, o "médium da peruca" defendeu a ditadura falando para milhares de espectadores num programa da TV Tupi, em 1971. No mesmo ano, matéria de Realidade, conceituada revista, edição de novembro, mostrava um exame médico minucioso e sério no qual desmascarava a "mediunidade" do "maior médium do Brasil", tendo sido efeito de problemas cerebrais que produzem alucinações mentais.
Num livro de "cartas e crônicas", de 1966, o "bondoso médium" fez um julgamento de valor muito perverso, acusando as vítimas do famoso incêndio de um circo em Niterói, em dezembro de 1961, de terem sido "romanos sanguinários" em uma encarnação distante.
Sem provas nem fundamentos, o julgamento de valor se voltou contra pessoas humildes, incapazes de pagar um advogado para processar o charlatão. Se for por esse raciocínio, os "kardecistas" poderão ventilar, sem um pingo de fundamento, que as vítimas do recente temporal de São Sebastião teriam sido, em encarnação antiga, traficantes de escravos que jogavam os cativos rebeldes para se afogarem em alto mar.
E o "médium", apesar dessa ofensa violenta contra a gente humilde que só queria se divertir num circo, foi homenageado por uma "avenida de ciclovia" que não passa de uma rua de carroça onde mal passam automóveis particulares, no bairro de Piratininga, em Niterói. Já dá para perceber quanto mau agouro o bairro niteroiense tem que suportar com tantos incidentes negativos em seu entorno.
Outra coisa também foi a condecoração da Escola Superior de Guerra, espécie de QG da ditadura militar, que em 1972 ofereceu ao "médium" uma pomposa cerimônia, com direito a palestra e orações, e prêmios de condecoração. Ninguém presta atenção quanto à gravidade desse episódio, pois a ESG era exigente na premiação aos colaboradores do regime ditatorial.
É burrice acreditar que, neste caso, a Escola Superior de Guerra - apelidada de "Sorbonne" pelos militares - iria condecorar o "médium" a contragosto e o "médium" receber homenagem à força. Isso não tem um pingo de lógica. Se o "médium" recebeu homenagem da Escola Superior de Guerra, é porque colaborou com a ditadura, com mais empenho do que o já engajado Cabo Anselmo. Essa homenagem, se fosse pelo contexto de hoje, equivaleria a uma visita de Jair Bolsonaro a "centros espíritas" respaldados pelo "médium" em Uberaba, Uberlândia ou mesmo Belo Horizonte.
Ninguém dá bola para essas irregularidades e, diante do "médium da peruca", a maioria dos brasileiros se comporta como aquele marido corno-manso que, traído pela mulher, acha que ela tem o direito de passear com seus "priminhos" e voltar tarde da noite. Numa das páginas críticas a esse mistificador "espírita", li uma definição interessante do "médium de peruca": "paiol de bombas semióticas". O problema é que nem os semiólogos querem mexer nas terríveis rasuras deixadas pelo "lápis de Deus".
Só que, se não fosse o tal "lápis de Deus", não haveria "médiuns" farsantes que forjam falsa materialização, fingem fazer curandeirismo que acaba matando pacientes, e acobertam com a atividade "filantrópica" crimes sexuais, fraudes literárias, enriquecimento ilícito e apoio a eventos fascistas e desordeiros como o governo Jair Bolsonaro e a truculência de seus seguidores no 08 de Janeiro.
As frutas não caem fora da árvore. Se existem os maus frutos de "médiuns" charlatães, reacionários e até tarados, é porque houve um precursor, que não necessariamente cometeu os mesmos atos, embora tivesse sido, também, um charlatão em sua trajetória "de amor e paz". Por enquanto, a complacência a esse "médium" pioneiro, precursor da literatura fake, ocorre acima e ao arrepio dos limites da lógica, com as perucas, os bonés e os ternos cafonas do "bondoso homem" fartos de tanto pano passado.
Seria necessário romper com essa complacência. Os jornalistas investigativos, por exemplo, deveriam investigar todos esses podres. Investigar a morte suspeita de Amauri Pena e evitar a explicação preguiçosa do evento da Escola Superior de Guerra, porque o "médium", sim, era um direitista extremo e ultraconservador. Posso dizer isso porque já li frases, livros ou trechos de livros desse farsante, seja quando eu fui "espírita", seja para entender a farsa dessas obras, depois que larguei a religião.
Devemos terminar com esse papo de "histórias lindas", "lindas mensagens", "lindas orações". Os "médiuns" nunca difundiram mensagens lindas, essas mensagens são brutais, insensíveis e grotescos jogos de palavras opostas (do tipo "é sofrendo calado que Deus lhe ouve melhor") que apenas soam piegas. E que só servem para temperar a preguiça da elite do atraso que não quer ser assim conhecida, incapaz de criar das próprias mentes mensagens de lições de vida.
Essa "boa" sociedade, tataraneta dos escravocratas da Casa Grande, precisam de "médiuns" charlatães desse "Espiritismo de chiqueiro" para difundir supostas lições de vida. Ainda que essas "lindas frases" se voltem para a aceitação passiva das adversidades sem fim. A "boa" sociedade lê essas frases e finge que não é com ela, até depois sofrer o mau agouro trazido por essa religião desonesta que trai de forma inescrupulosa seu alegado precursor francês.
O "terremoto" que, de um lado, atingiu Abadiânia e, de outro, o bairro de Pau da Lima, em Salvador, ainda vai atingir o Triângulo Mineiro. Uma mentira, mesmo aquela que pareça agradável e faça muita gente chorar de comoção (como numa "masturbação pelos olhos"), não tem a eternidade para ficar em pé. Um dia ela desaba, em vez das 50 e tantas casas atingidas pelo temporal de São Sebastião.
Fica aqui nossos pesares a todas as vítimas desse terrível incidente.
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