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OPERAÇÃO LAVA JATO E BOLSONARISMO FIZERAM MAL A LULA

LULA SENDO LEVADO PARA A PRISÃO EM CURITIBA, EM 2018. 

Vendo o andar da carruagem do atual governo Lula, que até agora não começou, preocupado demais com o desmonte do bolsonarismo e com a discussão de propostas - efeito de uma falta de programa de governo a ser apresentado na campanha presidencial do ano passado - , nota-se que o terceiro mandato já começa ruim e isso é um efeito da Operação Lava Jato e do bolsonarismo.

Graças a esses dois fenômenos trazidos pela direita golpista, Lula se desnorteou. Até 2020, era o lúcido político experiente, de grandes ideias e que deu entrevistas muito interessantes. Mas, ao sair da prisão, Lula teve que negociar com a direita moderada a sua liberdade, daí que a "nata" do golpismo que derrubou Dilma Rousseff em 2016 decidiu se divorciar do bolsonarismo que havia criado e passou a defender um suposto movimento "pela redemocratização do Brasil".

E por que Lula se desnorteou? É porque ele fez questão de se aliar com forças conservadoras: empresariado, religiosos tradicionais, setores da alta sociedade. E decidiu cortar pontos "arriscados" do seu programa de governo, que, na verdade, nem foi elaborado. "Em vez de perguntarem o que eu vou fazer, perguntem o que eu fiz", disse Lula em entrevista à revista Time.

A narrativa da "democracia" era um eufemismo para um projeto político supostamente popular que em contrapartida não prejudicava os interesses das elites. Geralmente é um projeto no qual o povo trabalhador recebe benefícios relativos, enquanto os mais ricos continuam enriquecendo como sempre enriqueceram.

Lula se perdeu entre os mitos e a realidade. Ele persegue dois mitos, sendo um deles o do antigo líder sindical que hoje é uma pálida lembrança de um passado que não volta mais e do qual não se sobrou sequer vestígios. O outro mito é o do líder popular que presidiu o país em dois mandatos, entre 2003 e 2010, realizando progressos, mas longe de fazer algo revolucionário e duradouro, tanto que depois dele e de um mandato e meio de Dilma Rousseff, os retrocessos voltaram.

Lula tenta agradar os dois lados. Não revogou a reforma trabalhista, mesmo sabendo que ela não gerou empregos nem promoveu o crescimento econômico. Aceitou um aumento do salário mínimo mixuruca, de R$ 1.212 a um variante reajuste entre R$ 1.302 e R$ 1.320, aparentemente prevalecendo o primeiro destes valores.

A mudança estranha de Lula se deu quando ele fez questão de, em vez de escolher alguém de sua afinidade para ser vice-presidente na chapa presidencial, escolheu seu antigo rival da campanha de 2006, Geraldo Alckmin, que até hoje não esboçou uma autocrítica quanto aos erros passados e também não demonstrou uma mudança real de conduta. Ele saiu do PSDB, mas o PSDB não saiu dele.

Mas também, que diferença faz? O PSDB decaiu por conta de uma geração mais nova, enquanto os liberais "clássicos" estão com Lula e adotam informalmente o PT, oficialmente Partido dos Trabalhadores, como um Partido dos Tucanos.

LULA ENVELHECEU RAPIDAMENTE EM APENAS CINCO ANOS, COMO SE OBSERVA NAS FOTOS DE 2018 E 2023.

Até fisicamente Lula, que tinha um ritmo natural de envelhecimento físico, passou a envelhecer mais rapidamente, hoje aparentando mais de 90 anos, conforme o padrão de envelhecimento humano de hoje. A aparência de Lula só estava de acordo com sua idade (78 anos, ainda incompletos) para os padrões de envelhecimento de cem anos atrás. Ao lado do nonagenário José Sarney, Lula parece ter a mesma idade que o político maranhense.

Ficou até patético, na campanha presidencial, Lula ser tratado como se fosse "galã", "garotão sarado", "musculoso", aparecendo até sobre um tamborete, diante do ônibus CAIO Apache VIP 4 da Jurema, que para quem não sabe foi usado para uma famosa foto com a cantora Anitta, adaptando este retrato com Lula definido, através do letreiro do ônibus, como "Boy from Brazil". Garoto do Brasil? E ainda pulando de maneira patética numa passeata de campanha na Rua Augusta, aqui em São Paulo?

Um Lula neoliberal, domesticado pela Faria Lima, que usa a "democracia" como desculpa para suas concessões ao neoliberalismo, é algo que salta aos olhos, mas oficialmente ninguém fala. Oficialmente, fala-se que Lula "está cumprindo um governo mais à esquerda", com "realizações plenas" já no seu primeiro mês na Presidência da República".

Mas precisamos observar as coisas fora da bolha da classe média abastada. Não se observa uma medida adotada para combater a fome, o desemprego e a miséria. Tudo o que Lula fez ou propôs até agora tem a ver com o desmonte do bolsonarismo. Mesmo a visita de Lula à tribo Yanomami, vítima de tragédia em Roraima, e sua intenção em "rever" a privatização da Eletrobras, se inserem no contexto de desmonte do governo de Jair Bolsonaro.

Agora a questão está em torno do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que é acusado de querer sabotar o governo Lula, e rumores indicam suposta divergência de Lula com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aparentemente apoiando a permanência do neto do lendário economista neoliberal no referido cargo. 

Campos Neto é um dos remanescentes dos quadros tecnocráticos que a direita moderada ofereceu para o setor econômico do governo Jair Bolsonaro, comandado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, neoliberal formado pela Universidade de Chicago, daí o codinome "Chicago Boys" dos economistas da faculdade estadunidense que serviram ao ditador chileno Augusto Pinochet, nos anos 1980.

Vejo que Lula anda perdido entre manter o mito do "esquerdista carismático" e se adaptar ao gosto das elites neoliberais. A campanha da Lava Jato, a prisão e o bolsonarismo fizeram mal a Lula, que parece recorrer à bacia das almas se aliando à direita moderada visando uma frente ampla demais para lhe garantir a vitória nas urnas.

E, agora, de braços dados com os neoliberais e prestes a falar com Joe Biden com a mesma cordialidade demonstrada com o Departamento de Estado dos EUA, Lula tenta também implantar no Brasil um projeto "de esquerda", dentro de sua conduta hesitante, pior do que as concessões que havia feito há vinte anos.

Por sorte, vivemos num clima de pós-verdade, e até a mídia de esquerda solta a ideia de um Lula "à esquerda" e "já realizando muita coisa" no seu governo, sem no entanto trazer qualquer fundamentação nem embasamento. Tudo isso é ventilado por frases soltas, que soam especulativas, e o pior é que elas são escritas por jornalistas experientes, que em outros tempos escreviam textos consistentes.

Tudo fica parecendo mais um motivo de afobamento político e social do Brasil que teve a obsessão de eleger Jair Bolsonaro na marra, em 2018, e no ano passado quis eleger Lula, também na marra. E agora os lulistas abrem mão da verdade, na ânsia frenética de superar o bolsonarismo, mesmo que o combate à fome e a miséria, obsessões eleitorais de Lula, seja deixado para depois.

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