Pular para o conteúdo principal

A MANIA DOS BRASILEIROS DE NÃO PRECISAR DADOS SOBRE ANOS

OS BEATLES EM "MEADOS DOS ANOS 60".

Como pesquisar, no Brasil, é uma trabalheira. A desinformação é generalizada. Se eu quero saber como se faz para divulgar um livro independente, as páginas que aparecem são para publicar um livro, ou seja, para escolher uma editora digital para fazer o carregamento do arquivo do livro (texto e capa). 

Não é a mesma coisa. Afinal, um livro independente é publicado, através de um cadastro de um internauta escritor que queira fazer o upload da sua obra. Divulgar é outra coisa, é como fazer uma propaganda para que o livro possa ser conhecido por outras pessoas. Publicar é botar o livro no ar, na Internet. Divulgar é apresentar o trabalho para um maior número de pessoas possível, através de algum meio de propaganda.

Só que o problema é que boa parte dessas propagandas é cara. Como é que vou divulgar meus livros pagando alguma taxa? Preciso vender meus livros, e não bastasse a divulgação ser cara, há a dificuldade de encontrar meios gratuitos e fáceis para ter o trabalho conhecido por mais pessoas.

E isso é ruim. Quem é menos talentoso e tem mais dinheiro e lobby para divulgar seus trabalhos consegue fácil, fácil. Já devem surgir pastiches literários de The Last of Us, escritos por gente que fura a fila dos novos autores. Muita obra supérflua que não passa de um remix de elementos de seriados da Netflix roubam o lugar de quem deveria ser reconhecido por obras que valorizam o Conhecimento e o Saber, ainda que na forma de obras de ficção.

E quando se quer comprar um produto que é vendido numa capital, como Rio de Janeiro, mas inexiste no mercado de São Paulo? Se eu botar, na Internet, a pergunta "Como encontrar produto X em São Paulo", teclando na lacuna de busca do Google, o que vai aparecer? Páginas indicando compra na Internet, compra on line. A gente quer saber se o produto é ou não vendido no mercado paulistano e tudo o que se informa é a venda desse produto no site de um mercado. Quero saber de compra física, presencial, não de compra digital.

Mas a burrice vai adiante. Vemos nas pesquisas sobre coisas antigas a preguiça em definir genericamente pelas décadas. O que tem de foto ou vídeo com informação restrita a "anos 50" e "anos 60" é de fazer budista explodir de raiva. A preguiça historiográfica ocorre de tal forma que eu preciso usar minha intuição e meu senso observador para identificar as datas das imagens.

Vejamos dois exemplos:


Nesta foto da Agência A Tarde, em todas as fontes há apenas o crédito deste registro da Praça Castro Alves, em Salvador (pela qual se observam ônibus dos modelos Grassi Argonauta e Metropolitana Maroto), como "anos 60" ou "meados dos anos 60".

Mas a foto é identificável como o exato ano de 1960 por um detalhe que observei: uma faixa da campanha presidencial do marechal Henrique Teixeira Lott para a Presidência da República, na disputa vencida por Jânio Quadros. Portanto, não tem erro: 1960, não sendo outro ano senão o citado.

Outro exemplo:


Numa comunidade do Facebook, Nikity das Antigas, a foto do Colégio Estadual José Bonifácio, localizado no bairro de São Lourenço, em Niterói, próximo à Alameda São Boaventura, apareceu "sem data" no crédito da foto mais antiga. Lembrando que eu fotografei a mesma escola em 2021 e esta foto é uma amostra do meu instigante livro de fotografia, A Niterói Que Eu Vejo, disponível no Uiclap: https://loja.uiclap.com/titulo/ua13971/. Vão lá adquirir, pois há muitas fotos e informações.

Pois eu pesquisei outras fotos, a partir de uma de outra escola, a Escola Estadual Raul Vidal, na Av. Feliciano Sodré, e aí veio a fonte: livro Estado do Rio de Janeiro no Governo Ernâni Amaral Peixoto: 1951 a 1954 e, verificando o contexto da foto, pude reconhecer que ela é de 1954, embora há fotos de anos anteriores do governo do famoso genro de Getúlio Vargas.

Sendo o colégio Raul Vidal incluído no livro, pude inferir, então, que a foto "sem data" faz parte do referido livro, podendo então usar o senso de pesquisa para identificar a data do registro. Mas realmente não é fácil, muitas fotos eu costumo usar uma combinação de "chutômetro", intuição e contexto de cada detalhe, como presença de automóveis numa cidade do interior.

Infelizmente, a preguiça das pessoas cria um "efeito manada" na qual se leem apenas impressões pessoais e elogios vagos de cada pessoa. "Lindo", "Gostei", "Adorei esta foto", "Saudades desses tempos" são as respostas mais comuns. Raramente uma resposta sugere alguma data provavelmente mais precisa da referida foto. Na maioria das vezes sou eu mesmo que respondo inferindo uma possível data do registro fotográfico.

O mais chocante é que é gente mais velha do que eu que cai nesse vício de falar "meados da década tal" e se satisfaz com essa preguiça memorialista. É mais um exemplo da zona de conforto que transforma o nosso país num atoleiro existencial. E muita gente ainda acha que nosso país vai para o Primeiro Mundo sem as condições mentais necessárias para isso. Nenhum país vira potência com cultura ruim.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

INFANTILIZAÇÃO E ADULTIZAÇÃO

A sociedade brasileira vive uma situação estranha, sob todos os aspectos. Temos uma elite infantilizada, com pessoas de 18 a 25 anos mostrando um forte semblante infantil, diferente do que eu via há cerca de 45 anos, quando via pessoas de 22 anos que me pareciam “plenamente adultas”. É um cenário em que a infantilizada sociedade woke brasileira, que chega a definir os inócuos e tolos sucessos “Ilariê” e “Xibom Bom Bom” cono canções de protesto e define como “Bob Dylan da Central” o Odair José, na verdade o “Pat Boone dos Jardins”, apostar num idoso doente de 80 anos para conduzir o futuro do Brasil. A denúncia recente do influenciador e humorista Felca sobre a adultização de menores do ídolo do brega-funk Hytalo Santos, que foi preso enquanto planejava fugir do Brasil, é apenas uma pequena parte de um contexto muito complexo de um colapso etário muito grande. Isso inclui até mesmo uma geração de empresários e profissionais liberais que, cerca de duas décadas atrás, viraram os queridões...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

DENÚNCIA GRAVE: "MÉDIUM" TIDO COMO "SÍMBOLO DE AMOR E FRATERNIDADE" COLABOROU COM A DITADURA

O famoso "médium" que é conhecido como "símbolo maior de amor e fraternidade", que "viveu apenas pela dedicação ao próximo" e era tido como "lápis de Deus" foi um colaborador perigoso da ditadura militar. Não vou dizer o nome desse sujeito, para não trazer más energias. Mas ele era de Minas Gerais e foi conhecido por usar perucas e ternos cafonas, óculos escuros e por defender ideias ultraconservadoras calcadas no princípio de que "devemos aceitar os infortúnios e agradecer a Deus pela desgraça obtida". O pretexto era que, aceitando o sofrimento "sem queixumes", se obterá as prometidas "bênçãos divinas". Sádico, o "bondoso homem" - que muitos chegaram a enfiar a palavra "Amor" como um suposto sobrenome - dizia que as "bênçãos futuras" eram mais dificuldades, principalmente servidão, disciplina e adversidades cruéis. Fui espírita - isto é, nos padrões em que essa opção religi...

CRISE DA MPB ATINGE NÍVEIS CATASTRÓFICOS

INFELIZMENTE, O MESTRE MILTON NASCIMENTO, ALÉM DE SOFRER DE MAL DE PARKINSON, FOI DIAGNOSTICADO COM DEMÊNCIA. A MPB ainda respira, mas ela já carece de uma renovação real e com visibilidade. Novos artistas continuam surgindo, mas poucos conseguem ser artisticamente relevantes e a grande maioria ainda traduz clichês pós-tropicalistas para o contexto brega-identitário dos últimos tempos. Recentemente, o cantor Milton Nascimento, um dos maiores cantores e compositores da música brasileira e respeitadíssimo no exterior por conta de sua carreira íntegra, com influências que vão da Bossa Nova ao rock progressivo, foi diagnosticado com um tipo de demência, a demência de corpos de Lewy. Eu uma entrevista, o filho Augusto lamentou a rotina que passou a viver nos últimos anos , quando também foi diagnosticado o Mal de Parkinson, outra doença que atinge o cantor. Numa triste e lamentável curiosidade, Milton sofre tanto a doença do ator canadense Michael J. Fox, da franquia De Volta para o Futuro ...

BURGUESIA ILUSTRADA QUER “SUBSTITUIR” O POVO BRASILEIRO

O protagonismo que uma parcela de brasileiros que estão bem de vida vivenciam, desde que um Lula voltou ao poder entrosado com as classes dominantes, revela uma grande pegadinha para a opinião pública, coisa que poucos conseguem perceber com a necessária lucidez e um pouco de objetividade. A narrativa oficial é que as classes populares no Brasil integram uma revolução sem precedentes na História da Humanidade e que estão perto de conquistar o mundo, com o nosso país transformado em quinta maior economia do planeta e já integrando o banquete das nações desenvolvidas. Mas a gente vê, fora dessa bolha nas redes sociais, que a situação não é bem assim. Há muitas pessoas sofrendo, entre favelados, camponeses e sem-teto, e a "boa" sociedade nem está aí. Até porque uma narrativa dos tempos do Segundo Império retoma seu vigor, num novo contexto. Naquele tempo, "povo" brasileiro eram as pessoas bem de vida, de pele branca, geralmente de origem ibérica, ou seja, portuguesa ou...

A HIPOCRISIA DA ELITE DO BOM ATRASO

Quanta falsidade. Se levarmos em conta sobre o que se diz e o que se faz crer, o Brasil é um dos maiores países socialistas do mundo, mas que faz parte do Primeiro Mundo e tem uma das populações mais pobres do planeta, mas que tem dinheiro de sobra para viajar para Bariloche e Cancún como quem vai para a casa da titia e compra um carro para cada membro da família, além de criar, no mínimo, três cachorros. É uma equação maluca essa, daí não ser difícil notar essa falsidade que existe aos montes nas redes sociais. É tanto pobre cheio da grana que a gente desconfia, e tanto “neoliberal de esquerda” que tudo o que acaba acontecendo são as tretas que acontecem envolvendo o “esquerdismo de resultados” e a extrema-direita. A elite do bom atraso, aliás, se compôs com a volta dos pseudo-esquerdistas, discípulos da Era FHC que fingiram serem “de esquerda” nos tempos do Orkut, a se somar aos esquerdistas domesticados e economicamente remediados. Juntamente com a burguesia ilustrada e a pequena bu...

NEGACIONISTA FACTUAL E SUAS RAÍZES SOCIAIS

O NEGACIONISTA FACTUAL REPRESENTA O FILHO DA SOCIALITE DESCOLADA COM O CENSOR AUSTERO, NOS ANOS DE CHUMBO. O negacionista factual é o filho do casamento do desbunde com a censura e o protótipo ilustrativo desse “isentão” dos tempos atuais pode explicar as posturas desse cidadão ao mesmo tempo amante do hedonismo desenfreado e hostil ao pensamento crítico. O sujeito que simboliza o negacionista factual é um homem de cerca de 50 anos, nascido de uma mãe que havia sido, na época, uma ex-modelo e socialite que eventualmente se divertia, durante as viagens profissionais, nas festas descoladas do desbunde. Já o seu pai, uns dez anos mais velho que sua mãe, havia sido, na época da infância do garoto, um funcionário da Censura Federal, um homem sisudo com manias de ser cumpridor de deveres, com personalidade conservadora e moralista. O casal se divorciou com o menino tendo apenas oito anos de idade. Mas isso não impediu a coexistência da formação dúbia do negacionista factual, que assimilou as...

A IMPORTÂNCIA DE SABERMOS A LINHA DO TEMPO DO GOLPE DE 2016

Hoje o golpismo político que escandalizou o Brasil em 2016 anda muito subestimado. O legado do golpe está erroneamente atribuído exclusivamente a Jair Bolsonaro, quando sabemos que este, por mais nefasto e nocivo que seja, foi apenas um operador desse período, hoje ofuscado pelos episódios da reunião do plano de golpe em 2022 e a revolta de Oito de Janeiro em 2023. Mas há quem espalhe na Internet que Jair Bolsonaro, entre nove e trinta anos de idade no período ditatorial, criou o golpe de 1964 (!). De repente os lulistas trocaram a narrativa. Falam do golpe de 2016 como um fato nefasto, já que atingiu uma presidenta do PT. Mas falam de forma secundária e superficial. As negociações da direita moderada com Lula são a senha dessa postura bastante estranha que as esquerdas médias passaram a ter nos últimos quatro anos. A memória curta é um fenômeno muito comum no Brasil, pois ela corresponde ao esquecimento tendencioso dos erros passados, quando parte dos algozes ou pilantras do passado r...