Pular para o conteúdo principal

QUERIDINHO DA INTELECTUALIDADE "BACANA", ZEZÉ DI CAMARGO NEGA QUE HOUVE DITADURA NO BRASIL


Queridinho da intelectualidade "bacana" e ícone da dita "reforma agrária da MPB", o cantor Zezé di Camargo, da famosa dupla com o irmão Luciano, cometeu uma incoerência histórica.

Em entrevista à jornalista Leda Nagle, no canal dela no YouTube, ele veio com a "pérola" de afirmar que a ditadura militar nunca existiu no Brasil.

Primeiro, Zezé afirmou que se considera um cidadão "politizado".

"Me considero um cara muito politizado. Não imagino sendo político. Já tive convite pra isso, já conversei com alguns políticos e eles ficam impressionados com meu conhecimento político. Quero ser politizado para exercer meu direito como cidadão, e meu deveres", afirmou o cantor.

Em seguida, ele acrescentou:

“Vou falar um absurdo pra você, as pessoas vão me criticar, vão achar que sou um maluco. O momento que a gente vive hoje no Brasil... o Brasil lutou muito pela democracia".

Mas, aí, Zezé disparou essa:

"Mas eu fico com pena de como nossos políticos usaram nossa liberdade que nós conquistamos, que era sair do militarismo... muita gente confunde militarismo com ditadura. Nós não vivíamos numa ditadura, vivíamos num militarismo vigiado", afirmou Zezé.

E tentou explicar:

"Ditadura é a Venezuela, Cuba com Fidel Castro e até hoje vive, Hungria, Coreia do Norte, China, esses são realmente ditadores. O Chile com o Pinochet. A Argentina também viveu isso. O Brasil nunca chegou a ser uma ditadura daquelas que ou você está a favor ou você está morto".

Leda lembrou Zezé que a ditadura brasileira teve prisões, confrontos e torturas, mas o cantor goiano insistiu:

"Mas não chegou a ser tão sangrenta, tão violenta, como a gente vive até hoje, no mundo de hoje. Não dá para acreditar que muita gente ainda acredita que uma ditadura vai dar certo".

O cantor, que não se considera um "intelectual de gabinete", ainda teoriza:

"Não quero isso jamais, mas eu imagino que o Brasil hoje precisaria passar por uma depuração. O Brasil até podia pensar no militarismo para reorganizar a coisa e entregar de novo, limpamos essa corja e está aqui o Brasil democrático de novo, como queria. Acho que o Brasil precisava passar por uma depuração dessas".

Em 2005, Zezé di Camargo e seu irmão Luciano eram queridinhos das "esquerdas médias" que pediam para o esquerdismo como um todo acolher a dupla.

Superestimaram o fato tendencioso de que a dupla havia votado em Lula para presidente, na campanha de 2002, acompanhando parte da sociedade conservadora que "apoiou" o petista.

Zezé virou, ao lado de todo o elenco do "funk carioca", a promessa de uma "revolução cultural" no Brasil de 2005.

Era uma parcela do comercialismo cultural que brincava de fazer "ativismo cultural de esquerda".

Nessa época a intelectualidade "bacana" falava da tal "verdadeira MPB" ou "MPB com P maiúsculo", cujo valor estava mais no sucesso comercial do que em algum suposto acréscimo expressivo para o cancioneiro popular brasileiro.

Zezé di Camargo & Luciano lançavam o filme Os Dois Filhos de Francisco, biografia dramatizada dirigida por Breno Silveira, e viveram seus quinze minutos de fama ao lado de intelectuais, artistas mais conceituados e acadêmicos.

Ganharam uma trilha sonora em que os bregas só eram eles, enquanto emepebistas faziam dueto, num esforço de forjar preciosismo à dupla goiana.

Para tornar a dupla digestível, foram omitidos fatos que a dupla votou em Ronaldo Caiado para deputado federal em 2002 e que o filme era produzido pela Globo Filmes.

Nessa época, a Globo Filmes investiu tanto em filmes que teve que dissociar sua marca em parte deles, para evitar ser acusada de concentração de mercado.

O documentário Sou Feia Mas Tô Na Moda, de Denise Garcia, por exemplo, ela mesma uma ex-profissional da RBS, teve que ser creditado como "produção independente", ocultando o patrocínio da Globo.

Este documentário também fez parte de toda uma campanha para glamourizar a "cultura popular" mercantilizada que era difundida em larga escala pela mídia oligárquica desde, pelo menos, os anos 1970 e, com maior intensidade, nos anos 1990.

Enquanto Zezé di Camargo & Luciano promoviam a pretensa imagem "humanista" na imprensa, nas mídias sociais a realidade era outra.

Defensores da dupla goiana "patrulhavam" internautas no Orkut ara humilhar violentamente quem fizesse qualquer crítica aos dois irmãos.

Sim, eu pude ver isso. Gente vasculhando páginas contra a dupla, identificando internautas e mandando mensagens ofensivas para quem discordasse do "grande valor" da dupla.

O tempo passou e Zezé di Camargo & Luciano simbolizaram o desembarque da "base aliada" de Lula, no âmbito "artístico-cultural".

Foram apoiar Aécio Neves em 2014 e a antiga blindagem se dissolveu.

O "sertanejo" é considerado muito indigesto para a intelectualidade "bacana" empurrar para as esquerdas, até pela evidente ligação com as oligarquias rurais no interior brasileiro.

A intelligentzia até tenta. Uma reportagem da Agência Pública (reproduzida no Farofafá), sobre o Festival de Barretos (patrocinado pelo tucano Geraldo Alckmin), sob o pretexto de haver feminismo no "sertanejo universitário", destacou o "feminejo" das cantoras de maior sucesso comercial.

Zezé di Camargo já havia decepcionado as "esquerdas médias" em outras ocasiões.

Agora, com o depoimento dele sobre a ditadura militar, a coisa piorou mais ainda.

Se, antes, o lobby da intelectualidade "bacana" chegou a colocar a dupla na seção "Retratos Capitais", de Carta Capital, hoje, até a Veja publicou comentário irônico sobre a declaração de Zezé.

A coluna "O Leitor", de Maicon Tenfen, esnobou Zezé, dizendo que ele "acertou" com o depoimento.

Maicon declarou, em clara ironia, que o Brasil "não teve ditadura, mas teve pau-no-miolinho".

Era um eufemismo jocoso para definir um regime marcado pela repressão, fazendo trocadilho com o "militarismo vigiado" dito por Zezé na entrevista.

Em tempos em que artistas pós-tropicalistas saem apoiando o juiz Marcelo Bretas, o mesmo que decidiu a prisão do eminente cientista almirante Othon Pinheiro, a intelectualidade "bacana" já não tem a mesma projeção de antes.

Como ficam agora os discursos sobre a "cultura transbrasileira", a "reforma agrária na MPB" e a "autossuficiência das periferias" sem Lei Rouanet e com Lula reduzindo as chances de poder ser ao menos candidato à Presidência da República em 2018?

O tempo dirá.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

LULA ESTÁ A SERVIÇO DA ELITE DO ATRASO

A queda de popularidade de Lula está sendo apontada por supostas pesquisas de opinião, o que, na verdade, soam como um reflexo suavizado do que já ocorre desde que Lula decidiu trocar o combate à fome e o desemprego pelas viagens supérfluas ao exterior. Mas os lulistas, assustados com essa realidade, sem saber que ela é pior do que se imagina, tentam criar teorias para amenizar o estrago. Num dia, falam que é a pressão da grande mídia, noutro, a pressão dos evangélicos, agora, as falas polêmicas de Lula. O que virá depois? Que o Lula perdeu popularidade por não ser escalado para o Dancing With the Stars dos EUA para testar o "novo quadril"? A verdade é que Lula perdeu popularidade porque sei governo é fraco. Fraquíssimo. Pouco importam as teorizações que tentam definir como "acertadas" as viagens ao exterior, com a corajosa imprensa alternativa falando em "n" acordos comerciais, em bilhões de dólares atraídos para investimentos no Brasil, isso não convence

LULA NÃO QUER ROMPER COM A VELHA ORDEM

Vamos combinar uma coisa. As redes sociais são dominadas por uma elite bem de vida e de bem com a vida, uma classe brasileira que se acha "a mais legal do planeta", e "a mais equilibrada", sem os fundamentalismos afro-asiáticos nem os pessimismos distópicos do Existencialismo europeu. Essa classe quer parecer tudo de bom e soar, para outras pessoas, diferente dos padrões convencionais da humanidade. Daí a luta de muitos em serem aquilo que não são, parecerem o oposto de si mesmos para lacrar na Internet e obter popularidade e prestígio. Daí ser compreensível que a falsidade é um fenômeno tipicamente brasileiro. O "tomar no cool " que combina pretensiosismos e falsos preciosismos, grandiloquência e espiral do silêncio, a obsessão em parecer diferente sem abandonar as convenções sociais, a luta em parecer novo sem deixar de ser velho, de estar na vanguarda mesmo sendo antiquado, na esperança de que o futuro repita o passado enquanto se vê um museu de grandes

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

RETORNEI DE FÉRIAS

Foram dezoito dias no Grande Rio. Duque de Caxias, sobretudo Xerém, mais Rio de Janeiro, principalmente Tijuca, com passeios pelo Centro, Méier, Del Castilho e Barra da Tijuca. Uma breve passagem em Niterói, focalizando Icaraí e Jardim Icaraí, mas passando pela Rodoviária na Avenida Feliciano Sodré e no Plaza Shopping, no Centro. Dias de férias, entre 19 de dezembro e 06 de janeiro. Ao voltar para São Paulo, é tempo de arrumar a casa e planejar a vida. E o Linhaça Atômica está de volta, depois de alguns dias com reprise de antigas postagens. 2022 foi embora, bastante difícil e um tanto doloroso, e 2023 começa, prometendo ser também um outro ano difícil. Mas vamos seguir em frente, e esperamos que melhorias ocorram. O blogue está de volta.  

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

OS CRITÉRIOS VICIADOS DE EMPREGO

De que adianta aumentar as vagas de emprego se os critérios de admissão do mercado de trabalho estão viciados? De que adianta haver mais empregos se as ofertas de emprego não acompanham critérios democráticos? A ditadura militar completou 60 anos de surgimento. O governo Ernesto Geisel, que consolidou o Brasil sonhado pelas elites reacionárias, faz 50 anos de seu início. Até parece que continuamos em 1974, porque nosso Brasil, com seus valores caquéticos e ultrapassados, fede a mofo tóxico misturado com feses de um mês e cadáveres em decomposição.  E ainda muitos se arrogam de ver o Brasil como o país do futuro com passaporte certeiro para ingressar, já em 2026, no banquete das nações desenvolvidas. E isso com filósofos suicidas, agricultores famintos e sobrinhos de "médiuns de peruca" desaparecendo debaixo dos arquivos. Nossos conceitos são velhos. A cultura, cafona e oligárquica, só defendida como "vanguarda" por um bando de intelectuais burgueses, entre jornalist