Sérgio Moro passou a viver seu inferno astral.
O outrora "herói do Brasil" começou a ser denunciado com a divulgação de conversas secretas envolvendo ele e os procuradores da Operação Lava Jato pelo The Intercept.
Reforçando a propagação das notícias, o jornalista estadunidense radicado no Brasil, Glenn Greenwald, estabeleceu parcerias com a Band News FM e a Folha de São Paulo.
Isso fez furar a bolha do aparente esquerdismo na divulgação das reportagens.
E, ainda mais, complicou a vida de Sérgio Moro, que, na sabatina do Senado, na semana passada, se comportou de maneira insegura e tensa.
Sérgio Moro alegou que não lembrava de mensagens publicadas há mais tempo e apenas se limitou a dizer que algumas mensagens divulgadas "poderiam ser suas".
O ex-juiz e hoje ministro da Justiça disse que "não via autenticidade" nas mensagens, mas não teve firmeza para desmenti-las.
Ele acabou fazendo o que podemos entender como "confissão às avessas", quando a insegurança e a falta de firmeza em desmentir acusações acaba confirmando ou, potencialmente, aumentando ainda mais as suspeitas.
Nas mensagens, Moro demonstra ser chefe dos procuradores da Operação Lava Jato.
Ele fica ordenando ou recomendando o procurador do Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol, nas tarefas e procedimentos da OLJ, o que é totalmente impróprio à função de um juiz.
Um juiz e um procurador deveriam ter funções independentes, autônomas e separadas, para que o processo jurídico atuasse de maneira isenta para que a Justiça atuasse de modo equilibrado.
Desde que Moro rompeu com o princípio de ampla defesa, impondo a Lula, além da condenação criminal sem provas, a prisão em segunda instância, de maneira precipitada em vez de permitir o esgotamento de recursos de defesa, ele demonstrou a parcialidade que tentou desmentir.
Moro tentou abafar o envolvimento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no escândalo do "petrolão", porque "não poderia melindrar com quem apoia a Lava Jato".
O termo "melindrar" virou piada e fez em breve momento a Internet se lembrar do grupo de brega juvenil As Melindrosas.
Nas mensagens difundidas pela primeira parceria The Intercept / Folha de São Paulo, Moro manifesta preocupação com uma "lambança" da Lava Jato.
A "lambança" se refere à permissão da Polícia Federal em divulgar uma lista que foi apreendida nos escritórios da Odebrecht.
A lista supostamente envolvia parlamentares e outros políticos que tinham foro privilegiado no esquema de doações ilegais da empreiteira baiana.
A divulgação da lista iria expor Sérgio Moro e seu trabalho abusivo, pois o caso seria investigado pelo Supremo Tribunal Federal.
Solidário a Moro, Deltan Dallagnol prometeu que irá defender o então juiz de "injustas acusações".
Outra revelação de Moro é que ele chamou os membros do Movimento Brasil Livre (que apelido de "Movimento Me Livre do Brasil") de "tontos".
Isso porque o grupo de Kim Kataguiri, Renan Santos, Fernando Holiday e companhia foi protestar em frente à casa do hoje falecido ministro do STF, Teori Zavascki.
Moro achou imprópria a manifestação, porque causaria problemas para sua operação.
Isso traz outra suspeita de Moro, pela influência que exercia nos movimentos golpistas de 2016. E Moro nunca conseguiu esconder sua colaboração para esse golpe, por mais que tente desmentir ocasionalmente.
Em mensagem atribuída a Moro, divulgada ontem, ele pediu "escusas" ao MBL pela suposta xingação e expressou "consideração" por Teori Zavascki.
Outro ponto a considerar é que as revelações de conversas desde há uma semana por Glenn Greenwald desmentiram três acusações.
1) Haqueagem - Glenn Greenwald recebeu o material de uma fonte anônima bem antes do suposto ataque hacker nos celulares de Moro e Dallagnol, e o jornalista Pepe Escobar contatou o Telegram, aplicativo que hospedou as mensagens, e um comunicado do servidor também desmentiu, porque a medida envolveria criptografia, o que não foi o caso das mensagens dos dois.
2) Adulteração - A diversidade de detalhes nas mensagens torna difícil atribuir que elas teriam sido adulteradas. Glenn Greenwald garante que as mensagens são autênticas e que ele mesmo tem muita cautela em verificá-las e divulgá-las, apenas omitindo dados de natureza particular.
3) Repetição de diálogos - Certos veículos da imprensa conservadora de menor expressão tentaram alegar que a divulgação das conversas já sob a parceria da Band News eram "requentadas" de diálogos já revelados. Seus editores nem devem ter lido as mensagens publicadas no The Intercept.
Glenn está divulgando as mensagens aos poucos. Pelo menos, talvez por coincidência, a notícia envolvendo FHC (beneficiado por Moro no julgamento do caso Banestado, em 2003), foi dada na noite do dia do aniversário de 88 anos do ex-presidente.
Mas Glenn precisa apurar, com sua equipe, o conteúdo das mensagens, e divulgá-las assim que tiver segurança nas informações obtidas.
O que ele já publicou, no entanto, já garante o pesadelo do ex-juiz que foi um dia endeusado pela população conservadora do Brasil. A imagem de Moro começa a perecer na opinião pública.
Ao longo da semana, The Intercept, Band News FM e Folha de São Paulo trabalharão para colher novas informações a partir do material disponibilizado para Glenn Greenwald.
É hora de preparar a pipoca.
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