Um fato de extrema gravidade ocorreu ontem, somando-se à coleção de gafes, encrencas e outros incidentes negativos que marcam o governo Jair Bolsonaro.
O sargento Manoel Silva Rodrigues, de 38 anos, foi detido no Aeroporto de Sevilha, na Espanha, acusado de transportar 39 quilos de cocaína num avião reserva da Força Aérea Brasileira.
Esse avião integra a comitiva do presidente Jair Bolsonaro, segundo informações da Guarda Civil Espanhola dadas ao jornal El País.
Sevilha era a cidade de escala de uma viagem da comitiva do Governo Federal brasileiro para Osaka, no Japão, sede da reunião deste ano dos países que integram o bloco do G-20.
O avião presidencial, que iria para Sevilha, mudou sua escala para a capital de Portugal, Lisboa.
O ministério da Defesa e o presidente Jair Bolsonaro confirmaram a prisão e afirmam que irão colaborar com a investigação espanhola e, se for confirmado o crime, prometem tomar as providências legais para punir o sargento e possíveis demais envolvidos.
"As Forças Armadas têm em seu contingente cerca de 300 mil homens e mulheres formados nos mais íntegros princípios da ética e da moralidade", afirmou Bolsonaro, no seu perfil no Twitter.
Tudo bem. Isso é verdadeiro, pelo menos no que se refere à grande maioria de militares que, realmente, atuam dentro dos limites éticos e morais.
O grande problema é que o governo Bolsonaro, tão zeloso nas pregações morais, deixou que um desvio moral do porte do sargento ocorresse, sem fazer qualquer atitude preventiva.
Com base nas denúncias de que o governo Bolsonaro está associado com milicianos - grupo paramilitar, o que é contra a lei - , é preocupante que justamente um caso de envolvimento em tráfico de drogas venha de alguém que participava da comitiva presidencial.
São suspeitas ainda não confirmadas, mas que inquietam boa parcela de brasileiros, criando um clima de insegurança política e social.
As redes sociais não perdoam: alcunhas pejorativas como "Bolsococa" e "Bolsonarcos" foram lançadas em memes cômicos ou satíricos.
A situação é tão preocupante quanto o envolvimento de Aécio Neves com o "Helicoca" do amigo Zezé Perrella, anos atrás.
Mas a dimensão do caso de Bolsonaro envolve uma viagem presidencial, para acordos econômicos com outros países, algo que poderia, ao menos, ser apenas um evento para reforçar o projeto ultraliberal do governo.
Que já preocupa, por exemplo, Bolsonaro e seu "superministro" Paulo Guedes negociarem a venda do patrimônio econômico nacional, é verdade. Mas tal postura é compreensível.
E preocupa, também, Bolsonaro seguir Michel Temer na vulnerabilização do nosso país em termos de segurança geopolítica, entregando o monitoramento dos satélites e a tecnologia de construção de aviões (Embraer) para empresas estrangeiras.
Da mesma forma, também aflige o fato de que a Base Aérea de Alcântara, no Maranhão, virou território estadunidense, se apropriando de nossa tecnologia espacial.
Mas nada se compara a um militar transportar cocaína num avião reserva integrado à comitiva presidencial. Aí é o fundo do poço.
E falando em viagem, Sérgio Moro, depois de ser desmascarado pelo The Intercept e ganho o apelido de Marreco, por conta de sua voz fanha, viajou para os EUA para "ver os amigos".
Os "amigos" são as autoridades que estão ligadas a vários órgãos do governo estadunidense, entre eles a temível Central Intelligence Agency (CIA), cuja influência chega ao ponto de decidir pelo patrocínio empresarial estrangeiro a ritmos de valor duvidoso como o "funk" e o tecnobrega.
Que propósito Moro fez essa viagem? Para denunciar a "malcriação" do The Intercept contra o ministro, recorrendo ao "titio Samuca"?
Moro não desmentiu a veracidade das mensagens reveladas ao público, embora "não acreditasse em sua autenticidade", e se comportou de forma confusa, às vezes dizendo que "pode ter sido autor de algumas mensagens" ou que "cometeu descuidos".
Enquanto isso, sua Operação Lava Jato continua perseguindo o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.
Lula recebeu o anúncio do bloqueio de cerca de R$ 78 milhões por decisão do juiz Luiz Antônio Bonat, que substituiu Moro no comando da OLJ. O bloqueio não envolve bens deixados pela falecida esposa do ex-presidente, Marisa Letícia Lula da Silva.
Tem mais.
A Procuradoria Regional da República da 4ª Região (PRR-4) pediu ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) para agilizar na condenação do caso do sítio de Atibaia.
Lula está preso em função de suposta acusação de corrupção no caso do triplex do Guarujá.
No segundo semestre, o TRF-4, hoje presidido por Leandro Paulsen, vai julgar o caso, que já tem sentença anunciada para 12 anos e 11 meses de prisão em primeira instância dada pela juíza federal substituta Gabriela Hardt.
O julgamento, em segunda instância, se der na aplicação da pena, poderá complicar a situação de Lula mesmo quando avançam as denúncias do escândalo da Vaza Jato.
E ainda virá a terceira condenação, em breve, com base nas supostas acusações de corrupção envolvendo obras do Instituto Lula.
Será mais uma queda de braço para Cristiano Zanin Martins e sua equipe em mais uma luta jurídica pela liberdade do ex-presidente, acusado sem provas.
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