No último fim de semana, um repórter de O Globo, em Brasília, perguntou para Jair Bolsonaro "Por que Fabrício Queiroz depositou R$ 89 mil na conta de Michelle Bolsonaro?".
Enfurecido, o presidente fez uma ameaça "A vontade que eu tenho é encher a tua boca de porrada".
O incidente repercutiu nas redes sociais e, como numa atitude combinada, tudo quanto era página progressista e outras nem tão progressistas assim resolveu repetir a pergunta.
A essas alturas, Jair já estava, em outra entrevista, chamando os jornalistas de bundões.
As esquerdas achavam que estavam ganhando a batalha. Só que não.
Infelizmente, as esquerdas cometem, pelo menos, dois grandes erros: é acadêmica demais num momento, e, em outro, só pensa em lacrar a Internet.
A crise das esquerdas está aguda. Ela está presa aos "brinquedos culturais" da centro-direita, cortejando ídolos musicais, comportamentais, religiosos e esportivos que pertencem ao "olimpo" do culturalismo conservador promovido pela Rede Globo e gourmetizado pela Folha de São Paulo.
As esquerdas não largam seus "brinquedos". Elas preferem escondê-los no sótão, reagem em silêncio, quando poderiam muito bem jogar esses "brinquedos" no lixo, porque não têm serventia.
São "brinquedos" dos quais Luciano Huck adora tanto brincar em seu Caldeirão do Huck.
Até mesmo funqueiros "de raiz" e "médiuns espíritas" são cortejados pelo membro-fundador do Renova BR, para desespero das esquerdas ingênuas que adotam para si qualquer oportunista que apareça com uma criança pobre sorridente ao seu lado.
Não há uma preocupação das esquerdas com pautas realmente esquerdistas. Ninguém se empenha, por exemplo, em lutar pela revogação da reforma trabalhista.
Com isso, Jair Bolsonaro dá a rasteira e, sem se tornar progressista, adotará projetos assistencialistas como o Renda Brasil e procurará atrair o apoio do povo nordestino.
Essa estratégia desagradou o ministro Paulo Guedes e os jornalistas da mídia venal por um aspecto: Jair quer estourar o teto dos gastos públicos.
Dentro de um moralismo ultraliberal, o teto dos gastos públicos, um legado de Michel Temer, virou uma espécie de "vaca sagrada" do racionalismo inflexível dos tecnocratas econômicos.
Enquanto isso, as esquerdas nem estão aí com a necessidade de recuperação dos direitos trabalhistas.
Elas preferem as pautas identitárias. Preferem que negros pobres, passando fome e sofrendo de insegurança - são eles os que mais morrem por assassinatos cometidos por milicianos, policiais truculentos e similares - , tenham direito à estética LGBTQ.
Os travestis negros são os primeiros a morrerem assassinados por policiais, milicianos e pistoleiros que veem nesse tipo de indivíduos LGBTQ uma coisa abominável.
Vivemos a hegemonia de uma burguesia intelectual nas esquerdas que se esquece que o povo pobre quer mesmo é ter um salário digno, uma mesa farta de comida e uma casa, saneamento básico, boas escolas e uma segurança que não seja a da polícia que mata.
As mulheres negras são as que mais morrem por feminicídio, num ambiente em que o lesbianismo é visto com repulsa e intolerância por homens truculentos que, em parte, compõem milícias ou outros grupos criminosos ou são amigos dos membros desses grupos.
As prostitutas também são mortas por fregueses violentos, e não é o discurso utópico da "intelectualidade mais legal do Brasil", que sonhava por um país mais brega, que convencerá desenhando o ambiente de prostituição como uma Disneylândia de empoderamento sensual.
A vida do povo pobre já foi vista pela intelectualidade pró-brega como um "mundo feliz", de maneira vergonhosa e com um pretexto mais vergonhoso ainda, o do suposto "combate ao preconceito".
Tinha antropólogo falando em "pobreza feliz", 'periferia legal". Tinha cientista social de prestígio que acreditava que a favela só ouvia duas coisas; "funk" e hip hop.
Quanto bitolamento, escondido em pomposos diplomas de pós-graduação!
E as esquerdas animadas porque o Pastor Everaldo, que batizou Jair Bolsonaro no Rio Jordão, foi preso ontem, no mesmo dia que o hoje governador afastado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel.
Não. Ainda não. As esquerdas não conseguem se comunicar com o povo e não é assinando embaixo nos "brinquedos culturais" da centro-direita que irá furar a bolha e interagir com as classes populares.
Parece aquele cacoete, que eu mesmo já tive, de beliscar um calo grande na tentativa de furá-lo.
Assim são as esquerdas, que, quando furam o calo, acabam sangrando, porque querem sempre estourar pelo lado e pela parte errada.
Elas estão desnorteadas com Jair Bolsonaro que, por pior que seja, está dando um banho de interatividade com os brasileiros.
Até mesmo a ameaça que fez, ao jornalista que fez a famigerada pergunta dos R$ 89 mil, Jair Bolsonaro consegue distrair a moçada com suas provocações.
E imaginar que a intelectualidade pró-brega exaltava os fenômenos popularescos por causa de sua "provocatividade", e agora têm que admitir o grande fenômeno popularesco que é o presidente Bolsonaro.
Ele age como uma raposa e consegue reverter a seu favor até suas piores gafes, ou consegue contornar qualquer encrenca, ainda mais com o Judiciário e o Legislativo em suas mãos.
E isso num cenário em que se tem até Deltan Dallagnol impune, presente dado pelos colegas do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) no processo movido pelo advogado de Lula, Cristiano Zanin, contra as informações falsas trazidas pelo risível gráfico do PowerPoint.
As esquerdas estão confusas, medrosas, tentando entender a realidade. Há exceções, mas elas não têm visibilidade suficiente para serem as bússolas dos movimentos progressistas.
Se já era preocupante a hipótese de Luciano Huck presidir o país, ainda é mais preocupante ver que Jair Bolsonaro está lutando pela reeleição, diante de esquerdas confusas e desnorteadas.
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