Hoje seria aniversário de 64 anos do professor baiano Jorge Portugal, mas ele faleceu dois dias antes.
Por ironia, foi mais um ex-secretário de Cultura que morre após deixar o cargo. E do coração.
Dois anos antes, em dezembro, morreu Arthur Maia, que foi secretário de Cultura da Prefeitura de Niterói de 2013 a 2016, de infarto, aos 56 anos, em 15 de dezembro de 2018.
Arthur Maia era um superbaixista carioca, que tocou com vários artistas de MPB, de Ivan Lins a Lulu Santos, e também tinha uma respeitável carreira solo.
Jorge Portugal faleceu de falência cardíaca aguda, três anos após deixar a secretaria de Cultura da Prefeitura do Governo do Estado da Bahia, entre 2015 e 2017.
Ou seja, houve um intervalo de tempo em que tanto Jorge Portugal quanto Arthur Maia cuidavam do setor da Cultura.
E curiosamente, sou um florianopolitano criado em Niterói (atualmente moro na cidade em segunda fase de estadia), tendo passado vários anos em Salvador.
Jorge Portugal era um negro muito simpático e com um sorriso amigo, com uma comunicação tranquila, um jeito informal de ensinar português e dicas de exercícios no programa Aprovado!, da TV Bahia, um dos bons programas da grade local da afiliada da Rede Globo.
Ele também apresentou o programa Português com Portugal, na Rádio Educadora, vários anos depois que eu deixei a rádio, onde trabalhei. Não peguei a fase que teve Jorge Portugal na programação da Educadora. O professor também teve programa na TV Brasil baiana.
Ele era compositor de música baiana e poeta e também ensinou em cursinhos de escolas particulares, embora fosse um dos poucos que não sucumbiram ao ensino mercadológico.
Afinal, Jorge Portugal tinha uma grande preocupação com a valorização da inteligência dos alunos, e de sua formação cultural digna e eficiente.
Como secretário de Cultura, Jorge Portugal procurou promover a verdadeira diversidade, quebrando o monopólio ultracomercial da axé-music.
Graças a ele, os verdadeiros artistas, da Bahia e do Brasil, que tinham dificuldades de se apresentar em Salvador porque, para isso, teriam que cooptar com os axézeiros, passaram a ter mais espaço.
Em compensação, hoje vemos a decadência dos axézeiros, como o antes onipotente Bell Marques, que até saiu do Chiclete Com Banana.
Bell saiu do Chiclete depois de fazer horrores, armando para o membro-fundador Missinho sair da banda (que era boa), pouco investir na carreira de uma jovem cantora e maltratar o guitarrista Cacik Jonne, que, muito doente, não recebeu o devido tratamento e, anos depois, morreu.
Cacik Jonne, importante membro do Chiclete, foi tratado por Bell como mero "empregado" (ou seja, com status de músico de apoio).
E Bell, que também é latifundiário, chamou, em uma apresentação do Chiclete, os baianos de "tabaréis". E, como compositor, Bell era ruim pacas, só falava do próprio Chiclete e de letrinhas de amor bobas.
Bell Marques, que ridicularizava os roqueiros, agora tenta fazer média tocando Pink Floyd e aliciando portais como o Whiplash e guitarristas de segundo escalão do YouTube, que agora enchem linguiça mostrando Bell, Durval Lélis e (fora da axé-music) Chimbinha tocando rock clássico.
Um horror. Nada a ver com a verdadeira cultura baiana que o já saudoso Jorge Portugal se empenhou em revalorizar.
Fica aqui minha manifestação de pesar pelo falecimento, ainda prematuro, do professor Portugal, que tinha um fôlego espiritual para se manter ativo por muitos anos. O corpo físico é que não deixou.
Fica aqui minha solidariedade à dor dos familiares e amigos neste momento difícil da perda.
Mas fica também meu desejo de que o trabalho de Jorge Portugal continue, através de outras pessoas, honrando a sua memória e o seu legado. E fica a minha gratidão ao próprio Jorge Portugal por sua breve trajetória.
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