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ARMÍNIO FRAGA AGIU PARA DIVIDIR AS ESQUERDAS NO BRASIL

 


Na semana passada, um episódio pode representar o risco de pretensos aliados de última hora agirem para dividir as esquerdas no nosso país.


Foi denunciado que o economista e empresário Armínio Fraga doou, junto a outros banqueiros, um valor de R$ 75 mil para a campanha de Wesley Teixeira, candidato do PSOL a vereador pelo município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.


Isso causou um escândalo. Afinal, Armínio Fraga tem um pano de fundo nada esquerdista, o que influi para tamanha controvérsia.


Armínio Fraga foi ministro de Fernando Henrique Cardoso, assessor de Aécio Neves, membro-fundador do Instituto Millenium e é pupilo de George Soros no Brasil.


Ele também foi acariciado pelos "bons esquerdistas" do Farofafá e teve banda de seu filho divulgada no portal da dupla-expressa Pedro Alexandre Sanches e Eduardo Nunomura, com direito a citação de disco em que o próprio papai Armínio fez vocais de apoio.


Mais uma vez a bolha fura pelo lado errado e um representante do mercado financeiro, com um suposto apoio de campanha, acaba dividindo as forças progressistas.


Não que se coloque a mão no fogo pelo PSOL, que parece enfatizar demais as causas identitárias e deixar de tratar com prioridade os temas trabalhistas.


Mas a verdade é que houve uma divisão, entre aqueles que apoiam o PSOL, e aqueles que apoiam a iniciativa de Fraga.


Além disso, Wesley é negro e isso cria um contexto perigoso, porque negar doações a alguém ligado aos movimentos sociais pode gerar má repercussão e até acusações indevidas de racismo e elitismo.


É um jogo político muito perigoso, e que também põe o PSOL, partido que está se sobressaindo até ao PT na ciranda esquerdista, em situação vulnerável.


Marcelo Freixo, um dos "caciques" do PSOL e figura ascendente nas esquerdas brasileiras, mas eventualmente dotado de posturas estranhas às causas progressistas, como apoiar a Operação Lava Jato, já manifestou apoio a Wesley.


Freixo disse que ameaça deixar o partido se Wesley tiver a candidatura cassada, no caso deste recusar-se a devolver o dinheiro de campanha.


Freixo admitiu que recebeu verbas da Natura, empresa de Guilherme Leal - o mesmo que foi vice de Marina Silva em suas campanhas presidenciais - , em 2012 e "nem por isso foi impugnado".


O episódio criou um pretenso maniqueísmo que deixa as esquerdas desnorteadas.


O que mostra que pretensos esquerdistas como o neoliberal Armínio Fraga alertam para os cuidados que as forças progressistas têm que tomar.


Não são supostas generosidades que podem representar apoio. De gente caridosa, o inferno está cheio.


Devemos furar a bolha pelo lado certo, e não pelo errado. Não se pode cair nos apelos emocionais de supostos aliados nem pelo caráter fofo dos "brinquedos culturais" da centro-direita e seus pobres de pelúcia com sorrisos escancarados.


Se Felipe Neto decepciona espinafrando o PT e interpretando a realidade econômica do Brasil como se fosse um colunista da Globo News, é compreensível.


Devemos medir contextos e ver quem, de fora das esquerdas, merece algum diálogo e apoio.


Não dá para usar o pensamento desejoso para insinuar que funqueiros que beijam na boca dos donos da Rede Globo sejam marxistas convictos.


Ou então achar que um "médium de peruca" que apoiou a ditadura militar com muita convicção e morreu há 18 anos, vai "mudar, aprender e virar esquerdista" em 2022.


Os aliados das esquerdas não são aqueles que as esquerdas desejam que sejam aliados, mas quem apresenta um conteúdo e um contexto que permitem diálogos e alianças.


É o que falta nas nossas esquerdas, perdidas na busca do protagonismo ou em caprichar no elenco de convidados para as chamadas lives da Internet, enfeitando seus canais com nomes mais chamativos.


Falta um pouco de prudência, de senso crítico e, principalmente, de preocupação maior pelas causas trabalhistas, que deveriam ser a prioridade maior do esquerdismo.


Ninguém agora fala, por exemplo, em reverter a reforma trabalhista, que legalizou a precarização do emprego.


Ignorar essa urgência diz muito sobre a crise aguda que nossas esquerdas vivem e têm a maior dificuldade de sair, presas no labirinto onde caíram com o golpe político de 2016.

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