Pular para o conteúdo principal

ESQUERDAS DEVERIAM PRIORIZAR OS TRABALHADORES



As esquerdas andam não só acomodadas, mas iludidas em suas zonas de conforto.

Vivemos a supremacia da esquerda burguesa, que parece não entender bem a realidade dos trabalhadores, a não ser à distância.

Isso em si não é ruim. O problema é quando há a incapacidade até mesmo para entender a realidade do "outro".

Vemos esquerdas lacradoras, e vemos esquerdas enfatizando mais a religiosidade. Reverter a reforma trabalhista, que é bom, nada.

Alguns até escrevem sobre problemas trabalhistas, mas, fora uns bons samaritanos, o pessoal parece "querer, mas não muito" explorar o assunto.

A precarização do trabalho é uma catástrofe social, que está gerando danos nas classes pobres, que, muitas vezes, compõem famílias numerosas e têm muitas contas a pagar, não se sabe com que dinheiro.

Moradores de rua aumentam a cada tempo, e pedintes ficam mais desesperados.

Enquanto isso, a esquerda fala em "espiritualidade", "paz e bem", "meditação" e outras coisas.

A esquerda anda muito reativa. Faz o jogo da direita adversária, como se isso pudesse lhe dar alguma vantagem.

Mas isso não serve como antídoto. E em vários momentos as esquerdas erram feio, ao imitar a tática do inimigo.

Propagandas do projeto de Lula constituem em vídeos debiloides que só tem gente dançando. Aparece até o tal Carreta Furacão, que creio deve ser meio "coxinha". Um vídeo recente tocou um som parecido com axé-music, com voz de Lula sampleada e tudo.

Não vai dar certo.

Há a esquerda lacração, cuja única coisa que faz é copiar o modus operandi dos bolsomínions.

E há a tal "religiosidade", como se isso pudesse desviar o rebanho neopentecostal do direitismo para o lado das forças progressistas.

Tudo em vão.

Enquanto isso, a barriga do trabalhador ronca, e não há credo nem rezas que mate sua fome.

As esquerdas preferem usar a prece para afastar o bolsonarismo, e acham que, sob o pretexto de furar a bolha, possam dialogar com "médium de peruca" que já morreu e puxá-lo para o lado das esquerdas.

Não vai dar certo. Não deu. É tudo em vão. Ainda mais quando o tal "médium de peruca", tido oficialmente como o "maior do Brasil", era apoiador radical da ditadura e, em seus livros doutrinários, defendia justamente a precarização do trabalho e a aceitação silenciosa do pior sofrimento.

Não há como recorrer ao pensamento desejoso para reverter isso, não é?

Fé demais e pão de menos só serve para o pão e circo de pequeno-burgueses que se situam no conforto de seus apartamentos.

Ficam fazendo lives com fulano e sicrano com o objetivo de montar um elenco bacana de convidados.

"Olha, o ator de novela tal apareceu no meu canal" Vejam!", é o que as esquerdas querem.

Nada contra convidar gente, em si. Mas o que se vê é que há muito debate e quase nenhuma prática. Há até propostas, ações, mobilizações, mas é muito, muito pouco.

Enquanto isso, Jair Bolsonaro, mesmo com denúncias subindo por seu pescoço, está montando sua base de apoio no Legislativo e no Judiciário.

Ele está tranquilão. Tudo parece favorecer Jair Bolsonaro, até mesmo acima dos próprios bolsonaristas, que não gostaram do abraço que o "mito" deu a Dias Toffoli, selando as pazes com o Supremo Tribunal Federal (STF).

Há muita divergência, muita confusão, muito desentendimento. E não será a fé e sua "paz sem voz", mais preocupada em conciliar conflitantes sem resolver seus problemas, que vai salvar a nação.

A verdadeira paz não é aquela que diz ao sofredor ficar feliz com sua desgraça, enquanto perdoa o seu algoz nos seus abusos mais violentos.

Como também a verdadeira caridade não é aquela em que o suposto filantropo ganha protagonismo e promoção pessoal por quase nada fazer com o povo pobre.

Conceitos como "caridade", "paz" e "fraternidade" rendem muita confusão de caráter emocional. Poucos percebem, mas essas palavras também são deturpadas pelo mesmo teor dos vocábulos "democracia" e "liberdade".

E os trabalhadores não querem saber se o filantropo tal conquistou prestígio, virou "símbolo de paz e fraternidade", tem uma legião de devotos e mensagens bonitinhas nas redes sociais.

Essa histeria da fé "espiritualista", tão perigosa e fútil quanto a dos evangélicos pentecostais, não paga as contas do mês, e os donativos festejados pela "caridade" espetacularizada se esgotam rapidamente de tão poucos e tendenciosos que são.

E não adianta aumentar os donativos, com o religioso de plantão se comportando como bobo alegre para pedir mais ajuda, à maneira de um apresentador do Criança Esperança.

Devemos combater a injustiça social na sua estrutura, porque essa "caridade" não mexe nos privilégios dos mais ricos e, não raro, trata o povo pobre como "lixeira" a receber mantimentos e roupas de qualidade duvidosa.

Alimentos de marcas que os ricos nunca comprariam para si mesmos e roupas que eles deixam de usar por estarem fora de moda, para não dizer rasgadas ou com alguma mancha que não dá para remover.

As esquerdas precisam acordar, parar de tanta pieguice. Ela age como se fosse mais piegas e castiça do que a própria direita neoliberal.

A religiosidade é válida, mas não se pode enfatizar demais isso, ainda mais quando a tradição marxista remete ao ateísmo e ao laicismo.

Não se pode ir além de religiões progressistas, como evangélicos e católicos de esquerda, muçulmanos, candomblecistas e outras crenças ligadas às classes populares.

Não dá para incluir aqui o Espiritismo feito no Brasil, porque suas bases locais, diferentes da base original francesa, são de direita, através de um moralismo punitivista e conservador e de um padrão de caridade meramente paliativo que não ameaça os privilégios dos mais ricos.

Não há espírita de esquerda à maneira brasileira, os progressistas, como Sérgio Aleixo e Dora Incontri, seguem o original francês, que em nenhum momento teve uma forte tradução brasileira.

Perder tempo usando o pensamento desejoso para botar o "médium de peruca" na galeria dos progressistas é um erro nocivo que pode custar caro às esquerdas.

Não podemos furar a bolha pelo lado errado, pelo lado que vai bem aos instintos impulsivos da "galera".

Liberdade nem sempre é fazer o que quer, quando essa atitude é mais arriscada e prejudicial. Cultuar religiosos conservadores só faz empoderar e fortalecer o status quo direitista que produziu esses ídolos da fé cega e fanática.

O que as esquerdas têm que fazer é romper com os "brinquedos culturais" da centro-direita, que faz os esquerdistas, tão racionais em muitos momentos, perdidos e desnorteados nesta ocasião de complacência masoquista.

Por isso é que, furando a bolha pelo lado errado, as esquerdas se fragilizam, feridas de morte, e abrem caminho para o avanço do golpe político em curso há quatro anos.

Devemos ouvir os trabalhadores e lutar por eles, no caso de não fazermos parte do proletariado nem do campesinato, sem as tentações do misticismo melífluo mas conservador.

A verdadeira paz não teme conflitos com os opressores, porque luta pelo lado dos mais necessitados, de maneira laica e ampla.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

FLUMINENSE FM E O RADIALISMO ROCK QUE QUASE NÃO EXISTE MAIS

É vergonhoso ver como a cultura rock e seu mercado radiofônico se reduziram hoje em dia, num verdadeiro lixo que só serve para alimentar fortunas do empresariado do entretenimento, de promotoras de eventos, de anunciantes, da mídia associada, às custas de produtos caros que vendem para jovens desavisados em eventos musicais.  São os novos super-ricos a arrancar cada vez mais o dinheiro, o couro e até os rins de quem consome música em geral, e o rock, hoje reduzido a um teatro de marionetes e um picadeiro da Faria Lima, se tornou uma grande piada, mergulhada na mesmice do hit-parade . Ninguém mais garimpa grandes canções, conformada com os mesmos sucessos de sempre, esperando que Stranger Things e Velozes e Furiosos façam alguma canção obscura se popularizar. Nos anos 1980, houve uma rádio muito brilhante, que até hoje não deixou sucessora à altura, seja pelos critérios de programação, pelo leque amplo de músicas tocadas e pela linguagem própria de seus locutores, seja pelo alcance do s

LULA, O MAIOR PELEGO BRASILEIRO

  POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, LULA DE 2022 ESTÁ MAIS PRÓXIMO DE FERNANDO COLLOR O QUE DO LULA DE 1989. A recente notícia de que o governo Lula decidiu cortar verbas para bolsas de estudo, educação básica e Farmácia Popular faz lembrar o governo Collor em 1991, que estava cortando salários e ameaçando privatizar universidades públicas. Lula, que permitiu privatização de estradas no Paraná, virou um grande pelego político. O Lula de 2022 está mais próximo do Fernando Collor de 1989 do que o próprio Lula naquela época. O Lula de hoje é espetaculoso, demagógico, midiático, marqueteiro e agrada com mais facilidade as elites do poder econômico. Sem falar que o atual presidente brasileiro está mais próximo de um político neoliberal do que um líder realmente popular. Eu estava conversando com um corretor colega de equipe, no meu recém-encerrado estágio de corretagem. Ele é bolsonarista, posição que não compartilho, vale lembrar. Ele havia sido petista na juventude, mas quando decidiu votar em Lul

BRASIL NO APOGEU DO EGOÍSMO HUMANO

A "SOCIEDADE DO AMOR" E SEU APETITE VORAZ DE CONSUMIR O DINHEIRO EM EXCESSO QUE TEM. Nunca o egoísmo esteve tão em moda no Brasil. Pessoas com mão-de-vaca consumindo que nem loucos mas se recusando a ajudar o próximo. Poucos ajudam os miseráveis, poucos dão dinheiro para quem precisa. Muitos, porém, dizem não ter dinheiro para ajudar o próximo, e declaram isso com falsa gentileza, mal escondendo sua irritação. Mas são essas mesmas pessoas que têm muito dinheiro para comprar cigarros e cervejas, esses dois venenos cancerígenos que a "boa" sociedade consome em dimensões bíblicas, achando que vão viver até os 100 anos com essa verdadeira dieta do mal à base de muita nicotina e muito álcool. A dita "sociedade do amor", sem medo e sem amor, que é a elite do bom atraso, a burguesia de chinelos invisível a olho nu, está consumindo feito animais vorazes o que seus instintos veem como algo prazeroso. Pessoas transformadas em bichos, dominadas apenas por seus instin