Pular para o conteúdo principal

PROGRESSIVO OU NÃO PROGRESSIVO: EIS A QUESTÃO

PARA O PESQUISADOR VALDIR MONTANARI, THE DOORS FAZIA ROCK PROGRESSIVO.

Por razões óbvias, o rock progressivo, linhagem mais sofisticada do rock que fazia flertes com a música erudita e o jazz, é devidamente representado por nomes como Pink Floyd, Yes, Jethro Tull, King Crimson, Gentle Giant, Premiata Forneria Marconi, Rick Wakeman, Procol Harum, Alan Parsons Project, Renaissance, Vangelis, Amon Duul, Gong, Moody Blues, Genesis e, no Brasil, O Terço e Sagrado Coração da Terra.

No entanto, alguns nomes do rock clássico tornam-se polêmicos, de uma forma ou de outra, quando certas linhas de interpretação os enquadram no rock progressivo (ou prog rock, progressive rock em forma abreviada), levando como critérios faixas longas, virtuoses instrumentais ou o modo como enfatizam a música clássica ou o legado dos Beatles (por exemplo, o Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band).

É verdade que o rock progressivo teve uma origem meio maluca. Quem poderia imaginar que a raiz do rock progressivo estaria num grupo de jovens californianos acusados de fazer músicas pueris sobre carros e mulheres? Sim, os Beach Boys, grupo de "Surfin' USA", "Surfin' Safari" e "Barbara Ann" teria sido, sim, um dos precursores do rock progressivo.

Isso porque o álbum Pet Sounds, de 1966, foi fruto de um isolamento do baixista e um dos vocalistas, Brian Wilson, que largou a banda provisoriamente - foi substituído por Bruce Johnston (músico da banda de surf rock Rip Chords), hoje membro da formação atual - para compor o disco num estilo bem diferente, com flertes com a música orquestrada, influências barrocas e jazz.

Daí que os Beach Boys acabaram se tornando os primeiros polêmicos de uma lista de principais nomes do rock que certos critérios de avaliação definem como "progressivos", embora não haja poucos que torçam o nariz para isso. A lista só não inclui os Beatles porque sua versatilidade e amplitude musical não põem a banda de Liverpool na lista de supostos progressivos. Vamos à lista:

BEACH BOYS - A julgar pelo critério da linha evolutiva, Pet Sounds abriu o caminho para a sofisticação musical do rock, ao aprimoramento instrumental e à elaboração melódica que depois resultou no rock progressivo. Algumas pessoas rotulariam o disco como "progressivo" por causa dos elementos orquestrais e do clima às melodias melancólicas que se observa no prog rock.

DOORS - Segundo Valdir Montanari, Doors teria sido um grupo de rock progressivo por conta de propostas musicais arrojadas, como o órgão de Ray Manzarek, e da complexidade de várias canções, o que faz muitos torcerem o nariz. para a rotulação, já que oficialmente a banda de Los Angeles é considerada um grupo de rock psicodélico influenciado por blues e poesia boêmia europeia.

STEPPENWOLF - Valdir Montanari também considera a banda Steppenwolf - que os leigos conhecem através do sucesso "Born to be Wild" - "progressiva" pelas mesmas razões. Só que os Doors eram mais verossímeis para a rotulação. O Steppenwolf era uma banda de origem psicodélica que passou a fazer rock pesado, ou seja, hard rock. A rotulação de "progressivo" soa muito estranha. Faz mais sentido dizer que "In-a-Gadda-da-Vida" do psicodélico Iron Butterfly, é "progressiva".

DEEP PURPLE - A banda de heavy metal seria considerada "progressiva" por alguns trabalhos feitos com orquestra erudita e a atuação do órgão de Jon Lord. Em certas canções, o Deep Purple lembra rock progressivo, abrindo caminho para vertentes prog do próprio metal. Há quem diga que até "Smoke on the Water" é considerada "canção progressiva".

LED ZEPPELIN - Banda que virou símbolo de rock pesado. Há quem aposte em definir a banda de Jimmy Page e Robert Plant como "progressiva", pela inclinação a vários ritmos musicais, à formação erudita de Page e do baixista John Paul Jones, que regeu a orquestra que acompanhou os Rolling Stones na música "She's the Rainbow" e uma notável sofisticação sonora. Há quem torça o nariz com essa rotulação, achando que o LZ é "louco demais" para ser considerado prog.

KRAFTWERK - A banda de música eletrônica alemã surgiu no kraut rock, cenário de rock progressivo naquele país europeu. De fato, os primeiros discos do Kraftwerk são genuinamente progressivos, e "Ruckzuck", de 1970, é um exemplo disso, assim como o disco Ralf And Florian, prenomes dos músicos Ralf Hutter e Florian Schneider, ambos de formação erudita. Mas quem conhece o Kraftwerk a partir de 1977 achará estranha a rotulação.

FRANK ZAPPA & MOTHERS OF INVENTION - A inclinação de Frank Zappa pelo jazz e pela música concreta (variação excêntrica da música erudita) faz o músico e seu famoso grupo ser considerados "rock progressivo". A rotulação é pertinente e até músicos como Adrian Belew, conhecido pela sua atuação no King Crimson, tocou com Zappa. Mas nem todos aceitam esse rótulo, achando que Zappa destoava muito da proposta progressiva.

QUEEN - Sim, a famosa banda de Freddie Mercury é considerada "progressiva" por determinadas fontes. A justificativa é a inclinação do grupo a uma linha da música erudita, a ópera, sobretudo por iniciativa de seu vocalista e pianista. A própria "Bohemian Rapsody", maior sucesso do grupo, de 1975, é considerada um exemplo para definir o Queen como "progressivo", rótulo rejeitado por muitos porque o Queen tinha uma estética mais glam.

ELECTRIC LIGHT ORCHESTRA - Banda inglesa cujo líder, Jeff Lynne, é um dos maiores bodes expiatórios da música (a ele é atribuído todo tipo de mal no rock, de forma injusta), tem inclinação à sinfonia orquestral, e sua influência pela segunda fase dos Beatles é tão forte que Lynne tornou-se parceiro de George Harrison na carreira-solo. Mas muitos, que já torcem o nariz para o ELO por si só, acham que o grupo é "pop demais" para ser "progressivo". Dos que consideram o ELO como prog rock está o livro Classic Rock By Kiss FM, da rádio de rock paulista.

SUPERTRAMP - O grupo, à sua maneira influenciado pela segunda fase dos Beatles, mas com ênfase em raízes folk, é considerado por certas fontes como "progressivo" por conta de canções mais introspectivas e até longas, como "Fool's Overture". No entanto, muitos não consideram o grupo como tal porque seu repertório, no conjunto da obra, soa "pop demais".

WISHBONE ASH - O grupo de rock clássico, pouco conhecido fora do público roqueiro mais especializado, é um dos paradigmas do rock setenta mais melodioso. O grupo não é oficialmente considerado progressivo, mas a dedicação instrumental de seus integrantes se aproxima muito bem do prog rock. Há faixas instrumentais e longas. No entanto, boa parte dos roqueiros prefere definir o Wishbone Ash como uma banda de hard rock ou "apenas" rock setentista.

KANSAS - Há um quase consenso em definir o grupo Kansas, famoso por músicas como "Play the Game Tonight" e "Dust in the Wind" (esta massacrada por um grupo de "forró eletrônico" com uma versão em português), como progressivo estadunidense. Mas há quem não acredite ser os EUA um cenário propício para bandas progressivas e há pessoas que preferem definir o Kansas como banda de hard rock.

RUSH - Outro grupo com um consenso quase absoluto de que faz rock progressivo. Originalmente, o grupo era quase um Led Zeppelin canadense, por causa do vocal a princípio agudo do vocalista, baixista e tecladista Geddy Lee. O som tem muitos elementos progressivos, é verdade, mas há quem torça o nariz pelo forte apelo que o grupo tem diante de surfistas e skatistas, algo considerado "estranho" para o rock progressivo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

OS CRITÉRIOS VICIADOS DE EMPREGO

De que adianta aumentar as vagas de emprego se os critérios de admissão do mercado de trabalho estão viciados? De que adianta haver mais empregos se as ofertas de emprego não acompanham critérios democráticos? A ditadura militar completou 60 anos de surgimento. O governo Ernesto Geisel, que consolidou o Brasil sonhado pelas elites reacionárias, faz 50 anos de seu início. Até parece que continuamos em 1974, porque nosso Brasil, com seus valores caquéticos e ultrapassados, fede a mofo tóxico misturado com feses de um mês e cadáveres em decomposição.  E ainda muitos se arrogam de ver o Brasil como o país do futuro com passaporte certeiro para ingressar, já em 2026, no banquete das nações desenvolvidas. E isso com filósofos suicidas, agricultores famintos e sobrinhos de "médiuns de peruca" desaparecendo debaixo dos arquivos. Nossos conceitos são velhos. A cultura, cafona e oligárquica, só defendida como "vanguarda" por um bando de intelectuais burgueses, entre jornalist

LULA, O MAIOR PELEGO BRASILEIRO

  POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, LULA DE 2022 ESTÁ MAIS PRÓXIMO DE FERNANDO COLLOR O QUE DO LULA DE 1989. A recente notícia de que o governo Lula decidiu cortar verbas para bolsas de estudo, educação básica e Farmácia Popular faz lembrar o governo Collor em 1991, que estava cortando salários e ameaçando privatizar universidades públicas. Lula, que permitiu privatização de estradas no Paraná, virou um grande pelego político. O Lula de 2022 está mais próximo do Fernando Collor de 1989 do que o próprio Lula naquela época. O Lula de hoje é espetaculoso, demagógico, midiático, marqueteiro e agrada com mais facilidade as elites do poder econômico. Sem falar que o atual presidente brasileiro está mais próximo de um político neoliberal do que um líder realmente popular. Eu estava conversando com um corretor colega de equipe, no meu recém-encerrado estágio de corretagem. Ele é bolsonarista, posição que não compartilho, vale lembrar. Ele havia sido petista na juventude, mas quando decidiu votar em Lul

MAIS DECEPÇÃO DO GOVERNO LULA

Governo Lula continua decepcionando. Três casos mostram isso e se tratam de fatos, não mentiras plantadas por bolsonaristas ou lavajatistas. E algo bastante vergonhoso, porque se trata de frustrações dos movimentos sociais com a indiferença do Governo Federal às suas necessidades e reivindicações. Além de ter havido um quarto caso, o dos protestos de professores contra os cortes de verbas para a Educação, descrito aqui em postagem anterior, o governo Lula enfrenta protestos dos movimentos indígenas, da comunidade científica e dos trabalhadores sem terra, lembrando que o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) já manifestou insatisfação com o governo e afirmou que iria protestar contra ele. O presidente Lula, ao lado da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, assinou, no último dia 18, a demarcação de apenas duas terras para se destinarem a ser reservas indígenas, quando era prometido um total de seis. Aldeia Velha (BA) e Cacique Fontoura (MT) foram beneficiadas pelo document