As chamadas rádios "populares" andam tocando algumas músicas que são verdadeiras "pegadinhas". Os arranjos parecem sofisticados, as melodias, agradáveis, e os cantores supostamente comportados. Em alguns sucessos, há arranjos que podem enganar os incautos, lembrando de longe clichês da MPB.
A música brega-popularesca criou uma armadilha que engana críticos musicais e seduz intelectuais "bacanas". É só ouvir rádios como a FM O Dia para constatar essa pseudo-MPB que rola em sua programação, sobretudo através de nomes do "pagode romântico", "sertanejos" e axé-music.
Com arranjos grandiloquentes e falsamente experimentais, eles na verdade revelam a realidade que poucas pessoas admitem perceber, e que toma conta do mercado fonográfico como forma de "embelezar" a mediocridade musical: a chamada "música de arranjador".
Essa cosmética musical que tenta empurrar a breguice musical para um público mais selecionado consiste em um arranjador de plantão de uma gravadora - seja multinacional, Som Livre ou selos pequenos (não confundir com independentes) que compartilham da mesma perspectiva comercial - dar um "trato" nas músicas dos ídolos brega-popularescos.
Estes, em que pese o pedantismo que adquiriram nos últimos anos - e que fazem os mais veteranos, como os "pagodeiros" e "sertanejos" que fizeram sucesso na Era Collor investirem na "MPB de mentirinha" com mais pompa do que talento - , são marcados pelo talento mediano e pela qualidade duvidosa de seus trabalhos.
As pessoas ouvem rádio e veem aquele cantor de "pagode romântico" bem famoso, aquele grupo com muito "suingue" e aquele "sertanejo" sonhando com a infância no campo e não percebe o quanto arranjadores fizeram toda uma trabalheira para "embelezar" as músicas medíocres e lapidar o máximo a canastrice desses ídolos musicais.
É A ALMA DO NEGÓCIO, TORNAR A MERCADORIA MAIS "AGRADÁVEL"
O que se observa também é que os arranjos "elaborados" não tornam os sucessos brega-popularescos mais artísticos. O que existe é apenas uma cosmética na qual é o arranjador que dá o trato na "estrutura" de cada canção, tornando-a mais palatável.
É a alma do negócio. É a regra do mercado. O arranjador cria seu formato para transformar o "pagode romântico" em arremedos de sambalanço, Bossa Nova, samba autêntico ou imitar elementos presentes na música de Djavan ou próprios do jazz fusion e soul music e dá o resultado pronto para os "artistas" gravarem seus discos.
No "sertanejo", a ideia é sempre criar um clima acústico, com gaita, ou alguma coisa mais arrojada, como inserir som de cítara ou caprichar nas levadas roqueiras ou folk, entre tantas outras manobras para maquiar a mediocridade dos canastrões musicais.
Ninguém percebe que os ídolos brega-popularescos gravam discos sob direção artística, arranjos e produção de terceiros, e é aí que se mostra o quanto os "discos de arranjador" que tocam nas rádios dão a impressão de uma melhoria musical que, na verdade, não existe.
Até casos tendenciosos de certos cantores de "pagode romântico", axé-music e "sertanejo universitário" serem tidos como "co-arranjadores" soam falsos. A verdade é que eles apenas fazem o pedido, dizendo ao arranjador como querem fazer seus discos, e, por uma questão de pretensiosismo "artístico", os ídolos levam parte do crédito para um trabalho que só os arranjadores fizeram.
Afinal, cantores que mal sabem dedilhar um violão não iriam ser mesmo co-arranjadores. Eles apenas vieram com o pedido, mas isso não quer dizer que sejam co-responsáveis. É como um freguês de um restaurante, que não se transforma em cozinheiro só porque fez um pedido de um cardápio.
BREGA SEMPRE FOI "MÚSICA DE ARRANJADOR"
Os ídolos bregas originais sempre gravaram os discos sob a orientação de um arranjador, geralmente um maestro de plantão numa gravadora. Mesmo aqueles que tocavam violão, guitarra ou percussão não faziam arranjos, que ficavam por conta de um maestro ou de um instrumentista mais dedicado.
Na época, as composições eram mais toscas e os arranjos menos elaborados. Se bem que dava para perceber que até alguns ídolos bregas dos anos 1970 recebiam arranjos tipo The Byrds ou certos ídolos do brega juvenil recebam arranjos pretensamente emepebistas.
A realidade da "música de arranjador" se revela pelo fato de que vários discos de brega-popularesco mostram músicas "mais elaboradas" que as suas versões ao vivo. Os ídolos, através de performances e depoimentos, também não expressam a segurança artística de quem costuma participar dos arranjos ou ser amigo de músicos arranjadores.
Outro aspecto que se deve levar em conta é que se trata de música de mercado. Música comercial, feita para gerar dinheiro, sem ter um compromisso artístico-cultural relevante e sério, feita para durar apenas uns poucos meses nas execuções de rádio, TV e Internet. Esqueçam as divagações intelectualoides que tentam "etnografizar", "tropicalizar" e "bolivarizar" esses sucessos musicais.
Portanto, se você ouve os sucessos "populares" na FM mais ouvida, fique de olho. Se as músicas parecem "boas", não é por causa dos intérpretes, que são de valor muito duvidoso. A "boa qualidade" se deve à figura pouco conhecida do arranjador, que praticamente fez todo o trabalho do embelezamento musical.
Comentários
Postar um comentário