A mídia brasileira é movida a jabá e dada a mentir quando ídolos da música brega-popularesca vão para o exterior. Enquanto tentam afirmar que os ídolos "conquistaram o mundo" e "arrastaram multidões" mundo afora, a verdade é que as turnês são geralmente um fiasco e, quando muito, só aparecem imigrantes brasileiros ou mesmo moradores do Brasil que viajam sob promoção de rádios.
A ida para o exterior do hype do momento, Wesley Safadão, que nos EUA foi se apresentar até em Atlanta, no Estado da Geórgia - cidade natal da saudosa Brittany Murphy, de Chloe Grace Moretz e da cantora alternativa Cat Power - , foi anunciada pela grande mídia como se fosse um "estrondoso sucesso".
A mídia brasileira mal conseguiu se refazer do grande mico que foi supor o sucesso mundial de Michel Teló, que foi bem menor do que o alardeado, divulgado por espaços midiáticos de décima categoria e cortejado por ídolos menores do hit-parade (os chamados hasbeen - "já era", traduzido do inglês - musicais).
Selecionando as duas fotos de divulgação da "vitoriosa turnê" de Wesley Safadão - cantor de "forró eletrônico" cuja origem foi no grupo Garota Safada - , nota-se que todo esse burburinho não passou de fogo-de-palha, por razões não muito difíceis de serem notadas.
As duas fotos correspondem à apresentação de Wesley em Newark, conhecida cidade do Estado de Nova Jersey. No alto, ele aparece cantando para uma plateia que, de cara, é composta de imigrantes ou turistas brasileiros.
É como ocorreu na apresentação do funqueiro Mr. Catra em Dublin, onde se via na plateia "irlandeses" com pinta de paulistanos "caipiras urbanos" de cidades como Barretos e Bauru. É fácil identificar um brasileiro, hoje em dia. E não se viu alguém com pinta de irlandês na apresentação de Mr. Catra.
Na foto do alto, eu juro que tentei procurar um estadunidense na plateia do Safadão. Não encontrei. O pessoal da plateia é, sem dúvida alguma, brasileiro, com aquele semblante animadão que se observa nas mídias sociais.
Há uma loura com celular na mão que parece ter vindo da cidade de São Paulo ou da região da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Um rapagão careca, logo atrás dela, é um sósia do ator Paulo Gustavo, e sorri feito um morador de São Paulo ou Belo Horizonte que sempre vai a um evento de forró-brega em sua cidade de origem.
Na outra foto, ocorre uma fila modesta, que a imprensa brazuca inventou que era "quilométrica". Filas de busca de emprego, por exemplo, são bem maiores que isso, assim como as filas de pais e mães esperando para matricular seus filhos em escolas públicas. Se prestar atenção, a fila nem é tão grande assim, na esquerda da foto se observa que ela havia terminado, em dado ponto.
O mercado brega-popularesco empurra ídolos musicais para os gringos. Ivete Sangalo, É O Tchan, Chitãozinho& Xororó, Alexandre Pires, Valesca Popozuda, Wesley Safadão. Os gringos não são trouxas, eles veem tais ídolos com desconfiança. Quem vai lá assistir a suas apresentações ou são turistas, imigrantes ou, na melhor das hipóteses, uns raros gringos que são masoquistas culturais.
O pessoal do exterior não cai feito patinho. Sabe que esses ídolos não passam de imitações baratas daquilo que os próprios gringos já consideram um lixo. Eles, quando são apresentados a esses nomes, inevitavelmente reagem como se estivessem dizendo "nós já vimos esse filme antes, e é ruim".
Numa época em que o comercialismo musical brasileiro está totalitário, é cada vez mais intensa a produção de factoides e outras apelações. A "indústria cultural" brasileira é tão voraz que os empresários do entretenimento "popular" demais chegam a comprar divórcio para ter suas "musas" alimentando o "mercado" de fotos ou performances sensuais.
Há casos de certas dançarinas, funqueiras ou subcelebridades que parecem mulheres bem casadas, felizes com seus maridos e, da noite para o dia, se divorciam e viram "solteiras convictas" fazendo fotos apelativas no Instagram ou "sensualizando" nos palcos. Ver que o jabaculê também pode dissolver casamentos felizes é assustador.
Ver também que a música brasileira vive a supremacia quase absoluta de nomes como Wesley Safadão, Anitta, MC Bin Laden, Nego do Borel, Jorge & Mateus, Bruno & Barretto, DJ Dennis - cuja música "Vou Beber" tem até imitador do Bruno Gouveia (vocalista do Biquíni Cavadão) - e tantos outros, também é estarrecedor.
E sobretudo quando se vê que esses ídolos "populares demais" se tornam mais ricos com muito mais amplitude e rapidez que os supostos aristocratas da Música Popular Brasileira autêntica, na verdade muito menos ricos do que se imagina e do que pregam os intelectuais "bacanas" sempre afeitos a jogar uma pá de cal nos emepebistas mais sofisticados, sobretudo bossanovistas.
Sim, porque Wesley Safadão é mais rico do que qualquer "burguês" da MPB. Acusa-se Chico Buarque, Francis Hime, Miúcha e outros de terem apartamentos de luxo no Rio de Janeiro, mas o "pobretão" Wesley foi se hospedar num dos hotéis mais caros do mundo.
Infelizmente, o brega-popularesco, desde que passou a contar com a blindagem de intelectuais "bacanas" e "com coisas legais para dizer", entre jornalistas culturais e cientistas sociais, incluindo também cineastas documentaristas, ampliou seu império do jabaculê de forma a deixar à margem o tão suado, sacrificado e sangrento patrimônio cultural brasileiro.
Nosso rico patrimônio cultural, inclusive o musical, desenvolvido por índios que perdiam aos poucos suas áreas e viram tribos se dizimarem inteiras com o tempo, por negros escravizados e por brancos por vezes excluídos do topo da pirâmide social, corre o risco de ser condenado ao esquecimento mais absoluto.
Limitado à apreciação privativa de públicos cada vez mais restritos, como aristocratas, museólogos e pesquisadores, a nossa rica música brasileira de um passado até então recente corre o risco de desaparecer, já que nem as universidades são mais redutos dessa música, soterrados culturalmente com a ditadura de safadões e popozudas que cada vez mais sujam os ouvidos de nossos estudantes do ensino superior sob o consentimento de professores que vivem de seu jabaculê.
E aí prevalecem sempre essas velhas estórias de ídolos do brega-popularesco que "fazem grande sucesso" quando vão para o exterior. Tudo lorota, conversa para boi dormir. Depois que se apresentam nesses países, a notícia "morre" cai no esquecimento, o que prova que tudo isso não é mais do que uma grande mentira. "Morre" como um castelo de areia tragado pela onda do mar.
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