Pular para o conteúdo principal

"DOUTRINA DO AMOR" TAMBÉM DERRUBOU A EDITORA ABRIL?

O PATO DONALD, CLÁUDIA, CAPRICHO, QUATRO RODAS, REALIDADE E VEJA FIZERAM PARTE DA HISTÓRIA DO GRUPO ABRIL.

Um artigo da colunista Brenda Fucuta, no portal Universa, do UOL, fala sobre o fim do Grupo Abril.

Desde a década passada, o espólio do Grupo Abril, que viveu seu auge em 2006, anda encolhendo. Em janeiro último, seu parque gráfico na Marginal Tietê, aqui em São Paulo, foi fechado para pagamento de dívidas.

A empresa já tinha a franquia da Music Television, a MTV, que bem ou mal procurou, no seu auge, manter um perfil local próprio, procurando fazer do jovem brasileiro uma pessoa menos alienada.

Aos poucos, a Abril também cancelava outras franquias, como Playboy e Cosmopolitan (que aqui ganhou o nome de Nova) e jogava a Capricho e a Quatro Rodas apenas na Internet. E passava a Caras e a Contigo para uma outra editora, a Perfil Brasil.

Milhares de funcionários foram demitidos. Foi um grande "passaralho" (gíria do meio jornalístico para demissão em massa de jornalistas), como poucos na história do nosso país, e isso numa empresa que era considerada uma das maiores corporações de mídia da América Latina.

Brenda falava dos tempos saudosos das redações da Editora Abril, num tempo em que havia mais profissionalismo e dinamismo nas redações. Tinha lá suas tensões e seus problemas, mas a rotina dos jornalistas não deixava de ser empolgante e desafiadora.

Podemos até inferir que havia menos hidrofobia e mais jornalismo, e houve até espaço para uma publicação de caráter progressista, a Realidade, que lançou a novidade do Novo Jornalismo, uma linguagem romanceada dos fatos jornalísticos, semelhante a um diário pessoal.

Essa linguagem foi lançada por nomes como Tom Wolfe, Norman Mailer e Gay Talese, e dava um caráter mais humano a uma notícia. Foi uma grande transformação na forma de fazer jornalismo.

E aí eu tenho que observar. A decadência da Abril se deu depois que vários volumes da publicação Superinteressante - dedicada a fenômenos pitorescos e curiosidades diversas - dedicados a um suposto médium "espírita" foram reunidos em livro.

Uns parenteses que tenho que colocar é que ando falando muito mal do Espiritismo brasileiro porque segui a religião durante 28 anos e nada de bom ela trouxe para mim. E, por isso, alerto às pessoas para não cair na falácia do suposto "novo espiritualismo" que se vende enganosamente por aí.

O "médium", que é oficialmente considerado como "símbolo de amor e bondade", é o brasileiro que mais recebe passagem de pano em toda a História do Brasil. Até seus piores erros, como se envolver em fraudes "mediúnicas" e defender a ditadura militar, são abafados por argumentos risíveis.

O livro mostra aspectos controversos da vida do "médium", como a polêmica das "psicografias literárias", escândalo que virou o trampolim do arrivismo dele, assim como Jair Bolsonaro em seu plano de atentado em 1987. Em ambos os casos, a Justiça passou pano sem o menor escrúpulo.

A passagem de pano chegou ao ponto de achar possível que uma "inteligência artificial", o Deep Learning, pudesse garantir a "originalidade" e "autenticidade" de três pseudônimos "do além" usados pelo "médium",

Esses pseudônimos eram o Padre Manuel da Nóbrega, Humberto de Campos e um médico fictício do qual muitos discutem se foi Carlos Chagas, Oswaldo Cruz ou um dirigente do Flamengo (!).

O Deep Learning é uma ferramenta usada para produção do Deep Fake, e é claro que seu uso nas psicografakes não resolve o problema das fraudes.

Se, digitalmente, a IA aparentemente "identificou" diferença nos "estilos" dos três codinomes. Só que isso é um artifício que nada diz sobre autenticidade, até porque as diferenças eram forjadas. O "médium" tinha uma equipe editorial e consultores literários a seu serviço.

A historiadora Ana Lorym Soares tinha nas mãos a revelação desse esquema de fraudes "mediúnicas", mas preferiu passar pano em tudo isso.

A Superinteressante adotou uma narrativa da vida do "médium" que se destina ao leitor "isentão", esse medíocre protótipo humano com mania de meios-termos, mesmo que eles sejam meias-verdades ou um direitismo político travestido de "centro" ou "apolítico".

E aí vemos o quanto o livro sobre o "médium", encalhado várias vezes, persiste em ser vendido nas bancas de todo o país. Um de seus autores, Alexandre De Santi, foi para o Intercept Brasil e isso deve também ter contaminado o trabalho que este veiculo fazia contra a Operação Lava Jato.

Foi preciso a própria mídia venal admitir desidratar o mito de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol para que a OLJ fosse dissolvida, pois as "boas energias" do finado "médium" favorecem mais oportunistas como  Moro, Dallagnol e a família Bolsonaro.

Outro envolvido na Superinteressante é o insuspeito reaça Leandro Narloch, que virou historiador fake e hidrófobo com seus "guias politicamente corretos" da História do Brasil.

A Editora Abril pode ter sido conservadora, apoiadora da entrada do capital estrangeiro na mídia brasileira - hoje considerada ilegal - , se solidarizando com as Organizações Globo no caso Time-Life, que chegou a ter uma CPI em 1966.

A atuação de Veja, durante muito tempo, também é notória desse conservadorismo.

No entanto, a Editora Abril já viveu bons momentos e lançou muitas boas publicações, de revistas de todo tipo. Tentou disputar a concessão de um canal de TV nos anos 1970, e foi bem sucedida quando, nos anos 1990, franqueou a MTV.

Hoje temos uma outra MTV, sem muita autonomia brasileira (é subordinada diretamente à Viacom) e, quando muito, apenas é a sombra da MTV de reality shows que ocorreu no finalzinho da antiga MTV Brasil.

A Editora Abril também está leiloando seus bens e se desfez de prédios imponentes na capital paulista.

A antiga sede da editora foi comprada, por um valor de quase R$ 120 milhões, pelo grupo varejista de imóveis Marabraz.

Como o Espiritismo brasileiro, tido como a "doutrina do amor", acumula exemplos de tamanho mau agouro.

Recentemente, o ator Paulo Goulart Filho, de uma família de "espíritas" - seu pai participou de um filme sobre o tal "médium", o qual eu vi e, semanas depois, quase me envolvi numa encrenca pessoal - , teve sua página do Instagram invadida e os criminosos lhe exigindo US$ para recuperar a conta.

E o pessoal ainda pensando que essa religião é a esperança do Brasil. Que nada. O Espiritismo brasileiro despreza a vida na Terra, abraça a Teologia do Sofrimento e acha que só se deve sofrer para obter as tais "bênçãos eternas" que ninguém tem a coragem de dizer o que é (ou o que não é).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

INFANTILIZAÇÃO E ADULTIZAÇÃO

A sociedade brasileira vive uma situação estranha, sob todos os aspectos. Temos uma elite infantilizada, com pessoas de 18 a 25 anos mostrando um forte semblante infantil, diferente do que eu via há cerca de 45 anos, quando via pessoas de 22 anos que me pareciam “plenamente adultas”. É um cenário em que a infantilizada sociedade woke brasileira, que chega a definir os inócuos e tolos sucessos “Ilariê” e “Xibom Bom Bom” cono canções de protesto e define como “Bob Dylan da Central” o Odair José, na verdade o “Pat Boone dos Jardins”, apostar num idoso doente de 80 anos para conduzir o futuro do Brasil. A denúncia recente do influenciador e humorista Felca sobre a adultização de menores do ídolo do brega-funk Hytalo Santos, que foi preso enquanto planejava fugir do Brasil, é apenas uma pequena parte de um contexto muito complexo de um colapso etário muito grande. Isso inclui até mesmo uma geração de empresários e profissionais liberais que, cerca de duas décadas atrás, viraram os queridões...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

BRASIL QUER SER POTÊNCIA COM VIRALATISMO

A "CONQUISTA DO MUNDO" DO BRASIL COMO "POTÊNCIA" É APENAS EXPRESSÃO DE UMA ELITE QUE SE SENTE NO AUGE DO PODER, A BURGUESIA ILUSTRADA. A vitória de uma equipe de ginástica rítmica que se apresentou ao som da tenebrosa canção "Evidências", composição do bolsonarista José Augusto consagrada pela dupla canastrona Chitãozinho & Xororó, mostra o espírito do tempo de um Brasil que, um século depois, vive à sua maneira os "anos loucos" ( roaring twenties ) vividos pelos EUA nos anos 1920. É o contexto em que as redes sociais espalham o rumor de que o Brasil já se tornou "potência mundial" e se "encontra agora entre os países desenvolvidos", sinalizando a suposta decadência do império dos EUA. Essa narrativa, própria de um conto de fadas, já está iludindo muita gente boa e se compara ao mito da "nova classe média" do governo Dilma Rousseff. A histeria coletiva em torno do presidente Lula, que superestima o episódio do ta...

TEM BRASILEIRO INVESTINDO NO MITO MICHAEL JACKSON

Já prevenimos que o cantor Michael Jackson, que teria feito 67 anos ontem, virou um estranho fenômeno "em alta" no Brasil, como se tivesse sido "ressuscitado" em solo brasileiro. Na verdade, o finado ídolo pop virou um hype  tão sem imaginação que a lembrança do astro se dá somente a sucessos requentados, como "Beat It", "Billie Jean" e "Thriller". Na verdade, essa reabilitação do Rei do Pop, válida somente em território brasileiro, onde o cantor é supervalorizado ao extremo, a ponto de inventar qualidades puramente fake  - como alegar que ele foi roqueiro, pesquisador cultural, ateu, ativista político etc - , é uma armação bem articulada tramada pela Faria Lima, sempre empenhada em ditar os valores culturais que temos que assimilar. De repente Michael Jackson começou a "aparecer" em tudo, não como um fantasma assombrando os cidadãos, mas como um personagem enfiado tendenciosamente em qualquer contexto, como numa estratégia de...

A MIRAGEM DO PROTAGONISMO MUNDIAL BRASILEIRO

A BURGUESIA ILUSTRADA BRASILEIRA ACHA QUE JÁ CONQUISTOU O MUNDO. Podem anotar. Isso parece bastante impossível de ocorrer, mas toda a chance do Brasil virar protagonista mundial, e hoje o país tenta essa façanha testando a coadjuvância no antagonismo político a Donald Trump, será uma grande miragem. Sei que muita gente achará este aviso um “terrível absurdo”, me acusando de fazer fake news ou “ter falta de amor a Deus”, mas eu penso nos fatos. Não faço jornalismo Cinderela, não estou aqui para escrever coisas agradáveis. Jornalismo não é a arte de noticiar o desejado, mas o que está acontecendo. O Brasil não tem condições de virar um país desenvolvido. Conforme foi lembrado aqui, o nosso país passou por retrocessos socioculturais extremos durante seis décadas. Não serão os milagres dos investimentos, a prosperidade e a sustentabilidade na Economia que irão trazer uma cultura melhor e, num estalo, fazer nosso país ter padrões mais elevados do que os países escandinavos, por exemplo....

MICHAEL JACKSON: O “NOVO ÍDOLO” DA FARIA LIMA?

MICHAEL JACKSON EM SUA DERRADEIRA APARIÇÃO, EM 24 DE JUNHO DE 2009. O viralatismo cultural enrustido, aquele que ultrapassa os limites do noticiário político que carateriza o “jornalismo da OTAN” - corrente de compreensão político-cultural, fundamentada num “culturalismo sem cultura”, que contamina as esquerdas médias abduzidas pela mídia patronal - , tem desses milagres.  O que a Faria Lima planeja em seus escritórios em Pinheiros e Itaim Bibi (nada contra esses bairros, eu particularmente gosto deles em si, só não curto as ricas elites da grana farta) acaba, com uma logística publicitária engenhosa, fazendo valer não só nas areias do Recreio dos Bandeirantes, mas também nos redutos descolados de Recife, Fortaleza e até Macapá. Vide, por exemplo, a gíria “balada”, jargão de jovens ricos da Faria Lima para uma rodada de drogas alucinógenas. Pois a “novidade” trazida pelos farialimeiros que moldam o comportamento da sociedade brasileira através da burguesia ilustrada, é a “ressurrei...

MÚSICA BREGA-POPULARESCA É UM PRODUTO, UMA MERA MERCADORIA

PROPAGANDA ENGANOSA - EVENTO NO TEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO EXPLORA A FALSA SOFISTICAÇÃO DO CONSTRANGEDOR SUCESSO "EVIDÊNCIAS", COM CHITÃOZINHO & XORORÓ. O Brasil tem o cacoete de gourmetizar modismos e tendências comerciais, como se fossem a oitava maravilha do mundo. Só mesmo em nosso país os produtores e empresários do entretenimento, quando conseguem entender a gramática de um fenômeno pop dos EUA e o reproduzem aqui - como, por exemplo, o Rouge como imitação das Spice Girls e o Maurício Manieri como um arremedo fraco de Rick Astley - , posam de “descobridores da roda”, num narcisismo risível mas preocupantemente arrogante. Daí que há um estigma de que nosso Brasil a música comercial se acha no luxo de se passar por “anti-comercial” usando como desculpa a memória afetiva do público. Mas não vamos nos iludir com essa mentira muito bem construída e muito bem apoiada nas redes sociais. Você ouve, por exemplo, o “pagode romântico”, e acha tudo lindo e amigável. Ouv...

BEATITUDE VERGONHOSA… E ENVERGONHADA

A idolatria aos chamados “médiuns espíritas” - espécie de “sacerdotes” desse Catolicismo medieval redivivo que no Brasil tem o nome de Espiritismo - é um processo muito estranho. Uma beatitude rápida, de uns poucos minutos ou, se depender do caso, apenas um ou dois dias, manifesta nas redes sociais ou pelo impulso a algum evento da mídia empresarial, principalmente Globo e Folha, mas também refletindo em outros veículos amigos como Estadão, SBT, Band e Abril. Parece novela ruim esse culto à personalidade que blinda esses charlatães da fé dita “raciocinada” - uma ideia sem pé nem cabeça que pressupõe que dogmas religiosos teriam sido “avaliados, testados e aprovados” pela Ciência, por mais patéticos e sem lógica que esses dogmas sejam - , tamanho é o nível de fantasias e ilusões que cercam esses farsantes que exploram o sofrimento humano.  Os “médiuns” foram e são mil vezes mais traiçoeiros que os “bispos” neopentecostais, mas são absolvidos porque conseguem enganar todo mundo com u...

LULA VIROU O CANDIDATO DA ELITE “LEGAL” QUE CONTROLA AS REDES

JOVENS DESPERDIÇANDO SEU DIREITO DE ESCOLHA APOSTANDO NA "DEMOCRACIA DE UM HOMEM SÓ" DE LULA. Um levantamento do Índice Datrix dos Presidenciáveis divulgou dados de agosto último, apontando a liderança do presidente Lula no engajamento das redes sociais. Lula teve um aumento de 55% em relação a julho e ocupa o primeiro lugar, com 24,39 pontos. Já Michelle Bolsonaro, um dos nomes da direita brasileira, cai 53%< estando com 18,80 pontos. Ciro Gomes foi um dos que mais cresceram, indo do sexto para o segundo lugar (verificar os pontos). Lula tornou-se o candidato predileto da “nação Instagram/Tik Tok”. Virou o político preferido da elite “legal” que domina as narrativas nas redes sociais. E isso acontece num contexto bastante complicado em que uma parcela abastada da sociedade aposta em Lula como fiador de um desejo insano de dominar o mundo. Vemos começar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de envolvimento em um plano de golpe junto a outros militares. E te...

SOBRE A POLARIZAÇÃO ENTRE LULISTAS E BOLSONARISTAS

Sobre a polarização, tema a ser relembrado nas manifestações de hoje, Dia da Independência do Brasil, devemos refletir a respeito do lulismo. Os lulistas não admitem a hipótese de que Lula é o responsável pelo bolsonarismo. Em verdade, Lula não é mesmo, pelo menos por parte de seus propósitos, mas a atuação dele no poder, até em função da polarização que ele representa, acaba provocando a reação dos opositores mais radicais. Ou seja, Lula, estando no poder, sem querer acaba estimulando a reação bolsonarista. Lula não é extremista e seu esquerdismo, observando bem, é muito fraco e tão brando que não assusta a Faria Lima e nem representa rupturas com a ordem social vigente há pelo menos 50 anos. Mas, simbolicamente, Lula é um dos extremos na disputa por hegemonia no imaginário coletivo brasileiro, não podendo o presidente combater a polarização apostando num “Brasil de todos”, afinal ele é um dos polos dessa disputa, não uma força a existir fora da polarização. Isso é tão certo que, em t...