O portal Universo On Line divulgou um dado aberrante.
A revoltante tragédia de Moïse Kabagambe, imigrante congolês que vivia há pouco mais de oito anos no Brasil, poderia ter caído no esquecimento.
Por sorte, um pequeno protesto acabou influindo na divulgação do brutal assassinato, crime ocorrido em 24 de janeiro passado.
A manifestação, ocorrida no dia 29 de janeiro, se limitou a uns parentes de Moïse. Na época, o crime não repercutiu e até um texto em francês publicado no Facebook teve poucas visualizações.
Mas aí um congestionamento de veículos no local do protesto, a Avenida Lúcio Costa, diante do quiosque onde ocorreu a matança, chamou a atenção.
Era um grande congestionamento, que se estendeu até o Recreio dos Bandeirantes, e foi aí que se descobriu a respeito do covarde crime.
Moïse trabalhava no quiosque e foi falar com os donos do estabelecimento para pedir o pagamento de duas diárias atrasadas, cada uma de R$ 100.
Quem estava lá não gostou e, após uma suposta discussão, Moïse foi espancado até a morte, e, agonizante, teve o corpo amarrado e colocado no chão. O quiosque, situado no Posto 8, continuou funcionando normalmente, o que dá o tom do cinismo dos criminosos.
Estes - agora presos e identificados como Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove; Brendon Alexander Luz da Silva, o Totta; e Fábio Pirineus da Silva, o Belo - pediram para "não olhar" o corpo da vítima.
Somente há poucos dias os familiares de Moïse, que deveriam ser os primeiros a acompanhar o inquérito, conseguiram esse direito.
O terrível é que o nome do quiosque se chama Tropicália, o que significa que, além de ser uma ofensa ao movimento cultural brasileiro, o fato de ter havido um crime racista afronta o dado de que um dos tropicalistas, Gilberto Gil, é negro.
Gilberto Gil e Caetano Veloso ficaram entristecidos com o uso do nome Tropicália, e ambos respeitam e em parte divulgaram a cultura dos povos negros brasileiros.
Mas a cínica ironia não para por aí. O aplicativo de pagamento usado nas compras do quiosque é chamado AME. Indigno para um local onde homens rancorosos espancaram até a morte um pobre trabalhador e, depois, ainda mantiveram o local funcionando.
E como se não bastasse esse crime bárbaro, que destoa da rotina de um bairro aparentemente tranquilo que é a Barra da Tijuca, outro crime ocorreu, desta vez em São Gonçalo.
Ao voltar de carro a um condomínio em Colubandê, na madrugada do último dia 03 de fevereiro, o sargento Aurélio Alves Bezerra, ao ver o vizinho Durval Teófilo Filho se aproximando rapidamente, sacou um revólver e o matou.
Não bastasse a gravidade que um crime desses sempre mostra e o faz abominável, o que Aurélio parecia desprezar é que Durval era seu vizinho, e uma pessoa conhecida pela simpatia, pela alegria e por ser um bom amigo e bom pai de família.
Aurélio foi depois preso. O crime foi inicialmente definido como homicídio culposo, mas depois foi reclassificado de doloso, caso mais grave.
Moïse e Durval são apenas dois dos inúmeros negros que são mortos por qualquer motivo no Brasil.
Como se não bastassem os negros terem chegado aqui da pior forma, através de embarcações fétidas e desconfortáveis na condição de escravos, eles ainda são alvos de crimes violentos, sendo exterminados sem um pingo de piedade.
E ver que o crime que vitimou Moïse quase ficou ignorado pela chamada opinião pública é muito triste.
Com a divulgação do crime, os movimentos sociais fizeram sua parte e reagiram, protestando contra essa e outras covardias, que matam negros homens, mulheres, crianças.
É lamentável como existam pessoas tão atrasadas que são capazes de exterminar o outro por puro racismo. Isso deveria ter acabado faz tempo.
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