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EDITORIAL DO ESTADÃO SOBRE LULA FOI UMA PIADA?


Talvez o Lula decepcionante já estivesse se formando já em 2020 e eu nem saiba.

Em todo caso, o Lula de hoje está muito distante do Lula sindicalista, estando atualmente mais próximo de um pelego do que de um defensor das classes trabalhadoras.

Uma postagem de 2020, mas que ilustra a postura de hoje - e corroborada por um discurso para o empresariado em 2021 - , mostra que Lula não vai fazer muito para o proletariado brasileiro.

"Cuidar dos pobres é barato. Incluir o pobre no orçamento não custa nada. E ainda dá retorno. Enquanto o rico custa caro e ainda dá golpe", escreveu Lula no Twitter.

No discurso para empresários, ele ainda ironizou dizendo que "o rico é mal-agradecido".

Claro que nos governos anteriores Lula disse que essa visão "é dura" e que os pobres "tinham o que queriam".

Mas e hoje, com Geraldo Alckmin a tiracolo? Com o risco do programa de governo de Lula ser reduzido a uma tímida concessão social do projeto neoliberal de Fernando Henrique Cardoso (FHC)?

Como o pobre "custa barato" no orçamento? Será mantido o trabalho precarizado? Em que pontos a tal reforma trabalhista será mantida?

Exageros à parte, um editorial do último domingo do jornal O Estado de São Paulo - ironicamente, agora sou "vizinho" dele, situado a poucos quarteirões de onde moro - foi visto tanto pelo Brasil 247 quanto pelo Diário do Centro do Mundo como uma "peça humorística", uma comédia ou piada.


Com toda certeza, o texto investe naquele exagero reacionário que marca o Estadão como marcou o auge da revista Veja e os surtos reaças da Folha de São Paulo e de O Globo.

Por exemplo, a própria atitude de Lula diante da campanha pelo impeachment de Jair Bolsonaro deve ser interpretada com cautela.

De fato, o Partido dos Trabalhadores inicialmente não queria tirar Bolsonaro no poder, esperando que ele "se desgastasse". A esperança era "dar uma surra" no atual presidente da República na campanha presidencial de 2022.

Mas, depois, com a ameaça de Bolsonaro em realizar golpe, a partir do fechamento do Supremo Tribunal Federal, o PT passou a agir contra, com parlamentares assinando pedidos de impeachment.

Também é duvidoso alegar que Lula, sem Bolsonaro, teria dificuldades para ser eleito.

Embora as supostas pesquisas de intenção de voto garantam a Lula "vantagem sobre qualquer concorrente", Lula tem relativa facilidade de vencer as eleições, sem precisar se aliar com a direita gurmê.

Mas o Estadão está certo quando fala que o PT não quer debate. Infelizmente, Lula se acha o dono da parada, e ele têm que enfrentar outros concorrentes para vencer as eleições.

São as regras da democracia. É a natureza do debate. Ninguém pode dizer que Lula está com a corrida ganha, mesmo quando expectativas indicam isso.

Além do mais, soa estranha a conduta de Lula hoje, quando, no colo dos neoliberais, passa a ser queridinho da direita gurmê.

Um Lula que entrega aos aliados a elaboração de um programa de governo e de como a reforma trabalhista será "revista" (em vez de revogada).

Quer dizer, Lula quer debate onde não se deve e não quer onde se deve.

Ou seja, quer que um programa de governo seja resultado de supostas discussões que, embora pareçam "democráticas", sempre priorizam os interesses empresariais.

Vai ser tanta negociação que, para os trabalhadores, só vai restar esmolas. 

As esquerdas médias viram no editorial do Estadão uma "piada". Eu não considerei, embora também não concordasse com a natureza do artigo.

Mas não seria piada uma declaração de Lula para Dilma Rousseff a respeito de Geraldo Alckmin?

A de que Alckmin "vale uma missa", em nome da "governabilidade" e que "Alckmin é diferente de Temer"? 

Alckmin é PIOR do que Temer. Temer age de maneira malandra e traiçoeira, mas é mais tolerante.

Já Alckmin reprimiu com violência policial protestos de trabalhadores e estudantes, destruiu um bairro popular em São José dos Campos a pedido de um empresário corrupto e privatizou estatais estaduais.

Essencialmente, porém, não há como dizer que Alckmin é diferente de Temer. Ambos foram aliados do golpe de 2016 e atuaram juntos na preparação para a chegada de Jair Bolsonaro ao poder.

Agora Alckmin é o "novo amigo de infância" de Lula, apesar de ter sido rival do petista em 2006 e, em 2018, de ter festejado a sua prisão como "o fim da impunidade".

Lula não é um inimigo das esquerdas democráticas, mas ultimamente age de forma decepcionante para elas. Como um pelego.

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